Era mais um sábado de primavera qualquer quando o conheci. Lembro bem de estar tirando fotos das cerejeiras para que pudesse pintar assim que chegasse em casa. O dia estava tão agradável e eu me sentia tão inspirado que optei por ir no museu de arte renascentista que havia na cidade. Era meu dia de folga e mesmo assim quis ir. O museu ficava de certa forma escondido mas era grande e belo. O teto alto passava uma sensação de imensidão, enquanto as colunas da arquitetura grega eram praticamente uma viagem á própria Grécia.
Foi então que o vi.
Ele segurava um pequeno caderno e observava atentamente uma escultura de aproximadamente dois metros. Obviamente fiquei intrigado com o rapaz de cabelos castanhos e má postura. Nunca foi comum ver os jovens da cidade frequentarem museus a menos que sejam turistas ou estejam em um passeio escolar. Geralmente era mais comum ver famílias, casais e até idosos.
Mas lá estava ele com toda sua magnificência.
– Até quando vai ficar me encarando? – Ele perguntou ainda sem levantar o olhar do caderno que rabiscava.
Por um momento questionei se realmente tinha se dirigido a mim. Porem quando levantou seu rosto e olhou para o fundo da minha alma tinha certeza que não fui tão discreto quanto pensei.
– Desculpe. – Me aproximei com calma. – Eu trabalho aqui. Não hoje, mas nos outros dias. – As palavras saiam atrapalhadas. Estava embasbacado com aqueles olhos acinzentados. – Nunca te vi por aqui. Fiquei curioso. – Confessei.
– Bom, não segure sua curiosidade quando eu voltar amanhã.
Dito isso ele apenas fechou o caderno, se levantou e saiu. Não me disse seu nome nem nada. Quase como um fantasma. Nunca havia o notado no colégio ou faculdade. Talvez fosse novo na cidade. Não sabia nada sobre ele naquele dia, mas sabia que sua imagem se fixaria na minha mente e nem mesmo se o desenhasse milhões de vezes - como fiz - ele deixaria meus pensamentos.
Isso foi há cerca de um mês.
Depois disso ele voltou quase todos os dias ao museu, felizmente, no meu horário de trabalho. Pude conhecê-lo melhor, não muito, mas agora sei que seu nome é Osamu Miya, sei que ele tem um irmão gêmeo, sei que tingiu seu cabelo de cinza no ensino médio para se diferenciar do irmão, sei que quer fazer gastronomia e abrir seu próprio restaurante e sei também que se mudou para a cidade a pouco tempo e não conhece muito.
Bom, não conhecia. Porque isso foi há mais ou menos um mês.
Eu e Osamu saímos algumas vezes de noite após meu expediente para alguns parques e restaurantes. E vivendo em uma cidade pequena, isso significa que mostrei a ele todos os pontos mais turísticos ou simplesmente interessantes que temos aqui. Sim, em um mês. De qualquer forma, ambos preferimos ficar no museu. Em parte porque é mais quieto e vazio, e de graça, mas também é nosso lugar.
Osamu não estava desenhando quando o conheci, na verdade, ele estava fazendo anotações. Descobri isso no segundo dia que ele foi ao museu. De acordo com ele, saber arte era importante. Eu não discordo, apenas não acredito que seja o real motivo, afinal, ele parecia corar enquanto se explicava.
Desde que criamos maior intimidade ele sente no direito de me ter como guia pessoal, não apenas do museu. Certo dia me perguntou quanto tempo levava para fazer uma escultura de mármore com dois metros. Como se eu realmente soubesse a resposta. Teve também outra vez que ele me perguntou por que não tinha nenhuma pintura clássica, como a Monalisa, e eu fiquei surpreso de descobrir que ele não sabia que essa obra estava em Paris, no Louvre. Ou pior quando ele quis entrar em um sarcófago para "ver como é". Alem disso, teve as incontáveis vezes que ele questionou porque não podia comer no museu.
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Entre quadros e esculturas - Osasuna
RomansaAmantes da arte sempre se sentem incompreendidos e muitas vezes vagam sozinho na busca de um sentindo. Um artista que ama é premiado com o poder de beijar sua maior fonte de inspiração. Mas o que acontece quando um artista se apaixona por um desconh...