Sem sentimentos

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Mia volta para o seu apartamento, não encontra mais o traficante, estava exausta e ainda mais por ter Gojo gritando no seu ouvido a noite inteira, como a pessoa mais insuportável do mundo, que não para de seguir ela nem quando chega em casa.

— Tem certeza que você vive aqui? eu acho que você confundiu com a casa de um rato de esgoto.
— Cale a boca, você deveria agradecer por eu deixar você subir.
— Oh obrigado senhorita, por me trazer no seu hotel 5 estrelas que fede a merda e cigarro - ele fala com nojo olhando em volta.

Ela joga suas coisas no chão, assim como o casaco, vai até a geladeira e pega uma cerveja de lata. Gojo observa todo o processo julgando com os olhos de deboche.

— Você quer? - ela fala alto.
— A cerveja ou mil doenças que vou contrair bebendo algo dessa geladeira?
— Você não vai parar de falar mal da minha casa?
— Não até você sair daqui. Mas eu aceito a cerveja.

Ela joga para ele que pega no ar. Eles bebem os dois enquanto se encaram.

— Bom eu estou em casa, você não vai embora?
— Não, você parece instável demais, se eu deixar você talvez comece a criar uma cobra ou quem sabe, tatuar a bunda, fumar cocaina...
— Como se você fosse um belo exemplo de vida saudável
— Eu posso ser o lixo que eu quiser, você não.
— Por que não?
— Por que essa não é você, A Mia vomitaria de ver um lugar desses.
— Meus pêsames, a Mia está morta.

Ela amassa a lata e joga no lixo, indo até o seu quarto e o deixando sozinho na cozinha. Ela vai até a sua parede e modifica algumas coisas, pensa que já que não tinha a informação do traficante tinha que conseguir outros meios, não poderia esperar até o sábado para encontrá-lo novamente, mas ela lembrava do seu rosto, e do homem que estava com ele, conhecendo ele e sabendo que era viciado, poderia ir lá todas as noites.

Os pensamentos confusos de Mia são interrompidos por Gojo que entra como se a casa fosse dele.

— Caralho, você andou ocupada ein - ele olha para a parede.
— Saia daqui.

Ela o empurra para fora, de volta a cozinha.

— Agora que vamos trabalhar juntos eu preciso saber os seus progressos.
— Não vamos trabalhar juntos. - ela diz empurrando suas costas.
— Okay... você só esquece que eu fui melhor amigo do Geto, e eu o matei. Sou a principal fonte de informação que você procura.
— Posso me virar sozinha.
— Claro, estou vendo perfeitamente que sim.

Ela suspira e se afasta dele. Senta no balcão da cozinha novamente e enterra a cabeça nas mãos.

— Você deveria descansar um pouco, você comeu hoje? - ele fala sério finalmente.
— Não, não estou com fome.
— Você não é de ferro, se você não cuidar disso, vai acabar tão fraca que nem conseguirá matar uma mosca quanto mais enfrentar bandidos - ele se aproxima aos poucos.

Ela o encara por longos minutos. Gojo estava muito bonito hoje, sem a venda ou os óculos, com uma camisa branca e um casaco preto por cima. Com aquele olhar simplório, quente e acolhedor que trazia Mia diferentes tipos de sensações.

— Por que eu se quer estou deixando você dialogar comigo?
— Por que eu sou irresistível, e você sabe disso.
— É... - ela ri - eu admito que você é gostoso pra caralho - ela diz mordendo o lábio de leve.

Gojo ri, não esperava aquele elogio dela já que estava tão na defensiva.

— Hm o que foi isso? algumas memórias voltaram para você?
— Não uma lembrança, só uma vontade, mas esqueça não tem graça.
— Por que?
— Eu adoraria transar com você agora mas, você tem muitos sentimentos aí dentro - ela diz.
— E o que isso quer dizer?
— Você transaria comigo apenas por prazer? deixando de lado o que você sente por mim.
— Você está se achando demais só por que eu disse aquilo. - Gojo encosta na outra parte da cómoda da cozinha próximo dela.

Ela o encara de cima a baixo o que o deixa nervoso. Para ela não havia problema nenhum, era até algo que ela mesma admitia que a instigava, que tinha desejo. Mas ela sabia de como ele se sentia sobre ela. Não sabe o que os dois viveram, não sabe o quão intenso foi, e o quanto o machucaria pois ela não tinha intenções de ficar ou voltar ao que quer que eles tivessem.

Ela se aproxima, já que era a vadia má da história, iria aproveitar todas as chances para ser 100% essa.

— Então você aguentaria? transar sem dizer eu te amo, sem beijo, sem nenhuma conexão - ela diz chegando muito próximo dele.
— Não, você está tentando bancar a mauzona que não tem sentimentos por ninguém. E você até pode estar certa sobre não ter por mim mas, eu sei que no fundo eu deixo você confusa.
— Claro que deixa, eu fico imaginando você nu na minha cabeça - ela diz sorrindo.

Gojo a encara, enquanto ela movimenta a sua cabeça analisando cada parte do seu rosto.

— Você deve ter um pau maravilhoso não é? - ela brinca movendo a língua sobre os dentes.
— Pare - ele sorri.

Ela se aproxima do pescoço e orelha mesmo ele ainda estando de braços cruzados.

— E esse corpo inteiro, eu estou imaginando tanta coisa agora que você ficaria chocado.

Gojo revira os olhos e se segura o máximo que consegue.

— Eu gostaria tanto de lembrar como é ter uma foda com você, tenho certeza que você leva a gente no céu e no inferno em segundos.
— É melhor você parar!
— Por que? - ela aproxima o seu lábio inferior do dele, quase se tocando.
— Não vou sustentar esse seu jogo sujo. - ele fala sério.
— Por que você me ama e não consegue me ver como a vadia suja que eu sou?
— Pare de se chamar assim. - ele franzi as sobrancelhas.
— Pare você de me chamar de princesa como se eu fosse uma deusa de uma moral inatingível. - ela empurra seu ombro com força.

Gojo entende aos poucos o seus planos. Mia tentava fazer ele sentir nojo dela, achar que aquela não era Mia, e por isso distorcer toda a imagem que tinha dela na sua cabeça.

— Eu sou uma vadia sim, suja, coberta de sangue, que mata por vingança, que não tem piedade de ninguém, que transa com quem quiser só pra satisfazer um prazer momentâneo que nunca vai passar. Eu sou podre e completamente diferente do que espera que eu seja.
— Eu não espero nada. E não importa o que você diga, você nunca vai me fazer pensar isso de você.

Ela fica com raiva, bufa por odiar aquelas palavras. Mia se odiava por tudo que aconteceu com ela, e não suportava alguém que a amasse por ser exatamente como era.

— Vai embora!

Ele concorda com a cabeça, vendo que o estado dela era pior do que ele imaginava. Ele percebe que era a hora de ir, mas não a deixaria como antes, não a deixaria nunca mais, até que ela relembrasse de quem era.

Sensei: Memórias | parte 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora