Capítulo 8

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Chloe está com o rosto vertendo sangue. É a mesma aparência de quando ela morreu. Mas o mais bizarro é que ela está sorrindo. Um sorriso largo e macabro. Do outro lado no lugar de Davina a criatura incide seus olhos vermelhos e aterrorizadores sobre mim. Posso sentir a frieza e o horror emanar dele. Seus chifres de bode se curvam para o alto, dentes afiados saem de sua imensa boca e o pelo negro misturado com escamas da mesma cor circundam a pele daquele monstro.

Estou em estado de choque. Não consigo gritar. Apenas tremo e sinto meu coração batucar ao ponto de explodir.

O barulho de música e das pessoas conversando evaporou. Só existem nós três dentro do bar e mais ninguém.

A luz em cima de nós pisca sem parar e um calor escaldante surge de súbito, fazendo minha testa respingar de suor.

― A sua hora está chegando, Serena ― Chloe murmura.

A voz dela é a mesma voz doce, só que denotada de algo cruel. Me fixo no rosto de minha amiga, não querendo encarar a criatura ao seu lado. Porém sinto sua presença, como se ele estivesse colocando suas patas ao meu redor com força.

Quero gritar e correr, me mover de algum modo, porém continuo estática feito uma estátua.

Sou uma presa fácil para o que quer que esteja acontecendo. Um inseto preso e desesperado em uma teia enquanto a aranha se aproxima para fazer sua refeição.

Então de um segundo para o outro, sinto o peso no ar sumir. Vejo Valerie e Davina gargalhando de alguma coisa engraçada como se nada tivesse acontecido. O rock de fundo tocando retorna assim como o chiado dos clientes do Twelve. A normalidade se instaura.

Solto o ar que segurei em meu peito. Minhas mãos ainda estão tremendo. O calor não saiu inteiramente das bochechas e o meu estômago dá voltas.

Davina vira-se de frente para mim

― Aconteceu alguma coisa?

Pisco os olhos várias vezes, aguardando para ver de novo os rostos de Chloe e da criatura, mas nada acontece. Valerie e Davina me encaram de modo confuso.

Não tenho a menor ideia do que falar para elas. Nenhuma explicação plausível ou desculpa elaborada surge. Então pego minha mochila e saio correndo dali como uma garotinha assustada.

Estou enlouquecendo. Só pode ser isso. Mas como? Tudo aquilo parece extremamente real. A sensação de chumbo que envolve meus ossos e me faz querer desabar lateja em mim. Contudo, isso é o que os doentes mentais sentem. Eles acham que o que veem é verdadeiro.

Corro como se pudesse fugir de mim mesma, como se fosse achar a saída no fim do túnel. Só me concentro em puxar mais ar para dentro de meus pulmões enquanto disparo.

Então de repente paro ao colidir com alguém. O mundo finalmente para de girar. Fecho os olhos por um momento e então os abro.

― Serena?

Liv me encara com a testa franzida e tardiamente percebo que ela é a pessoa com quem trombei. Os cabelos lisos de Liv estão bagunçados e as bochechas estão levemente coradas. Ela não está usando o uniforme de líder de torcida e sim um short jeans com uma blusa virada do avesso.

Noto que acabei entrando em uma rua com prédios comerciais e residenciais.

― Me desculpe, Liv! ― digo, apressadamente. ― Eu não te vi!

Ela põe uma mão na cintura.

― Mas é claro que não, S. Você estava correndo como se estivesse fugindo de um tiroteio.

A Escuridão de Serena WalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora