As aulas retornaram no dia seguinte. Mesmo que Chloe não esteja mais aqui, a vida deve continuar. Contudo, me parece tremendamente errado pensar nisso. Ela acabou de falecer. Está tudo tão recente para tentar me encaixar de volta ao cotidiano do dia a dia.
Não dormi bem na noite passada. Não consigo me lembrar do pesadelo que tive, contudo ele me fez ficar acordada desde as três da manhã até a hora do alarme tocar, avisando-me que tinha que me aprontar para o colégio.
Minha cabeça lateja conforme me sento na carteira de trás. A aula de história do professor Oliver é uma aula que gosto bastante de assistir, mas não tenho força alguma para me concentrar o suficiente agora.
As pessoas do sexo feminino costumam prestar muito atenção em Oliver. Ele tem a aparência bem mais nova do que a idade propriamente dita. Oliver é alto como um estrangeiro, a pele mais branca combina com seu cabelo loiro e curto e a barba rala dourada. Ele está sempre com um sorriso branco no rosto.
Lembro-me quando Oliver me abordou em uma festa e mostrou claramente o quanto queria ficar comigo. Cada frase que ele fala na aula é como se ele estivesse seduzindo alguém e fora da escola, isso se intensifica ainda mais. Contudo, de alguma forma bizarra apenas Briggs me fazia sentir verdadeiramente algo.
― Bom dia ― Oliver sorri e deposita o seu copinho de café na mesa. ― Vamos retomar o que falamos na aula passada...
Nenhuma palavra sobre a morte de Chloe. Sinto um gosto amargo engolfar a minha garganta.
As meninas da frente cochicham e dão risadinhas. As palavras de Oliver se embaralham em minha cabeça. Pego uma caneta e começo a rabiscar aleatoriamente a folha em branco do meu caderno. Estou pouco me fodendo para a guerra sei lá das quantas que ele está falando.
― Você é uma péssima desenhista.
Viro-me e vejo Valerie sentada na carteira ao meu lado com os olhos nos pequenos corações e estrelas que decorava sobre a folha.
Reviro os olhos.
― Não pretendo virar um Picasso ― digo de modo sarcástico.
― Qual é. A aula dele é muito interessante, inclusive quando ele vira de costas e podemos ter uma visão clara de sua bunda.
Realmente o Oliver tem uma bunda carnuda e simétrica. Mas ela não parece perceber que estou com humor para conversa. Talvez ela queira ser simpática e esteja tentando conversar comigo apenas para me distrair. Não faço ideia.
― Você deveria chamar ele pra sair ― digo de modo um tanto afiado.
Ela suspira.
― Mas é claro. Um homem desse não é de se jogar fora ― ela morde o lábio maliciosamente. ― Mas o que vocês fazem por aqui pra se divertir?
Seus olhos escuros se afundam em mim com interesse.
― Eu saio daqui quando posso ― murmuro em voz baixa para que Oliver não perceba.
Valeria arqueia as sobrancelhas.
― É sério? Vocês não fazem nada de divertido por aqui?
― Você não perguntou isso a Michael? ― pergunto. ― Ele deve ter alguma ideia.
― Gostaria de saber uma segunda opinião ― ela diz sem se abalar por eu ter citado o nome de Michael na conversa. ― Ele disse que quando faz sol as pessoas vão a praia, mas geralmente se encontram nos únicos bares da cidade ou vão a festas.
Dou de ombros.
― É basicamente isso.
― Serena e Valerie ― Oliver nos chama da frente da sala. ― Vocês poderiam contribuir para a aula com sua conversa?
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A Escuridão de Serena Walker
HororSerena Walker era uma garota linda, popular e amada. Mas por baixo dos cabelos loiros e do corpo escultural, ela escondia um vazio obscuro que nunca compreendeu o motivo de sentir aquilo. A cidadezinha em que vivia costumava ser monótona e pacata at...