𝐋𝐎𝐕𝐈𝐍𝐆 𝐈𝐍 𝐖𝐑𝐈𝐓𝐄𝐍 , bakugou katsuki.

❛ 𝗗𝗲𝘇𝗼𝗶𝘁𝗼 ❜

Tw: menção a suicídio e automutilação, se você é sensível a esse tipo de conteúdo não leia!

Revirando mais uma vez de um lado para o outro, murmurios estranhos e burburios se apossando de cada poro em seu corpo, o peso de si própria lentamente sendo um grande incômodo na cama, os olhos fechando e depois se abrindo a cada dois minutos quebrando o ciclo do sono que já não era algo do qual ela poderia ter muito controle, o suor frio, a falta de ar e a vontade inteira de sumir entre aquele edredom e a cama, era isso, mais uma crise atrapalhando o pouco sono que ela ainda conseguia manter desde que veio para a casa dos Bakugou.

Sem mais nem menos [nome] se levantou, arrancando a fronha que lhe cobria e caminhou a passos pesados até o banheiro, abrindo as gavetas e portas, nada de medicamentos ou objetos cortantes ali, todos bem guardados com os mais velhos da casa, num ofego forte ela encarou o espelho, mal se enxergava direito pelo borrão confuso das íris, apenas uma sombra escura envolta do corpo que a deixava em pânico total.

Ela abriu a torneira, naquele horário a água estaria gelada o suficiente para acalmar o formigamento das cicatrizes já fechadas na qual ela passava rápido as pontas dos dedos mas não adiantou, mordeu firme e forte a mão úmida, mordeu a outra, nada adiantava, as unhas raspando a pele pouco a pouco para criar uma ferida forte o suficiente, e nada! Nada! Nada! Nada adiantava!

O peito já subia e decsia consideravelmente, ela se sentia cada vez mais sufocada com o ar que inalava fazendo decser as escadas em direção a porta, era isso, talvez ar fresco sem ninguém a observando seria o suficiente? Não, ela não poderia fazer aquilo com a familia que a acolheu, seria crueldade demais.

A cabeça rodava por todo o canto, não tinha vozes nem mesmo aquela da sua consciência, apenas silêncio! Ah esse silencio era o pior, não havia cigarras ou grilos, nem mesmo o vento batendo sobre a janela, nem mesmo os assoalhos ou o teto lhe dando alguns sustos cotidianos durante a noite, não havia nada que abafasse o grito sufocante do seu peito.

Entrou na cozinha no escuro mesmo, apenas a lua iluminando a pia e o espaço da porta de vidro que dava sobre a varanda, pegou um copo d'água a boca estava seca demais, mais um copo quase se engasgando, o único barulho naquela imensidão do silêncio era demais, tudo era demais.

Algumas lágrimas caiam enquanto soluços mudos eram soltos pouco a pouco, estava caindo de novo naquele limbo escuro sem um pingo sequer de esperança, mas ela não podia ela tinha que estar bem então porque não estava conseguindo se controlar?

Foi então que um brilho reluziu do lado da pia, a faca grande que Masaru usou para cortar o frango de padaria que havera comprado no açougue, era um costume dos Bakugou fazerem um bom almoço de domingo, seja com parentes ou amigos como foi mais cedo, todos estavam tão felizes.

— Não quero estragar a vida de ninguém... - ela murmurou segurando a pelo cabo e puxando num movimento calmo analisando sua lâmina, pressionando o indicador levemente um pequeno corte foi feito vendo o filete fino de sangue escorrer e respingar no pijama de cor clara.

Era isso, um corte firme e rápido sem lhe dar trabalho! Sua cabeca ainda martelava como se tentasse se auto proteger mas não era possivel escutar aquela voz tentando salvar sua vida.

Com a lâmina sobreposta no pescoço ela suspirou fundo, apenas um puxão e tudo estava acabado, então porque tremia tanto? Aquilo deu um leve corte que a incomodou muito, era estranho parecia por um instante que havia "desaprendido" aquilo mas não importava, com bagunça ou sem ela puxaria aquilo, ate a luz da cozinha acender atrás dela.

— [nome]? - Katsuki resmungou trajado com uma regata preta e uma calça moletom da mesma cor — O que 'tá fazendo acordada? - o tom manso dele lhe deu um estalo fazendo ouvir algo ao seu redor

Mais lágrimas caiam enquanto pouco a pouco a lâmina decsia do pescoço e pousava ao lado do corpo já deixando o garoto em alerta mas não fazendo nenhum movimento brusco, ela virou lentamente e por fim o encarou nos olhos vermelhos como se tivesse cometido o pior dos crimes.

Katsuki não tinha palavras certas pra dizer naquele momento, então caminhou a passos leves sem deixar de encará-la nos olhos, segurando a mão na qual ela segurava o objeto cortante e soltou sem muito esforco vindo dela a guardando num lugar mais alto que a mesma, segurando o rosto dela com cuidado esperando que pudesse dizer algo.

— Desculpa... - ela murmurou o segurando pela regata — Me desculpa, me desculpa, me desculpa... - mais soluços e agora um choro alto enquanto afundava seu rosto sobre o peito dele descarregando tudo aquilo novamente, tudo parecia doer infinitamente a mais do que antes, tudo parecia ser mais intenso que antes, tudo agora era mais vivo que antes.

Mesmo não notando, uma lágrima escorreu do rosto dele, enquanto praticamente se acomodavam forçadamente no chão, nenhuma palavra ainda fora dita, e nem era necessário, tudo já era dito com o choro abafado dela, uma mão pousou sobre a cabeça dela em sinal de consolo enquanto sua mente ainda processava o que acabou de acontecer.

Quando ela cessou o choro, apenas se ouviam suas respirações, nem ele nem ela sabiam exatamente o que falar ou fazer então o melhor que podiam era continuarem juntos sentindo o calor um do outro, aquele calor era o que mantinha a cabeça de [nome] sã e focada.

— Vem. - ele murmurou se levantando com ela em seu enlaço enquanto suspirava, [nome] não se opôs num segundo sequer sendo levada de volta até seu quarto e colocada na cama, mas quando pensou que ele iria pegar seu violão ele apenas deu a volta na cama e se comodou o peitoral colado em suas costas e os braços enrolados em sua cintura — Nada de ruim vai acontecer, eu prometo.

Um suspiro aliviado saiu dos labios dela, fechando lentamente os olhos ao ouvir a sua respiração tranquila, era o peso que ainda a mantinha firme entre os lençóis e o único que poderia mantê-la focada em melhorar.

Notas

Cara

Eu posso dizer que foi um dos capítulos mais difíceis de ter escrito pra mim, ele me faz relembrar algumas coisas que...ainda estão bem machucadas mesmo estando no passado

Mas também me ajuda a lembrar que nem eu nem você estamos sozinhos, como eu gosto de dizer que aqui vocês sempre serão acolhidos e por favor

Se você está tendo esses pensamentos procure ajuda! Você não é um fardo não é um peso pra ninguém você é amado e valorizado por mim então busque ajuda, apesar dessa nuvem escura, acima dela tem um céu infinitamente azul pra você contemplar :)

Eu amo você e desejo que seja muito feliz <3

Se cuidem e até a próxima att