Quando não impedimos, prevenimos...
Chegamos a Los Angeles e após nos instalarmos no quarto, nos arrumamos para jantar no Cheesecake Factory e celebrar meu aniversário. Mas o motor do carro parecia engasgado quando meu pai tentou nos tirar do estacionamento do hotel.
Quando o motor morreu pela segunda vez, meu pai bufou frustrado:
- Não entendo isso. Esse carro é novo!
- Liza, vamos ter que deixar você e sua irmã aqui no hotel. Nos esperem enquanto eu e seu pai procuramos um mecânico, tudo bem? – minha mãe anunciou parecendo não gostar do que dizia.
- Mas e o jantar, Marie? – meu pai perguntou.
- Tudo bem, pai. Podemos deixar para comemorar amanhã.
Notei os dois trocarem um olhar suspeito. Desconfiei daquilo. Mas por que eles fariam isso, se nunca esconderam nada de mim?
Fui abraçada pelos dois antes de descer do carro e meu corpo reagiu de um jeito estranho.
Lágrimas arderam nos olhos. Um sufoco apertou meu peito. Como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Lutei para encontrar na memória alguma justificativa para o sentimento, mas falhei.
Desci do carro e observei os dois se distanciarem com um desconforto instalado nas costas.
Raquel resmungou que estava com fome e depois de comermos sanduíches no Seven Eleven do outro lado da rua, subimos de volta para o quarto.
Enquanto minha irmã cantarolava desafinada com fones de ouvido, eu trocava de canal deitada na cama sem absorver nada do que passava.
O desconforto de antes nas costas, havia se espalhado pelo corpo inteiro. Uma voz insistente na minha cabeça, dizia que eu precisava fazer alguma coisa. E era importante. Mas eu não recordava de absolutamente nada. Puxei os cabelos, frustrada.
Devia ser paranoia, e eu não sabia nem com o quê. O problema era o olhar de meus pais quando desci do carro. A advertência da despedida pairava no ar.
Perdi muito tempo imersa em pensamentos nebulosos. Só despertei do transe, ao notar que Raquel não cantava mais. Ao olhar para o lado, vi que dormia. Ia conferir as horas, mas a fala da jornalista na televisão fisgou minha atenção:
- Os assassinatos da Sombra continuam seguindo a rota turística. Dessa vez, manteve os padrões. Duas jovens menores de idade, tiveram seus corpos encontrados essa manhã, boiando no lago do famoso jardim Lótusland, de Montecito. Ambas com a marca da flor negra deixada ao lado. Um estudo foi realizado de acordo com o trajeto seguido pelo assassino, e tudo indica que a próxima parada, será onde tudo começou. Los Angeles. A polícia está se programando para fazer um pronunciamento até amanhã a noite. Enquanto isso, somos largados nas mãos do acaso. Nossa única alternativa é esperar, e torcer para não nos tornarmos, uma das próximas vítimas da Sombra.
Desliguei a televisão e notei que não respirava. Assassinatos no lugar onde estávamos ontem. E no mesmo horário. Como não vi nada? Como não havia nenhuma agitação quando deixamos o hotel?
Outra vez, tive a impressão de estar deixando passar alguma coisa importante.
Uma dor aguda pontuou o lado da minha cabeça. Imagens difusas me invadiram os pensamentos mas não identifiquei nenhuma. Era pior que tentar lembrar de um sonho.
Verifiquei o relógio e ergui o tronco assustada. Dez horas da noite e nada dos meus pais terem voltado. Peguei o celular na cabeceira. Nenhuma ligação. Nenhuma notícia. Perdi o ar. Minha mãe nunca agia dessa forma. Ela jamais levaria tanto tempo longe sem dar nenhum sinal de que estava bem. Meu pai menos ainda.
E se algo tivesse acontecido a eles dois?
E se o carro tivesse quebrado em algum lugar deserto, algum beco, e o assassino tivesse aparecido?
Milhões de possibilidades fizeram o mundo rodar. Eu precisava fazer alguma coisa, garantir que estavam mesmo bem. Sabia que se ligasse para a polícia, considerariam precoce. Provavelmente me taxariam de garota assustada longe dos pais.
Pensei em pedir ajuda a algum funcionário do hotel. Talvez eles conhecessem o mecânico mais próximo e me passassem o endereço.
Isso! Respira Liza! É só descobrir onde fica o mecânico e ir atrás deles.
Tentei me acalmar e respirei fundo algumas vezes antes de levantar.
Estava prestes a entrar em desespero, quando uma lufada de ar quente atravessou meu corpo. Estranhamente fui tomada por um sono avassalador e não consegui resistir, apesar de ter tentado.
Desmaiei no colchão.
***
O homem do Penhasco
Não fui capaz de impedir o pior.
Os pais dela foram levados.
E aquela sombra continuava lá.
Ela seria a próxima.
Sem outra escolha, trouxe a garota para o Penhasco.
A fiz dormir e me aproveitei de seus sonhos.
Exatamente o que eu tentei evitar a todo custo.
Não sei o que virá de agora em diante.
Não sei o que será da vida dela.
E não há muito o que possa ser feito.
O que se foi, se foi. E também desconheço como aconteceu.
Apenas sei que a sombra continua lá.
Não posso prever quando retornará, mas um presságio ruim me diz que continuará por perto.
A espreita.
Sem rosto.
Em busca de algo específico.
Algo que preciso descobrir antes que seja tarde.
A garota está observando o Penhasco com as feições maravilhadas.
Alheia ao que lhe aguarda quando despertar.
E o que direi a ela, se for até debaixo da árvore onde está?
Ela não se lembra de mim. Nem lembrará. Melhor assim.
Os desastres do passado não ajudarão em nada.
E ela precisará de mim, mais do nunca agora.
Talvez eu conte a ela o que sou.
Não.
Melhor não.
É muito cedo.
Soltei o ar ruidosamente.
Tirei o casaco. Guardei os óculos escuros no bolso e me preparei.
Foi muita burrice achar que podíamos nos esconder do destino.
Assim, andei até ela e aceitei o inevitável.
Nosso encontro.
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Oláá, espero que tenham gostado do final!
Como é uma história anterior ao Penhasco, não podia ser exatamente um FINAL, porque é agora que tudo começa de verdade. rs
Se você não leu O Penhasco, o livro está completo aqui no Wattpad, é só adicionar na bilioteca =)
Pra quem leu O Penhasco, trago boas notícias! O Templo - Livro 2, já está disponível aqui também!
Convido vocês tb a conhecer meu novo livro: Olhar de Fogo
Beijossss amoresss
Obrigada por terem me acompanhado nessa história e por todos os votos e comentários!
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A Sombra (Completo)
FantasyNESSA VIAGEM PELA COSTA DA CALIFÓRNIA, CADA CURVA REVELARÁ UM SEGREDO. Um encontro inesperado, um desaparecimento e uma maldição. Assim iniciou-se essa história. Liza pensou que fosse apenas uma viagem para comemorar seu aniversário. Ela estava ter...