5. Parque molhado

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Arlin, Casa, 4h00.

É irônico dizer que não estou preocupado e ansioso com toda essa situação. Senti-me vivo e vibrante no boliche junto de Jeno, mas ainda assim estava receoso acerca de algo. Ou melhor, acerca de alguém.

Minha amizade com Renjun é uma das melhores que já tive, sendo sincero. Por ser novo não somente na escola mas em Arlin também, foi realmente necessário ter essa troca de afeto com alguém. Vovó e vovô quiseram se mudar para esta cidade minúscula por motivos relacionados a minha saúde mental. Eles têm a hipótese que se me afastarem da cidade grande, minha mente poderia finalmente descansar e quem sabe junto disso a ansiedade e nervosismo também diminuíssem.

Sinceramente, não achei que isso iria funcionar. Vovó sempre foi um tanto preocupada, especialmente quando descobriu que meu pai havia ido para o exército e falecido em combate. Nunca deixei esse ocorrido me atrapalhar, porém acredito que guardar a dor e sofrimento por tanto tempo trouxe consequências piores.

A morte da minha felicidade.

Fui diagnosticado com ansiedade e depressão aos meus 15 anos. Não fiquei surpreso, para falar a verdade, apenas achava meio impossível meu psicológico se deixar levar pela tristeza.

Achei que era forte.

Vovô e vovó ficaram espantados, completamente aflitos e alarmados. Tentei acalmá-los dizendo que com o tratamento tudo se resolveria — só que eu estava enganado. Muito enganado.

Coloco medicações em meu intestino todos os dias, nos mesmos horários e da mesma forma. Nenhum efeito. Eu estava prestes a desistir e aos poucos fui pulando minha agenda de remédios, uma vez ou outra deixando passar os horários propositalmente e esquecendo de tomá-los em definitivo, sendo eles importantes ou não.

Entretanto, em meu primeiro dia de aula, vi ele.

O menino das mechas descoloridas.

Não sei o que foi, mas senti uma espécie de alfinetada em meu rosto. Como se algo desligado tivesse se acionado pela primeira vez. Segui com aquela sensação pela metade da manhã, e ela se intensificava mais cada vez que olhava para o menino. Não era dor, incômodos ou algo relacionado aos meus problemas mentais.

Eram sentimentos.

O nome daquele indivíduo era desconhecido até o momento, mas sentia que já tínhamos conversado antes. Talvez em outra vida, outra época, outro mundo, outra galáxia. Ninguém nunca havia chamado tanto a minha atenção dessa forma. 

Naquele mesmo dia, na hora do intervalo, um menino de estatura menor que a minha se dirigiu a mim e se apresentou como Zhong Chenle. Batemos um papo leve e satisfatório, nada muito intenso ou vergonhoso. De repente, Chenle me convida para conhecer um amigo dele que, de acordo com Zhong, queria conversar comigo.

"Por que não?" pensei, logo assentindo e sendo levado pelo outro.

Andamos naquele longo e barulhento pátio, havia estudantes tendo relações íntimas onde todos poderiam ver. Chenle também comentou de um grupo de alunos que diariamente traziam materiais ilícitos e os usavam durante o intervalo.

Quando chegamos no lugar estipulado pelo menor — um banco simples de madeira — vi ele. O menino que tanto mexeu em meu corpo e mente.

— Renjun! — Chenle o chamou.

É esse o nome dele. Renjun.

— Ah, oi, Jaemin!

— Olá, Renjun. É um prazer conhecê-lo.

Visão (Des)Colorida | NorenminOnde histórias criam vida. Descubra agora