― Serena! Serena!
Vejo o rosto preocupado de Briggs a minha frente. Ele já está totalmente vestido. Sinto suas mãos apertarem meus ombros me fazendo ficar parada finalmente. Minha respiração continua agitada como se meu coração fosse realmente cair para fora do meu peito.
― O que aconteceu? ― ele pergunta.
O rosto monstruoso que vi está gravado como uma imagem ampliada na minha cabeça. Era uma besta como um bode humano e ele tinha dito o meu nome, em alto e bom som. Mas essas coisas não existem, certo? Não existem, repito para mim mesma.
Levanto o queixo encarando o rosto arregalado de Briggs. Ele já deve achar que sou louca e isso vai piorar ainda mais se contar realmente o que vi. A vontade de contar para ele é grande, mas não o faço. Me seguro para não fazer.
― Achei que vi alguém entrar ― é a primeira desculpa esfarrapada que me vem à mente.
Ele arqueia a sobrancelha.
― E precisava gritar desse jeito histérico?
Saio de cima da pia e coloco a minha calcinha. No fundo ele sabe que seria estranho eu reagir assim. Quando estou prestes a adicionar outra mentira, ele me interrompe e solta uma gargalhada.
― Qual é, Serena ― ele joga os cabelos molhados de suor para o lado e dá um sorrisinho. ― Teríamos dado um bom show para qualquer um.
― Você é ridículo, Briggs.
Ele ajeita melhor sua camiseta, tentando se mostrar apresentável e não alguém que acabou de fazer sexo.
― O voyeurismo é uma arte, querida ― ele diz. ― E nós somos sensacionais.
Respiro fundo ao perceber como Briggs conseguiu quebrar o clima pesado. Pelo menos entre mim e ele, porque meu interior ainda está consumido pela adrenalina do pavor.
Quando finalmente olho para o ponto do espelho onde vi a criatura não vejo nada. Contudo posso imaginá-la exatamente ali, observando enquanto eu e Briggs transávamos. O pensamento me enoja por completo.
― Vai voltar a malhar? ― ele pergunta quando por fim saímos do vestiário.
― Nem comecei ― digo. ― Acho que vou para casa.
Depois do que aconteceu não teria forças para fazer um alongamento se quer.
― Posso te dar uma carona ― ele oferece.
Depois do que aconteceu o prudente seria aceitar a carona, mas de alguma forma a vontade de ficar sozinha me apetece mais. Não quero mostrar para Briggs que talvez eu seja uma louca desvairada, somando-se o fato de que moro perto do colégio.
― Você sabe que não preciso, mas obrigada pelo convite.
― Sou um cavaleiro completo ― ele brinca. ― Tem certeza, Serena? Poderíamos fazer algo ou continuar de onde paramos no carro.
Reviro os olhos para ele.
O frio não diminuiu um centímetro sequer quando chegamos do lado de fora. Entramos no estacionamento e Briggs abre a porta de seu carro antigo que nunca lembro direito qual é a marca. O veículo é vermelho e está com a pintura desgastada. Briggs tem família rica, portanto possui dinheiro de sobra para reparar o carro ou comprar um de última edição, mas ele gosta do aspecto antigo. Deixa-o com aspecto um tanto vintage.
― Até mais, Briggs ― falo.
Ele pisca um dos olhos para mim.
― Quando quiser, Serena. Me chame a hora que quiser ― ele galanteia.
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A Escuridão de Serena Walker
HorrorSerena Walker era uma garota linda, popular e amada. Mas por baixo dos cabelos loiros e do corpo escultural, ela escondia um vazio obscuro que nunca compreendeu o motivo de sentir aquilo. A cidadezinha em que vivia costumava ser monótona e pacata at...