Devoções Enganosas - Side Story

Cap 2 - Já pensei em tudo

     Ash acorda às 7h da manhã e desce para tomar café. No caminho, pensa consigo "O meu quarto é até bom, na verdade, é melhor do que o meu antigo. A estante tem livros variados, o espelho do closet é maior e o banheiro tem uma banheira grande... Engraçado isso, é a mesma planta da minha casa anterior, só que parece maior". Descendo as escadas, apenas com um robe longo, amarrado frouxo na cintura, Ash para e tenta se localizar. "Sala, salão, biblioteca é naquela direção, então, a cozinha é...":
     - Bom dia, Sr. Myles!
Marli estava parada ao lado do novo morador da mansão, segurando uma bandeja com um café da manhã reforçado e bem colorido. Havia, até mesmo, um vasinho longo e estreito com uma flor de narciso.
     - Oh, bom dia... Magali?
     - Marli, senhor.
     - Sim, me perdoe. Marli. Bom dia, Marli. Precisa de ajuda com a bandeja?
     - O senhor está se oferecendo para fazer o meu trabalho?
     - Ah, não, não. É só que eu achei que fosse precisar, está muito cheia. Pretende subir essa longa escada carregando tudo isso?
     - Bem, já que o senhor está aqui, não preciso mais subir.
     - Ah, tudo isso é para mim?
     - Sim, senhor Myles. O Sr. Daves pediu para que fosse preparado um café caprichado para o senhor, como forma de boas vindas, já que irá morar conosco a partir de agora. E recebi ordens para levar seu café e servir de companhia para o shopping.
     - Desculpe-me, shopping? Por quê?
     - Bem, é que o Sr. Daves -
     - Mil perdões, me dê aqui está bandeja. Venha comigo até a sala da lareira, preciso comer sentado e ouvir com mais atenção.
     Tomando a bandeja das mãos de Marli, Ash toma a frente para a sala mais próxima que encontra, a sala da lareira. É um cômodo grande, cheio de poltronas e mesinhas de centro, criado mudo com abajur e 2 paredes cercadas louças e pratarias.
     Ash colocou o seu café na mesinha de centro e sentou numa poltrona fofa, fazendo um gesto para que Marli continuasse com o recado:
     - Pois bem. Sr. Daves me deixou encarregada de lhe mostrar toda a casa, tomar nota do cardápio, com suas preferências e alergias em relação à comidas e bebidas. Também devo pedir para que um dos nossos empregados homens acompanhe-o quando for fazer suas compras.
     - Compras? - Ash olha confuso e toma um gole cheio de café com leite.
     - Sim, senhor. Já que o senhor chegou aqui apenas com suas roupas do corpo, Sr. Daves deixou um dos cartões dele comigo. Devo entregar ao senhor, para que reponha seu guarda-roupa. Pijamas, roupas íntimas, sociais, casuais, festivas, sapatos, chinelos. Artigos de higiene pessoal, remédios, pomadas e preservativos também.
     A última palavra deixa Ash desconfortável, mas ele disfarça. Voltando sua atenção à comida, se delicia com o sanduíche que Edith preparou, uma tigela com pedacinhos de frutas em cubos. Marli tira do bolso o cartão de crédito que Louis deixou para ele, juntamente com um papelzinho escrito alguma coisa. Ash fica surpreso, seu amigo tinha mesmo pensado em tudo. Marli se retira, e Ash resolve abrir o papel.
     "Eai, seu cocô, dormiu bem? Seu anjo da guarda mandou um presente, você tem em sua posse meu cartão de crédito com limite mais alto, para que possa comprar tudo o que precise. Não tem que me agradecer, eu sei que sou um homem de bom coração. Vou passar o dia no set de gravações mas volto ao anoitecer. Pode pegar algo no meu closet, para que não vá às lojas vestindo um roupão de banho. L.".
     Ash sorri com gratidão, Louis podia ser um completo pé no saco de vez em sempre, mas conseguia ser legal quando queria. Impressionante. Terminou de tomar o café e procurou o quarto do seu amigo. Acabou encontrando, e entrou.
     O quarto de Louis Daves era diferente do que Ash havia imaginado. Ele conhecia o ator desde a faculdade, era muito... Alegrinho. Achava que teria revistas pornô espalhadas pelo quarto ou um gel pra massagem no criado-mudo. Mas não. O ambiente era organizado e metódico, contava com uma estande cheia de prêmios, M de melhor ator coadjuvante, melhor protagonista, presentes de fãs, lembranças de seu tempo no teatro e mais troféus de atuação e canto. Nas paredes, quadros com fotos de quando era jovem, período do ensino médio, faculdade, teatro, colegas de trabalho, alguns parentes e amigos, e no fim, uma foto deles, em que Ash estava segurando seu irmão Sean, no colo. O ruivo pegou o porta retrato e alisou a foto. "Não acredito que ele tem isso". Pensou. Colocando-a no lugar, ele voltou a fazer o que estava fazendo, procurando o bendito closet.
      Havia duas portas no quarto de Louis, o banheiro e o closet. Aquilo parecia uma passagem para Nárnia. Uma imensidão de casacos, suéteres e calças de linho fino. Sapatos de couro sintético e materiais ainda mais caros. Mais à frente, algo que parecia um balcãozinho com espelho comprido, retangular. Vários perfumes, loções e cremes. "Louis é tão vaidoso, meu Deus...". Mas não podia negar, qualquer passo que Ash dava o fazia adentrar ainda mais em tudo que emblemava a imagem do ator.
     "Eu preciso sair daqui, ou então, daqui a pouco eu vou estar contagiado, deixando o cabelo crescer e ondular, usando roupas de tons claros em azul ou amarelo hahaha". Pegou uma camisa de mangas longas branca, tecido fino, e uma calça jeans escura. Sapatos fechados, mas não tão sociais. "Quero estar simples, mas não desleixado. Só que, se eu me arrumar muito, vou parecer um Louis 2.0, isso tudo é bem a cara dele". Já vestido, Ash saiu.
      Lá fora, Wagner esperava pelo seu novo chefe:
     - Como vai, senhor Myles? Sr. Daves me deixou encarregado de acompanhá-lo nas compras. Vou levar o senhor aonde quiser e ajudar a carregar suas coisas.
      - Muito atencioso, Wagner, obrigado. - Ash entra no carro, logo após, o motorista. Ele da a partida e segue em rumo ao centro da cidade.