14-A familia Chun

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Grant Park ,Chicago.
Agosto de 1968

Ga-eul sentia uma sensação estranha enquanto as moléculas de seu corpo se ajustavam

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Ga-eul sentia uma sensação estranha enquanto as moléculas de seu corpo se ajustavam.
O alívio durou apenas alguns segundos antes de uma dor terrível nos olhos e garganta por estar em um local em que havia um gás quase letal.

Ela tateava o ar enquanto andava às cegas por meio de gritarias, pessoas correndo, sendo espancadas e presas.
Andou e andou até que escutou o barulho de um carro freando às pressas em sua frente.

Sentiu uma pessoa se aproximar e colocar uma toalha molhada por cima dela.

— Oh por favor,deixe-me ajudá-la. — falou uma voz feminina suave, que ela quase reconhecia.

Sem poder fazer mais nada, ela aceitou ser guiada pela pessoa, que a tirou do meio fio e a colocou com cuidado em um carro, até a moça estacionar em algum lugar e a guiou até  chegar a um local, que ela julgou como uma loja, daquelas que se abre a porta e um sininho sinaliza a chegada de alguém.

Enquanto a moça a guiava, alguém de dentro da loja lhe entregou algo nas mãos, que ela aceitou sem questionar. Julgando ser os fundos da loja, a moça a colocou em um lugar que ela achou mais apertado.

— Aqui é o banheiro. Em suas mãos estão roupas limpas. — a voz suave da moça lhe tranquilizava de alguma forma, mesmo que seus pulmões ainda quase gritassem de dor.  — Aqui é a banheira. Quando terminar o banho, já estará melhor, portanto venha nos encontrar.

Ga-eul sentiu a porcelana fria da banheira e esperou até a moça sair de lá, fechando a porta de leve, para então, retirar as roupas devagar, sem perder o equilíbrio. Muitas coisas se passavam em sua cabeça e enquanto ela estava submersa, tudo estava em silêncio, mesmo que somente por alguns segundos. Ela desfrutou do banho e aos poucos sua visão foi voltando ao normal e seu corpo não estava mais ardendo em chamas internamente.

Antes de sair daquele pequeno banheiro com uma banheira cujas torneiras estavam um pouco enferrujadas, ela se olhou no espelho e ajeitou seu cabelo da melhor maneira que pôde, afinal ela queria estar apresentável para agredecer aqueles estranhos.

Ela abriu a porta e se deparou com os fundos de uma livraria, com caixas lacradas e outras abertas contendo livros esperando para serem colocados nas prateleiras. Ao mesmo tempo que ela se aproximava da entrada através de um corredor,  um cheiro de livro novo com chá se aproximava cada vez mais.

Ao se aproximar, ela viu as três pessoas que a salvou : uma mulher  que estava colocando alguns livros na prateleira, um homem que a ajudava, pegando os livros da caixa e entregando a ela e um outro homem, que estava sentado em uma escada, próximo aos dois, bebendo um chá de camomila em uma pequena  xícara de porcelana com detalhes de arabescos azuis na borda.

Ga-eul se prontificou a se curvar e colocar as mãos e braços ao lado do corpo, uma forma de se desculpar ou agradecer em sua cultura, a julgar que todos também eram coreanos.

— Muito obrigada. Eu serei extremamente grata pelo que fizeram por mim hoje. Não tenho dinheiro para oferecer em troca, mas farei de tudo para lhes ajudar. Tenho uma dívida eterna com vocês. — suas costas estavam cada vez mais doloridas naquela posição.

— Ora menina, não se preocupe. Em vez disso, venha nos ajudar aqui, já que meu irmão não está cooperando. — O homem perto da caixa abriu um sorriso ao saber que teria mais alguém para ajudar.

Nada e nem nenhum momento de sua vida a preparou para isso, o que chegou mais perto foi tê -los visto na lanchonete do Charlie

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Nada e nem nenhum momento de sua vida a preparou para isso, o que chegou mais perto foi tê -los visto na lanchonete do Charlie. O que para ela, teria sido apenas algumas horas, para eles foram anos, mais precisamente seis anos.  Ga-eul viu de perto o rosto de seus salvadores e ao se aproximar, segurou o choro mais forte que conseguia ao saber que eram seus pais e seu tio.

Sua mãe, agora com 23 anos, tinha cabelos na altura do ombro, mas continuava com uma fita em seus cabelos amarrada no topo da cabeça , vestia uma calça boca de sino de cor caqui e uma blusa florida.  Já seu tio, tinha um bigode horrososo e cheio de falhas e estava vestindo uma blusa social branca com uma gravata azul, mas em vez de calças, usava uma bermuda de linho preta. Seu pai vestia-se parecido com sua mãe, como se vestissem roupas iguais, para sinalizarem que eram um casal, de calça caqui  e blusa da mesma cor que as rosas da blusa dela.

Depois que seu cérebro processou que eram seus pais, mas eles não sabiam disso, ela se acalmou um pouco e deu uma olhada em suas próprias vestes. Ga estava usando uma calça boca de sino de cor rosa claro e uma blusa branca com uma margarida bordada no peito.

Depois de seu momento de introspecção, ela voltou para a realidade através da pergunta de seu pai.

— Está tudo bem? Sugeri que nos ajudasse, mas você ficou nos encarando tempo suficiente para ficar bastante estranho. — ele olhava confuso para ela.

— Me perdoem, ainda estou um pouco...

—  Kang-Jeun!!! Não seja tão duro com ela, claramente ainda está em choque... — Yoon Park, o tio, deu a última golada no chá antes de prosseguir. — ...além do mais, acabei meu chá, posso ajudar.

— Foi muita crueldade dos policiais,  estávamos lutando com o que podíamos, mas jogar gás em nós? — disse Hye-young bastante zangada.

— Vocês estavam lá? — perguntou Ga-eul abismada. Nunca soube que seus pais participaram de algo assim.

— Eu estava! Mas por sorte, tinha ido ao carro pegar mais alguns cartazes quando vi de longe aquela crueldade. — respondeu a mãe.

— Humpf. Acredito que há jeitos melhores para reivindicar seus direitos. Vocês com certeza sabiam onde estavam se metendo. —falou o tio, internamente com inveja da coragem do casal.

— Você não quer acabar com tudo isso? Essa guerra no Vietnã não nos leva a nada. Precisamos dos jovens aqui, construindo um futuro melhor para este país.  Além do mais, conseguimos direitos indo a luta , não aceitando as injustiças. — respondeu o pai.

Antes que o tio pudesse refutar mais uma vez, uma pessoa entrou no local, sinalizada pelo sininho. Era um jovem de cabelos levemente desgrenhados, de mais ou menos 20 anos e empurrava uma cadeira de rodas com um senhor de idade, ambos com olheiras profundas e rostos de aparência cansada.

Quando o mais jovem olhou ao redor e seus olhos pararam em Ga-eul, sua expressão foi de surpresa e alívio.

— Senhorita Chun! Finalmente a encontramos Francis. — Ele se inclinou um pouco para falar com o senhor, que também se mostrou aliviado.

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