Capítulo 11 - FINAL - Parte 2

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Atirei as flores negras no lago. Coloquei as mãos na grama úmida, e engatinhei até elas com o tórax queimando de agonia. Eu precisava confirmar e ao mesmo tempo, necessitava correr. Fugir dali. Da sombra, da viagem, do meu aniversário, do destino, de tudo.

Mas eu sabia que seria inútil. Aonde quer que estivesse, a sombra estaria comigo, e levaria qualquer um que ousasse permanecer ao meu lado.

Arrastei o jeans pela grama, os músculos das pernas se recusavam a ficar de pé. Os braços tremiam. Cheguei a margem e cobri a boca. O rosto pálido das duas, a expressão de terror nos olhos arregalados, e o corpo rígido. Como duas bonecas boiando na água.

Minha mãe e minha irmã, estavam mortas. Mortas!

Caí sentada com lágrimas turvando a visão. Abracei os joelhos e me sacudi para frente e para trás. Os pensamentos incapazes de seguir qualquer raciocínio coerente.

Por que isso está acontecendo?

Por que elas, e não eu?

Os batimentos aceleraram frenéticos, eu respirava com esforço. Desejava apenas mergulhar naquele lago, e me unir a elas. Deixar a sombra maldita sem o que tanto buscava. A raiva, a impotência e o desespero me despertavam o desejo de matar o que quer que fosse aquilo que me perseguia.

Só sobramos meu pai e eu. E se já o tivesse levado também?

Funguei e enxuguei as lágrimas que escorriam como cachoeira. Levantei e gritei com todo o fôlego guardado nos pulmões:

-       Por que não aparece de uma vez?  Covarde! Termine com isso agora!

   As árvores farfalharam com o vento. A brisa fria esfriava a minha bochecha úmida. Nenhuma resposta. Mas eu sentia a sombra à espreita. Rindo da dor me dilacerando por dentro. Rindo da armadilha que devia ter planejado.

Fitei o lago outra vez. Vê-las naquele estado, despertou algo maior do que o ódio. Dessa vez, eu me vingaria. E se eu morresse, ao menos não seria em vão.

“Acha mesmo, garotinha? Pensa que é forte o bastante para se livrar de mim?”

Reconheci a voz serpenteando em meus ouvidos. O covarde ria. Como uma cobra sibilando.

-       Se é tão poderoso assim, por que não aparece?

“Não cederei as vontades de uma garotinha. Escute bem, hoje às 23:30, esperarei por você em Los Angeles. Na entrada do Griffith Park. Entregue-se a mim e cumpra o seu destino, ou todas as pessoas que já amou em sua vida, morrerão.”

O toque gelado da sombra maldita correu por debaixo das minhas veias. Eu iria de encontro a própria morte. Sem escapatória. Sem chance de voltar atrás. Sem saber o que faria comigo quando chegasse lá. Um arrepio doloroso de puro medo, percorreu meus poros.

“Olhe para o lago, garotinha.”

Obedeci antes de responder. Arfei ao vê-lo vazio. Apenas as flores negras flutuavam na água.

“Elas ainda não morreram. Essa noite, você é quem decide, garotinha. Se não aparecer as 23:30, vou pegar um por um, até não sobrar ninguém.”

A voz desapareceu. Pisquei várias vezes enquanto observava o lago sem mover um músculo. Era só uma amostra então. Uma demonstração doentia do que ele faria caso eu não cumprisse com o combinado. Não havia escolha a ser feita. Não existia outra opção.

As 23:30 eu me entregaria a sombra, e me despediria dessa vida. Jamais viveria em paz com a culpa se algo acontecesse a minha família. Pensei em Ben, e Amanda. Até meus melhores amigos poderiam sair feridos, ou pior, mortos.

A Sombra (Completo)Where stories live. Discover now