4. BIA AND THE DIAMONDS

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What a feeling!,...

Carlos grunhiu, esfregando a mão pelo cabelo que saltava em todas as direções imagináveis ao sair do beliche de cima em tempo recorde para desligar o despertador. De hoje não passava, ele ia mudar essa música.

"Já acordei, mainha", anunciou rouco de sono e indo cutucar a irmã sem esperar resposta, "Bora, Bia, bora."

A dita lhe respondeu com um som incompreensível, não que estivesse consciente o bastante para tentar decifrá-lo. Apenas pegou sua toalha e continuou em direção ao banheiro, só parando para abraçar a mãe porque ela estava em seu caminho.

Helena já estava de pé e acabado de fazer o café, como era o habitual, quando o filho lhe deu um abraço enquanto caminhava para descartar o filtro na lixeira, devolvendo-lhe um beijo na testa como era de praxe. O que não era comum (e sendo, precisamente, aquilo que lhe fez derrubar o filtro cheio de pó de café úmido e quente pelo espaço da sala-cozinha, fazendo uma sujeira infernal) foi o grito da filha.

Não que estivesse atenta à bagunça, na hora, visto que antes mesmo de processar o que foi dito já estava saltando em direção ao quarto junto com o filho mais velho.

"MÃE, CARLOS, VENHAM AQUI PELO AMOR DE DEUS!!!"

O rapaz se sentiu acordado em tempo recorde, voando junto com a mãe para o lado do beliche, onde sua irmã se encontrava sentada, palidez e descrença tomando suas feições.

"Que foi, Bia? O quê você está sentido?!" , perguntou enquanto segurava o rosto dela em suas mãos.

A jovem tremia, mas levantou o braço e mostrou aos dois o motivo de todo o escândalo:

I wish that you were here

Desenhado em seu braço direito, numa fonte muito bem planejada e com alguns detalhes artísticos ao redor das letras, lá estava o que aparentava ser uma tatuagem, mas não poderia ser.

Ana Beatriz olhou para o irmão com um misto de medo, esperança e um bocado de ansiedade.

"Carlos? Mãe? Eu não tô doida, tô? Isso é uma tatuagem, né? Uma tatuagem que eu não fiz."

O rapaz mais velho ficou travado, seus olhos se arregalaram ao dar um passo para trás, sentindo como se um balde de água fria tivesse sido jogado em si.

"M... Mainha, isso..." Carlos mal conseguia vocalizar seus pensamentos.

Se tudo o que você escrevia em sua pele aparecia na de sua alma gêmea, nada mais lógico que tatuagens também serem compartilhadas. Uma das mãos de Helena parou ali, acariciando a frase no braço da filha carinhosamente.

"Que tal você pegar uma caneta hidrográfica e escrever alguma coisa? Vou ligar pra escola e informar que nós três não vamos hoje."

Era senso comum que tatuagens eram transmitidas entre parceiros, mas o aparecimento durante a manifestação era relativamente mais raro, diante da restrição etária quase unificada entre os países do ocidente, que era bastante rígida.

Apenas indivíduos acima dos 17 anos, uma idade já distante da faixa usual de estabelecimento, poderiam se tatuar e todos maiores de idade sem uma alma gêmea abaixo dos 21 anos precisavam de uma avaliação psicológica antes de fazê-lo.

Afinal, por mais que seja um gesto bonito entre casais já estabelecidos, quão trágico seria cobrir a própria pele de tatuagens e não conseguir entrar em contato com uma possível alma gêmea por conta disso?

Essa restrição para maiores de idade tinha um bom número de críticos, pelos mais variados motivos, mas ainda era a lei.

Quando a mãe se afastou com o celular em mãos, a mente de Carlos voltou a funcionar, imaginando o choque que a garota mais nova deveria estar sentindo. Foi até sua mochila jogada no canto, pegando seu estojo antes de se sentar ao lado da irmã que tinha o olhar fixado na frase em seu braço.

Traços na PeleOnde histórias criam vida. Descubra agora