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-VIOLET VIENNA-

Eu nem lembrava qual era a sensação de acordar depois das onze, já que aos sábados, ou eu tenho que repor treino, ou a minha mãe me acorda com a sua persona de dona de casa. É um saco.

Mas não hoje. Hoje ninguém me acordou, e se não fosse pelo volume alto da televisão no andar de baixo, eu diria que estava sozinha. Seria bom demais para ser verdade.

Ouço alguns ruídos de reclamações na cozinha, acho eu, enquanto eu saio do quarto - com a ajuda de uma muleta -, em direção ao banheiro.

Depois de tentar me virar com uma mão só, e falhando um pouquinho, bufei ao saber que teria de chamar Payton para me ajudar a descer as escadas. Eu conseguia, é claro, não há nada que eu não possa fazer sem um pouco de esforço, mas apenas esse pouco esforço já era o suficiente para fazer os meus olhos lacrimejarem de dor.

─ Ia te chamar agora. ─ murmuro, vendo o mesmo subindo a escada de dois em dois degraus. ─ Não precisa esfregar na minha cara que você consegue, e eu não.

─ Não, eu não queria... ─ ele começa, exasperado, mas para quando percebe a minha expressão de deboche. ─ Você deveria trabalhar em um circo.

Faço um bico, lembrando do tempo em que eu queria ser trapezista em um circo bastante famoso na cidade.

─ Só me ajuda a descer a droga da escada! ─ rosno, vendo o seu sorrisinho de canto, o que tanto me irrita.

Hoje é terça, o primeiro dos sete dias que terei de aguentar todas as provocações - algumas vindas de mim -, todos os gritos e todas as piadas sem graça. Deus me dê paciência, porque se me dê força eu sou capaz de matar o Payton, enterrar o seu corpo no quintal e construir um gazebo em cima. Quem pegou a referência, pegou.

─ Fiz o café da manhã. ─ ele diz depois de me colocar no sofá.

─ Pensei ter sentido cheiro de queimado mesmo... ─ provoco, sem o olhar. ─ Sou alérgica a amendoim, aliás.

─ Não é não, só é enjoada. ─ ele diz, se aproximando com uma bandeja marrom.

Em cima dela tinha um copo com suco, dois sanduíches cortados ao meio em cima do prato e um potinho com geleia de morango ao lado.

─ Uau. ─ murmuro, olhando tudo. Ele sorri, orgulhoso. ─ Quanto isso vai me custar?

─ Bom, a primeira mordida é grátis. ─ ele ironiza, levando um tapa na coxa em seguida. ─ Não vai custar nada, bobona. Tô aqui pra ajudar, não pra tirar vantajem.

Ergo a sobrancelha ao ouvir suas palavras. Qual seria a vantajem?

Comi em silêncio, assistindo ao desenho animado que passava na televisão, sem deixar de pensar, agora mesmo, eu deveria estar saindo da sala de aula e indo direto para o refeitório. Ficar em casa é muito agonizante para quem já acostumou a estar fora o dia todo.

─ A sua amiga passou aqui mais cedo. ─ ele diz, provavelmente se lembrando agora. ─ Ela entregou umas coisas suas que ficaram na escola ontem e disse que depois do treino ela vai passar aqui pra te ver. Todos os dias.

─ Sozinha? ─ pergunto.

Eu e Mads somos amigas desde que eu me mudei, há seis anos. Nailea chegou por último, no começo do ano passado, e ainda tem alguns problemas em se entregar muito na nossa amizade, por isso, ela é a mais distante de nós, mas por escolha própria.

✓┊𝗠𝗢𝗠'𝗦 𝗕𝗢𝗬𝗙𝗥𝗜𝗘𝗡𝗗 ↯ Payton MoormeierOnde histórias criam vida. Descubra agora