O conto da noite, adaga de ametista

1.7K 272 71
                                    

        — Pegue-a—

As mãos ensanguentadas com sangue inocente ofereceu a adaga forjada em prata e calejada com ametistas para si. Subiu o olhar lentamente e ousou o encarar nos olhos, era seu líder ali: Um ômega insano com aroma tão amargo quanto seu sorriso.

Não desviou o olhar ou moveu-se. Ainda estava com os joelhos contra o chão e as mãos amarradas com cordas espinhento. Aquele sádico estava brincando com a sua cara.

— Não me escutou? Venha, pegue-a. Eu estou lhe ordenando.

O guarda robusto atrás de si lhe empurrou contra o chão, fazendo sua testa bater contra o cimento. Mordeu os lábios segurando um resmungo dolorido, não lhes daria o gostinho de mostrar sua fraqueza. Ou assim pensou, pois após ter suas madeixas longas apanhadas pelo imperador, não conseguiu controlar o gemido de dor.

-- Olhe para mim, imundo-- O imperador manteve sua cabeça erguida pela nuca. --Eu ordenei que pegasse a merda da adaga, não me importa se es paralitico ou sem braços. Se eu ordenei, você obedece! Nem que tenha que se arrastar por esse chão sujo e apanha-la com a boca. -- Soltou violentamente o corpo do híbrido, ocasionando outro baque de sua cabeça contra o chão.

Uma dor latejante atingiu todo seu corpo, e ao tentar abrir os olhos, já não conseguia distinguir os outros híbridos, tudo transformou-se em borrão. Sentia a garganta seca e os músculos estralarem-se doloridos.

Não entendia como ainda estava vivo.


    A noite iniciou como tantas outras em lua de prata. As crias revelavam-se, os alfas uivavam para a lua e os ômegas recitavam cantigas antigas, a fim de agradar a deusa envolta da fogueira sagrada.

Toda a noite de lua de prata, Mãe Maya assumia sua forma humana para visitar suas criações. Assistia feliz e recebia mimos, mas desagradou-se com os sacrifícios.

"Meu coração chora... c-como puderam? Porque o fizeram?"

"Fizemos por ti mãe. Um sacrifício a fim de mostrar nosso amor e temor por ti."

"Achas que isso é amor?" lágrimas de sangue banhavam o rosto pálido da deusa. "O que esperas de mim?"

"Sua benção."

"Amor não é sinônimo de dor... Eu nunca faria algo assim com minhas criações, com meus filhos... com meu sangue" E sem dizer mais nada, sumiu sob o olhar do povo de Presa.

Alguns questionaram-se se haviam errado... afinal, apenas seguiram o que os monges, aqueles que acreditavam serem seres abençoados, os mais próximos da mãe ensinaram. Então porque a repreensão? Porque a decepção banhava seus olhos?

Mas a quem questionou, teve a cabeça decepada, e entre estes estavam o clã Jeon.

"Não seguireis as leis dos homens, e sim da minha criadora. Maya chorou sangue perante nós e nos permitiu refletir sobre nossas atitudes... Como eu ousaria contraria-la meu filho? Estou em paz comigo mesmo e sei que a encontrarei no paraíso." Foi as ultimas palavras do alfa, antes que seu corpo mutilado caísse contra o chão.

Depois dele veio a matriarca, e depois tantos outros. Quando chegou a vez do primogênito Jeon, no entanto, o imperador decidiu brincar. E bom, ali estava ele. Desfalecido sob o sangue de tantos outros. Aceitando que aquele seria seu fim, assim como fora de toda sua família.

... Ou quase toda.

Um choro baixo e sofrido soou rente ao seu ouvido. Era um choro que mexeu com seu lobo como nenhum outro. Trouxe seu lado mais irracional e protetor. Despertou teu lobo, um lúpus como jamais imaginou.

O choro pertencia a uma cria. Uma recém nascida. Sua irmã mais nova.


E ele soube que, não poderia desistir. Se não por si, por sua familiar.




Arrastou-se pelo chão, enquanto sentia seu corpo retorcer-se em meio a transmutação. As presas cresceram, rasgando sua gengiva e ferindo seu lábio inferior e sua visão finalmente voltou ao normal. A adrenalina subiu por suas veias e quando viu, já encontrava-se na forma de um lobo preto.

Os guardas tentaram lhe deter. Mas o que seria semi transformos contra um lúpus?

Em poucos minutos seu pelo já estava banhado com o sangue dos inimigos, e agora ele caminhava em direção ao imperador omega, que surpreso com a chacina que presenciara apenas correu para o alto do palanque. Em seus braços a recem nascida que não lhe pertencia, e na mão esquerda, a adaga de ametistas que pertecia ao clã Jeon.

--Não ouse se aproximar, imundo! Acha que tenho medo de você? -- Precionou a ponta da adaga contra a barriga desnuda da recém nascida. Que incomodada com o aroma amargo de none chorava em plenos pulmões.

O alfa parou em frente a sua ameaça e rosnou. Seu lado irracional estava no controle. Apenas a piedade de Maya poderia salvar o ômega naquele momento.

Foi quando um vento forte se aproximou carregando folhas e flores. Tomou uma forma semelhante a humana e carregoou a adaga para longe do imperador.

O ômega furioso distraiu -se por um estante, e nisso, o lúpus avançou contra si, arranhando a face alheia com suas garras afiadas.

Conseguiu recuperar a cria e transmitiu-se novamente em humano. O vento, teu aliado, lhe entregou a adaga, e com um pesar melancólico sobre os ombros, o alfa ousou olhar novamente para o ômega derrotado.

— És hora de partir, Lúpus. Não olhe para trás. — O vento sussurrou em seu ouvido.

E seguindo este, o jovem partiu ferido para dentro da floresta densa. Enfrentou a neve com a cria em seus braços, aguentou mesmo ferido por sua familiar e, quando cogitava desistir, clamava por sua mãe.



Atrás de si, o omega sentia o gosto amargo do rancor lhe dominar. Era quase tão sufocante quanto seu aroma, e aos poucos lhe nublou os pensamentos positivos:

—Se arrependerás alfa... e farei questão de matar a ti e a cria maldita.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Dec 20, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Hiraeth, o conto dos exilados  | JIKOOK | hiatus Onde histórias criam vida. Descubra agora