Capítulo XLVI

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SASUKE ON

Em termos emocionais, não sou uma pessoa comum. Não digo isto com orgulho, é claro. Não estou habituado a dizer sobre o que sinto, conversar e resolver pendências que envolvem sentimentos. Desde que desertei a vila, aprendi como mascarar emoções, sentimentos e mesmo tendo mudado mais uma vez o rumo da minha vida, este comportamento permaneceu. Em algumas situações, ter adotado este comportamento foi uma vantagem, visto que me tornei frio para algumas coisas e profissionalmente falando isso facilita um pouco o trabalho. O que eu não esperava, na verdade, o que eu nunca imaginei era que Sakura conseguiria bagunçar e mudar tudo isso. Em meses.
Eu fui uma pessoa que por muito tempo lutei, feri e sacrifiquei em prol de uma causa onde eu tinha em mente que um dos principais fundamentos era o amor, e no fim de minha batalha eu percebi que o amor era na verdade algo totalmente diferente do que eu vivi. O amor veio para mim como algo que fere, que magoa, que trai. Que vai embora, que morre e que deixa saudades. Quando pensava em meus pais, sentia dor, tristeza e saudade. Eu relacionava isto ao amor. Quando pensava em Itachi, sentia ódio, rancor e mágoa. Eram como se os sentimentos bons que o amor proporcionava tivessem sido esquecidos. De repente, eu percebi que por amá-los eu sofria, e isso não parecia ser algo bom. Resolvi então guardar o que eu entendia como amor e não dividi-lo. E mais uma vez, não esperava por Sakura.
Sakura era a única garota que me fazia pensar em amor como algo bom, visto que nunca me trouxe sofrimento comparada aos outros. E isso por muito tempo me pareceu ser errado.
E então, depois de cumprir a maior meta de minha vida, não me restaram muitos objetivos, tirando a dívida que adquiri com Konoha. Estava preparado para lutar e sangrar em prol da minha jornada de redenção, e até morrer, se isso me libertasse dos meus pecados. Amar não estava nos meus planos. E mais uma vez, verdadeiramente, eu não esperava por Sakura.
Sakura ressurgiu como se fosse uma fênix em minha vida, trazendo à tona toda a nossa vida juntos, pelos poucos anos que convivemos como time. Ao contrário do que eu acreditava, ela não havia se cansado de mim. Achei realmente que após alguns anos, depois de tudo o que causei, no máximo receberia sua amizade e resquícios de um amor supostamente não correspondido por mim, que agora não passaria de uma lembrança. Estava enganado. Estava redondamente enganado. Sakura voltou como um raio de emoções, sacudindo todos os sentimentos que eu supri durante anos por ela, invadindo o lugar no fundo de meu peito onde eles habitavam e os trouxe de volta, sem que eu pudesse interferir. Quando me vi, estava a amando novamente. E então, comecei a querer ela sempre por perto. Eu, que sempre acreditei ser sozinho, não queria ser sozinho se isso significasse a ausência dela. Para mim, tudo era novo, o sentimento e as descobertas, Sakura era desde o início sempre surpreendente. Embora fosse novo, em mim permanecia a sensação de que algo era muito familiar. Foi então que entendi que não se pode amar duas vezes a mesma pessoa. Ou você a amará para sempre ou então deixará de ama-lá. Percebi que o amor nunca havia acabado, mesmo que por uns anos eu tivesse me forçado a acreditar nisto. E eis que minhas dúvidas aumentavam e eu me perguntava se este amor era o mesmo que sentia por meus pais e meu irmão, e me convenci de que era. Portanto me preparei, me precavendo de todo sofrimento que poderia vir nesta relação, para que o sofrimento não retornasse. Porém ele não veio. Sakura era diferente, sempre foi, mas eu estava alheio demais para perceber que ela jamais me magoaria. Ela sempre se esforçava para que eu me sentisse verdadeiramente amado, e era algo tão real que chegava a ser palpável. Ela retornou para minha vida, fez sua arrumação, colocou coisas no lugar e decidiu que não sairia a menos que eu quisesse. Me deu conforto, me deu espaço para entender sobre meus sentimentos, e eu que pensei não precisar de cuidados, descobri que era carente deles, quando ela se propôs a cuidar de mim. Eu a sentia tão única, tão singular e intocável, que decidi não dividi-la, pois não a queria perder. E este novo sentimento, chamado de posse, minava a relação saudável que construimos em volta de nós. E por mais que eu tentasse, não conseguia me desvencilhar daquilo, a querendo comigo e a protegendo de qualquer possível ameaça que surgisse diante de nós. Proteção e admiração por ela andavam de mãos dadas, e com elas a atração que eu sentia aumentava cada vez mais, me fazendo andar pelas paredes por ter tantas emoções intensamente dentro de mim. Sakura é a coisa de beleza mais indescritível que pude apreciar. Ela é para mim como a flor da primavera, que voa graciosamente de sua árvore para o campo, se é que seja possível entender esta metáfora. É perfeita, delicada, doce e agradável. É minha perdição. Quando era menino, não podia enxergar com os olhos de homem, mas hoje vejo. Maldita seja, por me fazer a querer incessantemente. A quis tanto só para mim que quase a perdi, a enchendo com minhas incertezas e o maldito sentimento de posse, que continuava a me atordoar. E como se fosse o fim de tudo, eu chorei. O sofrimento pelo amor veio, mas não veio dela. Veio de mim. Então entendi que amar, de certa forma, é sofrer. O amor nos deixa vulneráveis, propensos a fazer loucuras. E por estar propenso a isto, errei com ela. E em meio ao desespero, tendo o medo de perdê-la ali diante dos meus olhos, fiz o que nunca precisei fazer antes: implorar. Implorei por perdão, implorei para que ela ficasse e desse mais uma chance para que eu pudesse consertar o que havia feito. Ela me envolveu, me abraçando e perdoando algo que outra pessoa demoraria mais tempo para conseguir. E eu fui perdoado, e foi como se algo tivesse reacendido em mim. Ela verdadeiramente me amava, e mostrava isso de tantas formas que eu jamais pensei que fosse possível. Ao garoto que outrora não tinha ninguém, nem amigos, nem família, agora possuía a sua própria, graças à ela. Graças a ela estava colhendo os frutos do real amor, e vivenciando coisas que achei não merecer. E talvez ela não saiba, ou não tenha noção, do quanto eu sou grato à ela por me salvar de mim mesmo.

 E talvez ela não saiba, ou não tenha noção, do quanto eu sou grato à ela por me salvar de mim mesmo

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Acordei no meio da noite e olhei para meu lado direito. Sakura estava lá, dormindo esparramada como sempre, o que me fez sorrir. Estava sem sono, e aproveitei para repensar em algumas coisas que haviam acontecido, e ao mesmo tempo observá-la. Dormia tranquila, como se fosse uma criança que passou o dia brincando na rua. Após um tempo, Sakura se virou de costas para mim e eu pude ver a blusa de seu pijama, que antes não havia notado. Ela havia bordado o emblema de nosso clã em algumas de suas roupas, e havia feito também no pijama. Involuntariamente, voltei ao dia em que o time 7 havia sido formado, e Kakashi pedia para nos apresentarmos.

"Meu nome é Sasuke Uchiha. Eu odeio um monte de coisas, e eu particularmente não gosto de nada. O que eu tenho não é um sonho, porque eu vou torná-lo uma realidade. Vou restaurar meu clã, e matar um certo alguém."

- Restaurar...o clã...

Passo o dedo levemente pelo emblema estampado na blusa de minha esposa.

- Obrigado, Sakura...eu te amo.

Sasusaku- título em andamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora