8. THIRTY SECONDS TO CENTRO

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A hora de acordar nunca era um momento feliz para a família Cavalcanti. Nenhum deles era minimamente civilizado antes do café e, mesmo depois? Muito pouco melhorava, então foi um tanto surpreendente ver Ottaviano sorridente logo cedo.

Ele estava caminhando pela casa pela manhã, sem camisa, expondo um corpo ainda todo marcado pela conversa do dia anterior.

Aparentemente, para sua satisfação, não foi o único que decidiu não apagar as mensagens antes de dormir. Com certeza passaria alguns bons minutos olhando para a tinta marcando sua pele no espelho, antes de tomar banho.

Uma pena que as marcas iriam ter que sair, não iria se incomodar de ficarem durante o resto do dia.

Sua mãe observava tudo com bom humor, apreciando a visão rara do filho mais novo tão absurdamente relaxado, sendo a única que já estava ciente dos acontecimentos da noite anterior. Otto estava contente, apesar das inseguranças que não iriam sumir tão cedo. Um dos seus maiores pesares com a passagem dos anos era a consciência de que provavelmente nunca saberia se tinha manifestado ou não, uma carga que foi se tornando mais pronunciada com o tempo.

Descobrir que tinha uma alma gêmea, que eram praticamente vizinhos, estudavam no mesmo colégio e tendo total consciência de quão atraente sua cara metade era? Não poderia estar infeliz.

Enquanto se sentava na mesa, observava se divertindo horrivelmente com a cara dos irmãos tentando compreender o que estavam vendo, ainda grogues de sono. Saber que Fábio provavelmente faria um escândalo por não ter sido avisado ontem? Bônus.

Mariana foi a primeira a perceber o que estava acontecendo, seus olhos se abrindo em surpresa. Logo depois soltou um gritinho, se jogando em cima do irmão mais novo e o abraçando com força.

"Eu sabia, eu sabia que os genes da família eram bons demais pra tua alma gêmea não dar as caras!", exclamou em um dos seus raros momentos verdadeiramente afetivos. O primogênito demorou um pouco para entender a situação, mas começou a chorar copiosamente assim que a ficha caiu, se juntando ao abraço.

Talvez possa parecer uma reação exagerada, mas tendo em vista a raridade de um vínculo em corpo integral? Era algo inexistente, comum e amplamente estudado apenas em pessoas nascidas com malformações nos membros superiores, mas quase não existiam casos documentados no país fora destes, na última década.

Após a cena e o excesso de perguntas, o resto do ritual diário prosseguiu com um misto de normalidade e estranhamento, um pulso anormal de energia parecendo correr pelos cinco. Já estando vestido, tendo se lavado e (com uma certa tristeza) removendo a tinta no corpo, tomou um café entre perguntas e piadas, num nível de movimento incomum para uma família usualmente tão mergulhada na letargia matinal.

Ah, mas quanto Fábio? Ainda não estava sabendo, decidiu guardar a surpresa enquanto seus tios levavam os dois para a escola (revezavam com seus próprios pais, nessa tarefa). O silêncio de ambos foi comprado, aparentemente, com a ideia de fotos da cara do filho, na hora da revelação.

E foi ao pôr os pés dentro do CGE, vendo Carlos sentado num banco com a perna tremendo em um nervosismo palpável, que o último nó de insegurança se desfez no estômago de Ottaviano.

Se aproximou silencioso, ainda não tendo sido percebido, e aproximou seus lábios da bochecha do moreno, dando um beijo ali e arrastando o lábios de leve na região enquanto se afastava, mas não antes sem sussurrar para o indivíduo cujo cérebro visivelmente começou a emitir ruído branco assim que sentiu o beijo.

"A aula começa daqui a pouco, então conversamos mais tarde, ok?"

Quando se virou, a cara de Fábio estava impagável.

Traços na PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora