Não! De novo, não!
Colo a orelha no seu peito direito e mais uma vez não encontro nenhum sinal de vida. O seu coração parou, a sua respiração quente sumiu. Pego sua mão e a aperto. Imediatamente a sinto gelada.
― Socorro! ― grito. ― Socorro!
Levanto a cabeça e reparo que não consigo ouvir mais nada. De algum modo, parece que eu e Briggs nos afastamos bastante da casa de Demetria. Há um silêncio frio que desliza, aumentando o meu terror interno. Ninguém consegue me ouvir de onde estou. Tremendo, abro a minha bolsa e pressiono o botão do meu celular para liga-lo e discar o número da emergência. Porém estranhamente ele não liga. Eu aperto e aperto, mas o aparelho não se acende de maneira alguma.
Jogo o meu celular no chão, ignorando-o e fico de pé. Eu não quero deixar Briggs sozinho, mas preciso chamar por ajuda.
Me ponho a correr e a gritar por socorro. Sinto os galhos das árvores arranharem os meus braços, por diversas vezes caio por conta do chão desnivelado de pedras, grama e terra. O horror da situação se incide, ganhando vida cada vez que o tempo passa. Ele batuca um ritmo horrível, como uma música macabra que não para de tocar.
Corro e corro, no entanto, é como se estivesse me movendo em círculos. Não encontro a saída de modo algum. A mata está fechada e bem mais escura do que antes. Franzo a testa, frustrada por ninguém me ouvir e por estar aparentemente perdida naquela área da floresta.
Suspiro e torno a correr. Briggs não pode esperar mais, ele tem que receber ajuda o mais rápido possível! Em breve alguém vai me escutar. Algum outro casal bêbado e com vontade de transar assim como eu e Briggs vai aparecer e me encontrar...
De repente, ouço alguém sussurrar meu nome, fazendo-me retesar no lugar. Em seguida, outras vozes como um coro sombrio se unem, chamando-me.
Serena. Serena. Serena...
Os meus músculos se enrijecem na mesma hora. É como se as árvores estivessem espalhando aquelas vozes conforme um vento frio e sombrio as sacode. Mas não posso deixar o horror me parar. Só consigo pensar em ajudar Briggs, por mais que sinta meu corpo pedir para que eu pare de correr e de gritar por ajuda.
― Serena!
Ergo o rosto e vejo Valerie parada a minha frente. Paro abruptamente antes que possa cair em cima dela.
Ponho as mãos nos joelhos, recuperando o fôlego tanto da corrida quanto da situação desesperadora.
― Você precisa ligar agora para a emergência! ― digo em meio a falta de ar. ― É o Briggs! Ele não está bem. Ele precisa de ajuda!
Algo no rosto de Valerie muda de repente. Ela ergue o canto da boca em um sorriso malicioso e ao mesmo tempo frio. Valerie não está mais usando o chapéu de bruxa de sua fantasia, apenas usa o sutiã brilhante de lantejoulas e a saia de couro negra.
― Valerie! ― grito. ― Você está me ouvindo?
― Estou te ouvindo perfeitamente bem, Serena ― ela coloca um passo à frente.
Ergo as sobrancelhas.
― O que?
― Você pode cuidar do seu brinquedinho depois. Acredite, temos coisas muito mais importantes a serem feitas agora.
Com aquelas palavras minha mente finalmente se situa, parando de girar em pensamentos derradeiros. Levanto o queixo, em uma posição de ataque.
― O que foi que você disse?
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A Escuridão de Serena Walker
HorrorSerena Walker era uma garota linda, popular e amada. Mas por baixo dos cabelos loiros e do corpo escultural, ela escondia um vazio obscuro que nunca compreendeu o motivo de sentir aquilo. A cidadezinha em que vivia costumava ser monótona e pacata at...