Capítulo 2

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Apertando minha pasta entre os dedos, eu caminhava pelos corredores silenciosos do prédio. Por já se passarem das cinco da tarde, não era uma surpresa que o bloco estivesse completamente vazio.

Era de conhecimento geral, para todos na Universidade, que o prédio de Artes era o mais barulhento e agitado entre todos os outros setores durante o período de aulas. Isso porque tínhamos os estúdios de dança e de música que constantemente eram usados para as aulas práticas, e nem sempre eram 100% acústicos. Tínhamos também os teatros e o estúdio de artes onde os alunos nunca ficavam parados em apenas um lugar e estavam sempre circulando pelas salas e corredores.

Contudo, depois da mudança de períodos neste ano, o prédio passou a ficar vazio depois do primeiro horário, já que não tínhamos aula durante a tarde ou à noite. Por termos todos os estúdios e anfiteatros liberados durante o resto do dia, muitos alunos aproveitavam desse tempo para estudar e praticar suas diferentes áreas, reservando um horário para usar os estúdios e passando boa parte do início da tarde trancados ali.

Eu particularmente nunca pensei que usaria um dos estúdios fora do horário de aulas, mas me vi obrigado a isso depois de não conseguir um minuto de paz com Taehyung em nosso dormitório.

Taehyung tinha uma forma única de me obrigar a fazer tudo aquilo que eu não queria fazer, mesmo que de maneira inconsciente.

Era engraçado a forma como a diferença entre esse prédio durante a manhã em relação aos outros horários era gritante. Chegava a soar errado estar andando por estes corredores tão vazios e tranquilos, quando eu sabia que eles eram o oposto disso nessa mesma manhã. Eu era até mesmo capaz de reparar em algumas coisas que não consegui ver durante a manhã, graças a correria.

Um exemplo das coisas que posso observar com mais atenção agora é o mural de avisos que fica em um dos corredores que dá para os estúdios de música no segundo andar. É normal que os murais se encham de avisos no início do ano letivo, lotados de inscrições para palestras, grupos e aulas extra-curriculares.

Me lembro de, no ano passado, ter me inscrito em pelo menos cinco palestras no começo do primeiro semestre. Entretanto, nesse ano, venho me sentindo tão desanimado com tudo relacionado a faculdade que nem me dei ao trabalho de ver quais eram as opções disponíveis.

Por não estar realmente com pressa para ir ao estúdio, eu decidi tirar um tempo para me aproximar do quadro de avisos e ver se algo ali poderia me interessar.

Me aproximei da parede onde o mural ficava pendurado e passei a ler algumas das listas e panfletos que tinham por ali. Não encontrei nada no quadro geral, que é onde ficavam anúncios para todas as áreas da universidade, mas um dos avisos no quadro dedicado apenas ao bloco de Artes acabou me chamando a atenção.

Havia um panfleto anunciando uma palestra que aconteceria na sexta-feira, ou melhor dizendo, amanhã. Pelo o que anunciava no panfleto, aquela palestra seria sobre o estímulo do processo criativo para os artistas das mais diversas áreas.

Preciso admitir que fiquei curioso em relação ao tema da palestra e levemente instigado a me inscrever. Ultimamente tenho sentido um bloqueio criativo absurdo, e isso tem atrapalhado até mesmo o meu desempenho acadêmico, considerando que no meu curso eu preciso constantemente usar meu lado criativo.

Um ótimo exemplo desse meu problema tem sido na produção do trabalho mais recente, em que eu precisava criar uma harmonização. Até alguns meses atrás eu teria feito esse trabalho no mesmo dia em que foi passado, porém, hoje em dia, eu ainda não dei nem mesmo o primeiro passo.

Entretanto, mesmo com toda a ajuda que essa palestra poderia me dar, eu não me senti tão tentado a fazer a minha inscrição. Afinal, o evento seria em uma sexta à noite e teria quatro horas de duração, e não existe nada pior do que um compromisso acadêmico em uma sexta-feira à noite.

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