Capítulo 9

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Abro a porta de casa com os dentes tremendo e completamente ensopada. Assim que sai da casa de Liv, o tempo deu trégua e consegui andar sem ficar muito molhada, mas logo que me aproximei mais de casa, a chuva retornou a aumentar e caiu sobre mim sem piedade alguma.

O ar quente do interior alivia os meus braços gelados e molhados.

― Jesus, Serena! ― Jay levanta-se do sofá em um pulo quando me vê. ― Vou pegar uma toalha.

Prontamente o meu tio retorna e me enrola em uma toalha felpuda. Suspiro de alívio.

― Que tempestade, hein? ― Jay murmura sofregamente.

De imediato sinto o bafo de uísque exalar no ar. Meus olhos se desviam para a mesinha na frente da tv e vejo uma garrafa de vidro prestes a terminar. Quando o meu tio bebe, na maioria das vezes é porque ele está com humor péssimo ou está triste. Não posso culpa-lo, os dias não foram fáceis ultimamente.

― Dei condolências aos pais de Chloe quando esbarrei com eles ― Jay anuncia. ― Não pude ir ao funeral, infelizmente.

― Você não perdeu nada ― digo, em um tom de humor negro e mórbido.

Ele suspira e o desgosto aumenta as rugas do seu rosto.

Entro na cozinha, me apodero de um sachê de chá e coloco a chaleira com água para ferver no fogão. Um chá quente seria perfeito para me esquentar do frio que ainda estremece o meu corpo.

Ouço meu tio se mover com dificuldade atrás de mim.

― Ela tinha a sua idade... ― Jay murmura. ― É algo horrível...

Meus músculos se retesam. A tensão que estava começando a deixar o meu corpo retorna com força total.

Fecho os olhos e respiro fundo, tentando forçar a minha mente a não se inundar com a figura de Chloe olhando diretamente para mim no Twelve com um sorrio macabro que arrepia a minha alma.

Balanço a cabeça.

― Não deveríamos estar falando mais sobre isso, tio.

― Eu sei ― ouço ele tomar um longo gole de sua bebida. ― É que...

Me viro para ele.

― Eu estou bem aqui, tio ― digo. ― Não aconteceu nada comigo. Estou inteira.

Minha boca começa a se curvar em um sorriso de encorajamento quando a expressão no rosto de Jay muda. Ela me assusta. Os seus olhos escurecem e consigo enxergar medo e terror resplandecendo para mim. Ele cambaleia e se segura de encontro a parede.

Meu coração vem para a garganta.

― O que foi tio?

― Eu nunca te contei isso, Serena ― ele murmura e consigo notar que ele está parcialmente bêbado. ― Mas com a morte de sua amiga... ― ele engole mais ar para dentro, como se estivesse se preparando para enfrentar uma batalha interna. ― Não posso deixar de voltar a pensar sobre isso e me preocupar com você.

Franzo a testa.

― Fala logo! O que houve?

A demora em sua resposta me tortura lentamente e sinto como se cada músculo e osso fossem se quebrar, simplesmente pela tensão exacerbada que grita em mim.

― Não deveria te contar sobre isso...

O aperto em meu peito se intensifica e me aproximo do meu tio.

― Agora você tem que me contar! ― praticamente grito de nervosismo.

Jay respira fundo e senta-se no sofá, procurando algo para se estabilizar.

A Escuridão de Serena WalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora