E se?

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A noite, depois daquele treino intensivo para recuperar ou relembrar Mia do que deveria saber fazer eles permanecem no carro, ainda na floresta, esperando Geto se manifestar sobre onde estaria Erwin, ou quando fariam uma troca.
Mia estava inquieta, tremia as pernas enquanto estava encostada em uma árvore do lado de fora. Pensava em tudo que poderia estar acontecendo com Erwin, e se culpava por ser a razão de tudo isso. Deixou se levar por uma ansiedade que consumia ela onde mal conseguia ouvir o que acontecia envolta dela.
Gojo preparava o carro para passarem a noite, empurrando os bancos e forrando com lençóis.
Ela logo volta para la e vê tudo arrumadinho.

— Gostou do nosso hotel 5 estrelas improvisado? - ele diz.
— Parece confortável - ela diz encostando.
— Você fica aí atrás, consegue deitar certo?
— Mas e você?
— Eu durmo sentado na frente
— O que? não, você nem vai conseguir é horrível.
— Já dormi em lugares piores acredite, agora chega de reclamar e vai logo, você precisa descansar.

Ela suspira e acaba aceitando, deita no banco de trás e Gojo sentado no da frente e as pernas estiradas sobre o do passageiro observa ela fechar os olhos olhando para o teto do carro.

— Vai ficar tudo bem - ele diz depois de um tempo.
— E se não ficar? e se ele...
— Não vai, não vou deixar que nada aconteça - ele diz observando la fora.

Ela abre os olhos e fixa nele, ah como ela queria lembrar dele, poder afirmar que sentia algo quando ele falava, mas na sua cabeça a única coisa que passava era "você acabou de conhecê-lo? como pode já dizer que sente algo por ele".

— E se ficar tudo bem?
— Como assim? - ele fala baixo e olha para ela.

Ela desvia o olhar nervosa, mas continua olhando para o teto.

— Quer dizer, se conseguimos, matar Geto e eles pararem de me perseguir, eu... eu voltarei pro Erwin? vamos casar? ter uma casa, filhos? - ela pergunta mais pra si mesma.
— É isso que você quer?
— Eu... Sim, quer dizer, não exatamente - ela confunde as palavras.
— Eu acredito que há muitas formas das coisas ficarem bem sem ser essa. - ele diz rindo de canto.
— Qual a seu final feliz? - ela levanta agora sem medo de o encarar e fica sentada no banco frente a frente com ele que olhava para trás.

Ele demora a responder, já que perde um pouco o seus olhos na proximidade que os dois tinham.

— Um dia inteiro em uma praia, dirigindo o meu porsche por aí, bebendo e comendo tudo que tenho direto, e quem também - ele ri e pisca.
— Eu quis dizer comigo - ela fala rindo - não comigo, mas, qual, a versão de ficar tudo bem
você vê dessa situação.
— Você complica bastante as coisas Mia - ele tenta virar-se.
— O que você quer que eu faça? você quer que eu volte? - ela diz seria.

Ele novamente não sabe o que responder, apenas vira para frente, sentia a pressão que era ter Mia de volta, ela questionava por que a obviamente estava sentindo algo, e queria saber se ele sentia também.

— Isso não sou eu quem escolhe, é você - ele diz agarrando o cobertor.
— Gojo...
— Mia. Você precisa decidir, você se conhece, embora parte esteja perdida, Ninguém escolherá por você. Se ama Erwin, continue isso, case com ele, não parece ser tão mal ter uma vida tão estável. - ele fala como se debochasse dessa vida.
— Mas eu quero encontrar, quero saber por que me apagaram, quem eu era, o que eu gostava, o que eu odiava, quem eu amei, quem eu odiei. Eu o amo mas, eu preciso me amar também.
— Então volta - ele vira de uma vez aproximando se do seu rosto.

Um desespero aparente no seu rosto deixa Mia desconfortável, Gojo estava prestes a explodir e ela sentia isso.

— Comigo... eu quero que... - ele tenta continuar.

De repente o telefone dele toca, e alto. Gojo ainda olhando no fundo dos olhos de Mia demora alguns segundos mas logo atende irritado por aquilo cortar todo o clima.

Alô?
— Passe para ela - A voz de Geto ecoa pelos ouvidos de Gojo.
— Geto escute, eu juro que quando te ver da próxima vez eu vou esfolar essa sua cara com toda a força que eu tenho dentro de mim.
— Beleza cowboy, passe para ela agora ou você sabe o que acontece.

Ele nervoso obedece, com raiva subindo pela suas veias.

Geto?
— Miazinha, que bom ouvir sua voz - ele diz descontraído - Sabe quem adorou também? - ouve se barulho de chute. Anda, fale com a sua vadiazinha.

Erwin grunhi de dor do outro lado da linha e Mia coloca uma das mãos na boca enquanto se desespera.

Deixe ele em paz Geto! ele não faz parte disso, ele não tem nada haver.
— Amanhã ao meio dia, em baixo da ponte do Brooklyn. Venha sozinha, qualquer sinal de Satoru ou qualquer outro, eu arranco a cabeça dele.
— Ok...
— Até amanhã, e lembre-se que eu tenho o controle da vida dele agora, qualquer detalhe fora do que eu estabeleci, ele morre.
— Não precisa se preocupar, eu me entregarei sem resistência.
— Adeus docinho, vejo você amanhã.

Ele desliga e Mia deita a cabeça sobre os joelhos, chorando.

— Mia
— Eu não vou deixar que nada aconteça com ele, por isso eu farei como estou dizendo. Eu vou me entregar - ela diz.
— Eu prometo que não deixarei nada acontecer com você, eu prometo.

Gojo após longos segundos a olhando percebe o que estava fazendo, percebia qual era a situação, não tinha mais nenhuma chance, mesmo que ela voltasse, estava claro, muito claro quem ela realmente amava ali, e Gojo pensa que a última pessoa séria ele.
Controla a sua explosão de emoções, e balança a cabeça rapidamente.

— Sobre a sua pergunta, você deveria ficar, você pode se amar aqui, ao lado dele. Esses dois anos não foram perfeitos pra você?
— Sim mas... - ela não entende a volta ao assunto.
— Então você já sabe o que escolher, vamos dormir agora - ele diz virando se novamente.

Mia não entende a sua mudança repentina, podia jurar que Gojo antes da ligação estava prestes a finalmente se abrir com ela e dizer o que sentia, ou que queria que ela fizesse. Mas se contém e não diz.
Os dois dormem cada um no seu cantinho, separados mas unidos por uma rede de pensamentos que se resumiam a uma única pergunta

"E se não fosse assim?"

Sensei: Memórias | parte 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora