Capítulo 13

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A escuridão se dissolve e finalmente a luz se acende. Vejo uma garota de cabelos loiros e de feições delicadas sentada em frente a uma mesa dentro de um quarto parcialmente escuro. Percebo que estou em um tipo de visão. O cenário a minha frente é translúcido como um véu, fazendo-me constatar que a visão é na verdade uma lembrança.

Nas paredes ao redor se sobrepõem estantes de madeira contendo diversos vidros com líquidos e coisas estranhas dentro que não consigo identificar muito bem. A garota da visão está segurando uma galinha viva em cima da mesa enquanto murmura baixinho um tipo de recital. Ao lado da galinha, há um rato sem cabeça, um sapo imóvel virado de barriga para cima e um pássaro que também está com um aspecto morto que nem os outros animais, com as garras curvadas para cima.

Não demora muito para a garota levantar um punhal afiado em uma das mãos e cortar a cabeça da galinha sem muita cerimônia. Em seguida, ela forma as mãos em concha na direção do sangue que começa a escorrer e simplesmente o bebe. A visão é grotesca e contraditória, já que o aspecto angelical da garota não combina em nada com o que ela está fazendo.

A jovem continua falando palavras ininteligíveis até que o cenário tremula e desaparece. Novamente, vejo a mesma garota. Dessa vez ela está completamente nua na frente de uma enorme fogueira e para piorar o cenário, o seu corpo encontra-se todo lambuzado de sangue. As chamas sobem muito alto de um jeito quase anormal, como se fossem engoli-la a qualquer momento. Ela está sorrindo e continua sussurrando palavras perto do fogo que não para de queimar. De algum modo, sei que o sangue colado ao seu corpo não é o sangue de um animal.

O seu cabelo molhado está praticamente castanho por conta da quantidade exorbitante de sangue. Ela está de frente pra mim, então consigo enxergar melhor o seu rosto. O meu coração descompassa de imediato, como se eu fosse entrar em uma parada cardíaca. Ela é assustadoramente familiar pra mim, porque não tem como negar os olhos que lembram os meus e alguns traços delicados que adornam o seu rosto.

Aquela garota é minha mãe.

É Lauren Walker.

Não tenho nem tempo de absorver a informação quando aquela lembrança muda para outra. Agora estou vendo uma clareira imensa que é iluminada por um céu repleto de estrelas e uma lua cheia que me parece maior do que o normal. Lauren e um homem que não reconheço estão no centro da clareia, totalmente sem roupas. O homem tem feições tremendamente bonitas e atraentes, ele possui cabelos negros que batem nos seus ombros, pele branca e uniforme e lábios vermelhos.

Em seguida, vejo o homem desferir um corte profundo no seu próprio peito com uma adaga curva e negra. Instantemente o sangue cai da ferida aberta em sua pele. A seguir, ele ergue a cabeça como num convite e Lauren ― minha mãe ― coloca a boca na ferida e a chupa.

O meu estômago dá voltas perante aquela cena bizarra. Não demora muito para os dois ficarem totalmente lambuzados de sangue e se engalfinharem de maneira animalesca como se não fossem seres humanos. O homem joga Lauren de quatro no chão e a penetra sem impedimentos. É uma visão tremendamente macabra de se assistir. Como se pressentisse a sensação de terror e enojamento dentro de mim, a visão finalmente cessa.

Pisco e retorno a ver o rosto divertidamente frio de Valerie me encarando. Estou completamente atordoada, incapaz de exprimir algum tipo de reação.

― Entendeu agora, S? ― Ela praticamente ronrona. ― Não adianta fugir ou mentir para si mesma, garota. Nós somos o que somos, bruxas...

Lentamente as informações começam a fazer um certo sentido na minha mente. Tudo de anormal que vem acontecendo comigo nesses dias se correlaciona a tudo que Valerie está falando, no entanto, eu preferiria que estivesse realmente com uma doença mental do que saber que minha mãe foi uma bruxa. Além do mais, ela me dava a impressão de que não havia sido uma bruxa do bem.

Com os pensamentos ainda em espiral, só me resta uma única alternativa e bem patética por sinal: correr.

Respiro fundo, viro as costas e corro para longe de Valerie. O meu vestido branco vai ficando cada vez mais negro conforme me embrenho pela floresta escura e cheia de galhos afiados. O medo me consome e se mistura a adrenalina de um jeito intenso e estranhamente revigorante ao mesmo tempo.

Os pelos de minha pele tornam-se a se arrepiar quando ouço novamente as árvores gritando o meu nome, mas eu preciso fugir, correr para bem longe. É a minha única alternativa.

As vozes que me chamam são roucas e sombrias e totalmente inumanas. Não sei como não estou em posição fetal e surtando neste exato momento.

Em meio a correria desenfreada, meu pé acaba tropeçando em um tronco e meu corpo se esparrama no chão. O ar sai de meus pulmões de modo brusco conforme a terra batida me abraça. Quanto ergo a cabeça antes de me levantar vejo Valerie, sorrindo para mim.

― Você não escutou mesmo o que eu disse, sua idiota?

Meus olhos piscam em uma tentativa de não sucumbir a tontura e o cansaço que se inserem brutalmente no meu corpo. No entanto, Valerie inclina a cabeça para trás e tudo o que vejo em seguida, mais uma vez, é uma pura escuridão conforme meu consciente apaga sem que eu possa impedir. 

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⏰ Última atualização: Jul 29, 2021 ⏰

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A Escuridão de Serena WalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora