Cap 8 - Seme ou Uke.

10 0 0
                                    

     Louis acordou cedinho, tomou um banho quente e saiu só de roupão, morrendo de vontade de tomar café. Quando fechou a porta do seu quarto, e viu a porta de Ash fechada, pensou: "ele ainda deve estar dormindo, eu deveria acordá-lo?". Aproximou-se e bateu à porta, devagar. Se estivesse dormindo ainda, não acordaria com um susto.
     Sem resposta. Bateu de novo e chamou por ele. Ainda nenhuma resposta. Louis pensou em abrir e entrar, simplesmente. "Mas e se ele for do tipo que gosta de dormir sem nada?". Corou com a imagem do ruivo sem roupa, deitado em uma cama tão grande. Mas afastou os pensamentos, depois de ouvir o próprio chamando por ele:
     - Louis?
     - Ash! Oi, bom dia.
     - Bom dia. O que está fazendo, à porta do meu quarto?
     - B-bem, é só que  -- pense, pense, pense rápido -- eu estava chamando você para tomar café.
     - Você nunca fez isso antes.
     - E o que tem isso? Para tudo, há uma primeira vez.
     - Sei. O fato é que estou de pé há um tempo, já.
     - Estou surpreso, enfim, vamos comer?
     - Claro. Eu vim mesmo atrás de você, para poder comer.
     - C-como é que é?
     - Heh... É só que... Edith. É, a Edith, ela pediu para chamar você. Só isso.
     Eles descem juntos, sem olhar um para o outro. Na cozinha, Edith preparava ovos e havia um pratinho com várias fatias de pão torrados com manteiga.
     - Bom dia, menino Louis.
     - Bom dia, Edith. Você viu que o Pica-Pau de cabeça vermelha marcou presença mais cedo hoje?
     - Haha, sim, eu vi. Incrível, não?
     - Não falem como se eu não estivesse aqui. - Ash fez uma expressão contrariada para eles, pegando uma torrada amanteigada.
     - Você, realmente, se acha o centro da minha vida. Não posso falar nada que, automaticamente, acredita ser você o assunto.
     - Talvez porquê você não me tire da sua boca.
     Ouvir aquilo deixou Louis sem reação alguma. "Tirar ele da boca? Que tipo de sentido essa frase deveria ter?". Percebendo que sua resposta havia sido muito sugestiva, Ash disfarçou com uma risada sem graça, e continuou comendo. Edith, que já havia acabado de preparar o café para os dois, se retirou.
     Um silêncio constrangedor habitou a cozinha, mas não durou muito tempo, já que não poderiam ignorar aquele elefante na sala:
     - Então - disse Louis - Você, geralmente, levanta por volta das 7h, e não são nem 6:30 ainda. Têm percevejos nos seus lençóis?
     - Já que tocou no assunto, eu vou voltar para casa, no máximo, até o final desse mês.
     - O-o quê? - Louis engasgou com a notícia. Preocupado, Ash pegou um copo de suco, e entregou ao loiro. - Obrigado, mas como assim? Voltar?
     - Ontem, por volta de 1h da madrugada, minha mãe ligou. Ela estava chorando muito, e eu perguntei qual o problema.
     - E então?
     - Ela disse que sentia muito minha falta, não vendeu meu piano coisa nenhuma e eu não estou sendo contatado para me apresentar porquê ela que administra isso.
     - Ela arrumou alguma desculpa esfarrapada para todo mundo que te procurou?
     - Na verdade, ela disse que eu estava passando por uma fase terrível na minha vida pessoal, que eu fui afastado do trabalho por isso, não estava sabendo lidar. E quando eu questionei os motivos dela, só disse que é absurdo demais explicar que deserdou-me.
     - Entendo. Então, acho que não preciso mais aturar você.
     - Ah, vai, você estava gostando de ter eu por perto.
     - Quando foi que eu disse isso?
     - Quando foi que não disse isso?
     Eles riram juntos, Louis estava feliz pelo amigo ter se resolvido com a mãe, e por sua carreira não ter ido por água a baixo completamente, mas um pouco chateado com o fato de ter que ir embora. De outro lado, Ash estava sentindo-se confuso. Feliz por retomar sua vida normalmente, e triste, só não sabia porquê.
     - Se resolveu com ela de madrugada mas por quê esperar até, mais ou menos, o fim do mês para voltar?
     - É que... Hahaha você vai rir. Mamãe, no rancor e raiva de excluir tudo que fazia ela lembrar de mim, transformou meu quarto e a minha sala do piano em espaços para ela se divertir.
     - Hum... Será que ela fez uma sala de jogos, com games tipo fliperama?
     - Duvido muito. Ela é carrancuda e controladora.
     - Ou, talvez, uma sala para BDSM.
     - Ai meu Deus, Louis, que porcaria. É da minha mãe que estamos falando.
     - Imagine! Ela vestida com uma roupa de couro preto brilhoso, chicote e uma máscara hahahah controladora, não? Ai está a motivação dela.
     - Puta merda, e agora, como vou tirar essa imagem da cabeça? - Ash empurra Louis levemente, ele, por sua vez, não consegue parar de rir - BDSM é bizarro, toda aquela violência maquiada de desejo. Como alguém consegue gostar disso?
     - Realmente, não fico surpreso por você não gostar da ideia.
     - Como assim?
     - Você não reage bem a um beijo, imagine a ser amarrado ou apanhar.
     - Ei! Considere a possibilidade de eu ser a pessoa que bate e amarra!
     - Impossível - Louis levanta e coloca os pratos e xícaras sujas na pia - Você não é bom com iniciativas o suficiente para ser um dominador.
     - Quem você acha que é para falar isso com tanta certeza? Acha que você faz o tipo dominador?
     - Não fui eu que disse.
     - E quem foi?
     - Todas as mulheres que eu debrucei às minhas pernas, e bati na bunda.
     Ash fica vermelho com a resposta de Louis. Ciúmes? Vergonha? O que sentia? Era um misto de emoções estranhas. Mulheres no colo dele o deixavam com raiva, o fato de ele estar batendo em uma bunda deixava-o sexy e o fato de Ash estar pensando nisso deixava-o constrangido.
     Louis chegou perto, ainda com tom provocativo, apontando dedo no rosto do ruivo, que não esboçava reação nenhuma mais.
     - Viu só? Você trava, não duvido que seria um submisso muito, muito obediente.
     - Eu tenho pose, Louis, muita firmeza e educação. Mas posso perder isso.
     - Será que pode mesmo?
     - Por quê duvida tanto?
     - Eu beijei você, e o máximo que fez foi exatamente o que está fazendo agora. Nada.
     - Por quê tocou nesse assunto?
     - Precisaríamos falar sobre isso, em algum momento. Ou prefere agir como se nada tivesse acontecido?
     - Heh... Você, realmente, é a mocinha de nós dois. Está tão sensível e exigindo que eu retribua.
     - Caralho, que resposta machista, Ash. Agora entendo porquê a Débora não escolheu você, de forma alguma.
     - Retire o que disse.
     - Não posso, é a verdade.
     - Falei para retirar.
     - Obrigue-me.
     - Vou fazer você engolir o que disse, Louis.
     - Quero ver fazer isso... "Ashton".
     Seus olhos brilhavam de raiva. Ninguém, há muito tempo, nem mesmo Vivian, havia chamado Ash pelo nome inteiro. Infantilidade dele ficar irritado, mas, havia deixado de ser "Ashton" há tempos. Uma mistura de raiva com desejo se apossaram das carnes do pianista e então, por puro impulso, agarrou o pescoço de Louis.

      Quando afastou-se, Ash estava ofegante e Louis não sabia o que dizer, então, fez o de costume, e falou a primeira coisa que veio em sua cabeça:     - Eu sabia!     - Sabia? O que?     - Sabia que você não iria resistir à mim

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

      Quando afastou-se, Ash estava ofegante e Louis não sabia o que dizer, então, fez o de costume, e falou a primeira coisa que veio em sua cabeça:
     - Eu sabia!
     - Sabia? O que?
     - Sabia que você não iria resistir à mim. - Louis zomba, simulando uma jogada de cabelo para Ash, que começa a rir.
     - Não acredito que você, de tantas coisas, escolheu dizer isso.
     - É meu jeitinho.
     Eles ficam ali, quietos. Como prosseguir agora? Louis encosta na pia, cruzando os braços no peito e Ash coloca as mãos nos bolsos. Em um suspiro, ele pergunta:
     - É a segunda vez que isso acontece. O que deveria representar?
     - O que quer dizer? - perguntou Louis - Quer saber se continuamos amigos?
     - Basicamente.
     - Você é meio tonto, hein, Myles? Claro que sim. Eu posso ser seu amigo e deixar você encostar em tuuudo isso - Louis faz um movimento engraçado, com uma ginga lenta para a direção de Ash.
     - Eu sei que isso aumenta a nossa intimidade, mas, ao mesmo tempo, não torna as coisas estranhas?
     - Não entendo qual o problema. Você nunca teve uma amizade colorida?
     - Já, mas por quê parece diferente com você?
     - Porquê, no nosso caso, seria muito mais colorido, devido à bandeirinha de arco-íris.
     Ash ri. Em um momento, ele olha para Louis. Como pode alguém tornar qualquer situação tão leve, com tanta facilidade? Havia algo nele. Um brilho, um charme, um diferencial. Rendido, ele concordou com a ideia de uma amizade colorida.
     - Só quero esclarecer uma coisa. - disse o ruivo, chegando bem perto de Louis.
     - O que?
     - Eu não tenho a menor ideia de como fazer qualquer coisa com um cara.
     - Ah, isso é o mais simples de tudo. Alguém vai ter que ceder.
     - Sim, alguém terá de ceder.
     Louis continua de braços cruzados, Ash põe as mãos na cintura. Ambos calados, esperando o outro decidir que iria ceder, mas ninguém disse nenhuma palavra. Eles ficaram olhando um para o outro, fazendo expressões que diziam "e então? Vai dizer nada?".
     - Heh, eu espero que você não esteja pensando que eu vou ser o passivo. - disse Louis.
     - E não vai ser?
     - Óbvio que não. Eu sou intocável, meu amor!
     - Eu também. Mas não te julgo, eu duvido que você fosse aguentar.
     - O que quer dizer?
     - É meio doloroso até para mulheres, não culpo você por não ter coragem para encarar a mim.
     - Você está me desafiando?
     Os olhos de Louis brilharam com o tom de desafio de Ash, e o ruivo achou que o jogo estava ganho. Seria o ativo.
     - Sim, mas se não quiser topar, tudo bem. - Ash fingiu desdém.
     - Ainda bem, se a ideia já era desagradável, simplesmente, por eu nunca ter sido tocado lá atrás, agradeço por ter sido misericordioso. Você merece um prêmio.
     - C-como é que é?
     - Eu sou grande, mas não tão exagerado. Acredito que você vá aguentar, e nada que um bom lubrificante e preliminares não resolvam.
     - E-espera! Não foi o que eu quis dizer -
     - Vou passar na farmácia ou num sex shop para poder resolver isso. Até mais tarde, Ash!
      - EI, LOUIS!!

Devoções Enganosas - Side StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora