3. Menino do boliche

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Uma semana depois.

Arlin, Casa, 1h00.

Minhas pálpebras estavam pesadas e meu corpo todo doía. Mamãe sempre me disse que dormir muito tarde mata as células de nosso cérebro complexo, mas não consegui evitar ficar acordado, especificamente, hoje.

Não quando as imagens do azul impregnaram-se em minha mente como uma super-cola.

O passeio com Jaemin foi uma boa distração, no entanto, ainda assim, tinha a imagem nítida do céu daquele dia. As nuvens eram mais brilhosas, o vento parecia ser vivo e a cor da atmosfera era mais intensa do que imaginava. Como se ela estivesse tentando conversar comigo. Porém, se parasse para pensar, são apenas colorações comuns aos demais.

É estranho como as cores são apenas a luz sendo refletida em nossos olhos, contudo, elas trazem vida para um espaço.

As lixeiras coloridas ainda decoravam os corredores da escola. Recordo-me exatamente qual era o aspecto desta. Lembro do seu tom azul, tão parecido com o céu, mas ao mesmo tempo, extremamente diferente. E fitando o outro depósito que diz ser vermelho, seu pigmento ainda é escuro e esmarrido. Todavia, agora Jaemin a descreve para mim. Em sensações.

O Na disse que vermelho são as batidas do coração e o gosto metálico de sangue quando se lambe um machucado. Não consigo imaginar a coloração com exatidão, mas ter alguém me ajudando desta forma deixa-me feliz e agradecido.

O lençol da minha cama estava completamente amassado e molhado, provavelmente por causa do meu suor. Eu definitivamente não conseguia entender como foi possível ter a breve vista de como são as cores — ou melhor, apenas uma parte delas.

Meu pequeno caderno de anotações estava prestes a ter todas as suas folhas completamente preenchidas. Desde as primeiras horas da manhã, anoto a mesma pergunta a mim mesmo e ao ínfimo diário.

Como isso foi possível? Por que eu consegui, naquele dia em específico, ver o azul?

De repente, sinto meu corpo queimar. A agonia e aflição fizeram este entrar em chamas e uma dor no peito invadiu totalmente minha mente. Levanto-me da minha cama e olho para a luz do luar que estava cintilante e belíssima naquela noite em especial.

Mesmo contra a minha vontade e lutando pela turbulência que minha cabeça está fazendo o meu corpo experimentar, visto um casaco fino e calço minhas pantufas. Abro a janela do meu quarto e, silenciosamente, saio de meu aposento, indo para a rua — que no momento estava fria e silenciosa.

Inspiro o ar congelante e sinto todo o terror que minha anatomia sentia se esvair aos poucos, trazendo uma tranquilidade ao meu interior. Fito o céu. Preto como quase tudo que vejo em minha rotina.

Estava com certa dificuldade de enxergar para onde estava me dirigindo, já que vários postes estavam queimados e grande parte do que eu olhava era escuro ao nível de sequer poder identificar o que era. Uma vez ou outra escutava folhas se mexendo e frutos caindo das árvores, deduzi que seriam animais silvestres.

Porém, no piche daquela madrugada assustadora, consigo perceber um outro ser humano, logo adiante , na calçada contrária a minha. Sem me dar conta, aos poucos me aproximei do indivíduo e fiquei surpreso ao identificar quem era.

— Jaemin?

— Renjun? O que faz acordado a essa hora?

— Eu que lhe pergunto, você tem aula em menos de 6 horas!

— Assim como você também tem, engraçadinho.

Rimos da coincidência e passamos a andar juntos lado a lado. Nos primeiros minutos, não trocamos palavras, apenas escutamos nossos passos sincronizados no asfalto úmido de Arlin.

Visão (Des)Colorida | NorenminOnde histórias criam vida. Descubra agora