Gritamos, fugimos, dançamos
Olhei por sobre os ombros e o senhor sorria de um jeito alucinado. Fitei o banco do carro e a marcha. Nenhum objeto que eu pudesse usar ao meu favor.
Ele apertava meus pulsos para trás. Perfeitamente recuperado da asma forjada. Eu havia de fato caído em uma armadilha. Torci os braços tentando me livrar e senti algo ainda pior tocar minha pele. Meu perto disparou com força.
O senhor absurdamente forte para sua idade, passava algo entre meus pulsos e pela textura, deduzi que fosse uma corda.
- Me solta! Soco...
Ele cobriu minha boca com a mão.
- Shhh. Não adianta gritar. Você finalmente é minha.
A voz dele trouxe um calafrio doloroso que percorreu minha coluna. Senti o mesmomto que gelado de meus outros aniversários. Aquele pressentimento sufocante de que algo horrível estava prestes a acontecer.
Continuei lutando para me libertar mas ele era forte demais. Torci para que meus pais voltassem e me vissem ali, mas o Palace of fine arts poderia levar horas para ser percorrido. E meu celular estava no bolso da calça. Fora do meu alcance.
Ouvi o senhor abrir o porta luva e de relance o vi tirar um chumaço grande de algodão e uma embalagem de vidro. Ele abriu a tampa e mesmo a distância inalei um aroma forte. Eu não podia deixar ele encostar aquilo em mim. Poderia ser algum veneno ou uma substância para me apagar.
Minhas entranhas se reviraram. Com os pulsos amarrados eu não poderia fazer nada. Ele enterrou os dedos em minha nuca e me obrigou a erguer a cabeça com um puxão.
Girei o rosto para o lado e gritei. O algodão umedecido estava a centímetros de mim. Eu não podia inalar aquilo. Não podia.
De repente ouvi aquela voz. Perto. Bem perto. Como se falasse dentro dos meus pensamentos.
"Se entregue Liza. Você nasceu para ser minha."
Enfraqueci. Pontos escuros salpicaram minha visão. Minha cabeça parou de se mover. E esperou obediente pelo próximo movimento dele.
Ele pressionou o algodão sobre meu nariz, o resquício de consciência que havia em mim, fez o desespero nascer. Eu desmaiaria e acordaria sem a menor noção de onde estava, com quem estava ou o pior. O que ele faria comigo?
Tudo ficou escuro.
Não sei quanto tempo depois, abri os olhos. Com o corpo trêmulo de medo do que poderia encontrar. Mas a sensação que me inundava era de paz. Braços quentes me envolviam. Mãos suaves acariciavam meus pulsos antes presos pela corda.
Uma presença tão viva, foi como se eu estivesse aninhada em seu colo. Respirei um perfume masculino e reconheci o aroma. Olhei para cima completamente grogue. A vista embaçada me atrapalhava a identificar o rosto de quem me segurava.
- Fique calma. Ele fugiu, e não vai tocar em um fio do seu cabelo. Eu prometo.
- Você? – arfei vergonhosamente. - É você?
Esfreguei o rosto mas não consegui vê-lo. Eu enxergava apenas um rosto desfocado, com uma forte luz branca por trás. Ele exalava algo morno para mim. Um toque protetor. E se não fosse efeito do que o senhor havia colocado no algodão, tive o vislumbre de um sorriso.
Ele passou o polegar por minha bochecha.
- Você está bem. Já vou te soltar. Só preciso que melhore um pouco.
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A Sombra (Completo)
FantasyNESSA VIAGEM PELA COSTA DA CALIFÓRNIA, CADA CURVA REVELARÁ UM SEGREDO. Um encontro inesperado, um desaparecimento e uma maldição. Assim iniciou-se essa história. Liza pensou que fosse apenas uma viagem para comemorar seu aniversário. Ela estava ter...