A Rainha

#18

"Se vocês me matarem tudo terminará?"

Lucifer olhou para ela imediatamente. Ele não podia acreditar que ela estava a ponderar algo assim. "Detetive..."

"Terminaria?" Ela volta a perguntar.

"Isso não faz sentido." Diz Maze tirando o casal do torpor. "Porque Deus quereria Chloe aqui se fosse para distribuir a Terra? Se fosse para terminar com tudo apenas a deixaria no inferno ou a levaria para o céu."

Lucifer volta a olhar entre elas. "Pois não faz sentido." Lucifer ponderou. "Tal como não fez sentido esse erro parvo da Chloe terminar no inferno." Lucifer diz. "E a profecia pode não ser o que pensamos, tem de haver alguma explicação. A não ser que o meu Pai queira terminar com a Terra, nada disso faz sentido."

"Então vamos esperar o quê? Que mais gente apareça morta e que os demónios me venham bater à porta?" Chloe pergunta meio desesperada. Era muita coisa para assimilar em apenas um dia. A cabeça dela parecia estar a ponto de explodir. Ela ainda tinha tantas perguntas principalmente sobre a relação que ela e Lucifer tinham afinal.

"Não... a Maze vai encontrá-los e saber o que está a acontecer. Deve ser uma rebelião ou algo assim. Já aconteceu antes e foi controlado." Diz Lucifer.

"Espero que vocês tenham razão e que consigam resolver isto." Diz Chloe. "Tenho de descansar." Ela diz levantando-se. "Boa noite..." Ela ponderou se deveria convidar Lucifer a ficar ou não, mas ele fazia sempre o que mais lhe convinha então ela nem se incomodou com isso.

~oOo~

Como qualquer mãe solteira Chloe acordou bastante cedo. Lucifer estava sentado no sofá também igualmente acordado. "Dormiste?" Chloe pergunta arrastando-se pela cozinha em busca de café.

"Não... também não preciso muito."

"Não tinhas de ficar aqui." Diz Chloe.

"Tinha... a Maze ainda não voltou e nunca se sabe que surpresas podem aparecer." Diz Lucifer juntando-se a ela.

Chloe ficou encostada na bancada sorvendo algum do café da chávena. Ela suspira deixando a chávena de lado. Eles deveriam conversar, resolver a tensão que os acompanhava e avançar novamente para aquele ambiente de serenidade.

"Sobre o que aconteceu no inferno e ontem... e toda a minha atitude... eu queria pedir desculpa." Ela diz.

"Desculpa? Não fizeste nada errado." Diz Lucifer.

"Eu fiz... fui distante e depois fui impulsiva sem saber toda a verdade."

"Eu fui o único a dizer tudo e desencadear as memórias... imagino que seja muito para um humano."

Ela concorda. "Onde isso nos deixa?"

"O quê?" Lucifer pergunta erguendo uma sobrancelha.

"O que eu sinto e o que tu sentes. Tudo o que isso significa." Chloe diz claramente. Ela queria que ele fosse claro. O coração doía pela opressão que ela colocava a cada dia. Era como ter a outra metade que lhe faltava à sua frente, mas era impossível alcançar.

Lucifer queria entrar de cabeça. Deixar aqueles sentimentos mistos sair... apenas dizer... deitar para fora. Como podia ser subtil o suficiente? Como se podia explicar? Era difícil para ele, principalmente depois de deixar o céu. A sua curiosidade era infinita tal como as suas perguntas e agora ele não sabia o que responder... pois nunca teve as respostas para o que estava a sentir. Já no inferno ele não podia mostrar fraqueza então tudo estava bem enterrado dentro do seu coração. Ele é o mal, o veneno que todos culpam. Algo tão mau não pode ter algo tão bom e mesmo assim ele é atraído para ela. Como uma mariposa para a luz.

"Eu não sei o que significa." Diz Lucifer, ele não mente, mas por dentro sabe que algo grande está mesmo à sua frente. Valeria a pena?

"Eu... acho que te amo Lucifer só queria saber se tu também ou é outra pessoa."

"Não há mais ninguém." Lucifer diz claramente sem dúvidas. Ele podia não saber ao certo o que sente, mas Chloe estava profundamente enraizada no seu ser. "Tu és especial Chloe. No inferno eu faria de ti a minha rainha, eu traria todos os demónios perante ti e não deixaria nada te tocar. Eu passei um bom tempo com as outras, foi agradável sentir esse desejo, mas era superficial. Uma simples futilidade para alcançar algo bastante básico. Contigo foi diferente desde o primeiro segundo."

"Então... tu não queres mais ninguém?" Chloe pergunta com insegurança.

"Porque quereria? Foi lazer Chloe... a Jane... bem eu só queria pensar noutra coisa que não fosses tu, mas mesmo com ela eu via o teu rosto." Diz Lucifer derrotado. "Depois do inferno mais nada fez sentido... só te quero junto a mim. Eu até aprendi a lidar com a prole."

Chloe sorri. "Ela gosta de ti."

"Claro que gosta... o que há para não gostar?" Diz Lucifer repentinamente. "Tu foste a única a repelir-me... a ver-me como eu sou." Diz suavemente.

"Tu és bom mesmo que não acredites nisso." Diz Chloe.

"Vês? Todos acham que sou mau, podre e a fonte de más ações e pecados... mas tu achas que eu sou bom."

"Como tu te vês Lucifer?" Chloe pergunta.

"Eu sou o diabo, Chloe."

Chloe aproxima-se dele e toca no seu peito. Alisa a camisa perfeita. "Tu não és o diabo para mim... não o que todos dizem. Eu não tenho medo de ti." Ela fica em bicos dos pés para alcanças os seus lábios. Um beijo breve, mas com significado. "Eu amo-te." Ela sussurra antes de deixar outro beijo mais demorado e apaixonado. Então ela afasta-se. "Mas eu tenho medo." Ela olha ele. Lucifer ainda parece em luta interna com tudo o que acabou de acontecer. "Se tudo for destruído, se os demónios invadirem a Terra, como podemos ser felizes?"

"Não podemos Chloe." Diz Lucifer.

"Não?" Chloe disse destroçada.

"A minha vida foi miserável até agora... o meu Pai dá-me coisas e depois tira-me tudo... é um castigo... Ele só vai partir o meu coração novamente e está a usar-te... um milagre." Lucifer parecia furioso, mas não se moveu.

Chloe queria lhe dizer para aproveitarem o tempo que têm agora, mas seria egoísta. Lucifer viveria a dor para o resto da sua vida eterna e ela viveria afastada no céu. Era como Romeu e Julieta... um amor impossível. Seria mais fácil se não vivessem essa felicidade, pois não sentiriam falta dela mais tarde.

Quando Lucifer se moveu foi para tocar o rosto dela. Eles olharam-se por breves segundos e Chloe sentiu-se como se não pertencesse ali. "É real?" Ela sussurro.

Ele apenas concordou antes de provar novamente os seus lábios num beijo de tirar o fôlego. Um beijo onde ele provou o café que ela bebeu minutos antes misturado com algo que era único nela. Aditivo e completamente viciante para Lucifer. "Sim." Ele sussurra ainda com a testa encostada na dela. Ambos com um sorriso tolo nos lábios.

Então ela afasta-se e olha para ele. "A culpa foi minha." Diz Chloe.

"O quê?"

"Se tivesse ficado no inferno... seria tua rainha e nada disto aconteceria na Terra. Todos ficariam seguros e nós podíamos ficar juntos." Ela diz com raiva de si mesma. "É culpa minha."

"A culpa não é tua Chloe. O meu Pai queria-te aqui de volta e que eu estivesse contigo... é parte do plano dele... somos apenas peões num jogo doentio."

"Um plano para ambos sofrermos?" Ela pergunta.

"Descobriremos em breve."