Hiraeth, o conto dos exilados | JIKOOK | hiatus

[1] . Um alfa pede ajuda

 

              O vento forte batia contra a face do alfa anunciando que o inverno rigoroso pioraria naquela noite. Trajava seu uniforme militar; as calças que um dia foram de um tecido nobre estavam rasgadas e sujas de barro, a camisa era lisa e fina, mas por cima de seus ombros levava uma capa feita com a pele de um urso pardo -resultado de sua primeira caça,
ao se apresentar como alfa, e acima disso, um lúpus- enquanto em sua cintura, uma adaga valiosa escondia-se entre os tecidos.

Alfas por natureza eram feitos para serem guerreiros. Suportavam o mais terrível dos invernos sem roupa alguma,eram fortes como touros selvagens e possuíam a benção de se transmutar  em lobos gigantes. 

Mas este em questão ainda não era um alfa adulto, possuindo um pouco mais de 20 primaveras, seu cheiro ainda detinha o leve aroma de uvas selvagens, que eram bastante comuns na primavera farta de sua matilha, típico de seu clã mãe, Presa, onde carregava o sobrenome Jeon.

Respirou fundo observando o vapor que saia por entre seus lábios, tremia pelo frio e pela canseira; passara as últimas horas caminhando pela neve daquele vale e ao menos podia transmutar-se, já que a criança em seus braços ainda não possuía coordenação motora para agarrar-lhe as madeixas e equilibrar-se.

Um choramingo baixo foi escutado, e preocupado o jovem afasta a criança de seu peito onde a mantinha aquecida para checá-la.

— Shii ... No llores, cariño. Tu hermano está aquí contigo. No te pasará nada malo (Shii... Não chore, doce. Seu irmão está aqui contigo. Nada de ruim te acontecerá)—  observou os lábios levemente arroxeados e a pele pálida da filhote, sentindo as lágrimas chegarem aos seus olhos temendo não possuir calor o suficiente para aquecê-la ou que não houvesse um lugar próximo para se abrigar.

A criança choramingou mais um pouco, remexendo-se na manta de pele de cordeiro que a cobria, e ao alfa apenas restou-lhe a opção de  deixar seus feromônios mais fortes, confortando-a. A trouxe novamente para próximo do peito quando a filhote adormeceu e continuou seu trajeto pela mata densa, apenas tendo a luz da lua cheia como consolação. Iniciou então uma oração, enquanto sentia seu corpo ferido implorar por repouso — ❝A Maya, la madre de todos, le pido perdón. No he podido permitir que tal acto ocurra ... y te ruego, madre, toma mi alma en tu lugar. Pero déjame, por tu misericordia, encontrar al menos un refugio seguro para mi única familia, antes de que me rinda ...(Para Maya, a mãe de todos, eu oro por perdão. Eu não fui capaz de permitir que tal ato acontecesse... e eu imploro a você, mãe, leve minha alma em seu lugar. Mas deixe-me, por sua misericórdia, encontrar pelo menos um porto seguro para minha única família, antes de me render...)❞

🌙

A milhas de distância um uivo foi escutado. Ocorriam-lhe em noites de prata, quando a matilha se separava para acolher os exilados, esses geralmente sendo crianças ingênuas que acabara de passar pela primeira fase de maturação, revelando seus lobos interiores (ou a ausência dele, como os outros híbridos acreditavam ser os betas).

O uivo anunciava a caça, e trajando capas de peles para manterem-se aquecidos e armas letais, adentravam a mata densa, a fim de  amparar seus semelhantes.

— Preparem-se betas, o vento sussurra que algo excepcional ocorrerá hoje. — A voz de Namjoon, um dos lobos fundadores  range por todo o campo, chamando a atenção do restante da matilha. — Não  coloquem-se em perigo!  Lembre-se que muitos clãs enviam alfas para além de suas fronteiras a fim de dilacerar-nos! Acolham quantos puderem. Traga-os até nós. Mãe Maya os guiará.

Uma série de uivos foi escutado em resposta, e ao gesto do líder, os escolhidos para a caçada adentraram a floresta.

Ao canto, tentando passar despercebido, um beta de fios loiros arrumava seu arco nas costas infiltrando-se entre os mais velhos.