Cap 5 - Badum.

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     Os dias passam, tem cerca de um mês desde que Ash foi morar com Louis. Ele estava desanimado, pois ninguém havia entrado em contato com ele para fazer alguma apresentação:
     - Acho que minha mãe fez a minha caveira para Deus e o mundo, não consigo espaço para tocar em lugar algum.
     - Ash, estou preocupado com você. Sei que é difícil ainda, mas o conselho que Edith te deu deveria ser seguido. Deveria se distrair, por que não saímos juntos hoje?
     - Eu não tenho motivação nenhuma para sair, Louis. Queria estar trabalhando, isso sim. Me sinto uma ameba aqui, sem fazer nada.
     - Já sei!
     - O quê?
     - Por que não compõe e grava algumas músicas?
     - Não sei se consigo compôr.
     - Já tentou?
     - Não.
     - Vai que você sabe e não está se permitindo descobrir isso?
     - Hum... É uma boa ideia. Mas o meu piano ficou na casa da minha casa.
     - Isso não é problema, podemos ir buscá-lo. Espera, vou ligar para sua casa.
     Louis sai cheio de pique para a sala principal, pega o telefone, disca e logo é atendido:
     - Residência Myles.
     - Boa tarde, é da casa do senhor Ash Myles?
     - Mil perdões, mas o jovem senhor não mora mais aqui. Agora, esta casa está no nome da matriarca, senhora Vivian Myles.
     - Entendo, e ela se encontra?
     - Quem gostaria?
     - Diga que é o ator Louis Daves, sou um antigo amigo da família.
      - Só um minuto, senhor Daves.
     Ash chega perto de Louis, tocando seu ombro e esse contato súbito assusta levemente o ator, ele faz um gesto para esperar.
     - Alô?
     - Senhora Myles?
     - Oh, Louis. Como está?
     - Vou muito bem, e a senhora?
     - Bem. Soube que meu filho está morando com você.
     - Está. Gostaria de falar com ele?
     O rosto de Ash se ilumina com a possibilidade de falar novamente com sua mãe. Ele estica a mão para pegar o telefone, quando escuta:
     - Não, não gostaria. Mas, diga-me, por que ligou?
     - Eu gostaria de saber se o piano vermelho de cauda ainda está em sua casa.
     - Oh - Vivian não se livrou do órgão musical, era uma lembrança de seu filho favorito, que ela se recusava aceitar que havia largado tudo - Desculpe, Louis, eu leiloei aquilo.
     - Aquilo...? - Ash ficou cabisbaixo e saiu da sala.
     - Entendo, desculpe-me por incomodá-la, senhora. Boa tarde.
     - Boa tarde, Louis.
     Ele desliga e vai atrás de seu amigo, que tinha corrido para o jardim. Estava sentado em um dos bancos, com as mãos juntas, simulando tocar. Louis encontra-o e vendo-o ali, se entristece. Chega por trás e coloca as mãos em seus ombros:
     - Eu sinto muito...
     - Heh... Por um lado, eu entendo.
     - Como assim? - Louis aperta os ombros de Ash.
     - Se eu tivesse um filho que fugisse por causa de um amor incerto, também ficaria magoado, e tentaria excluir qualquer coisa que me lembrasse ele.
     - Eu não acredito em você.
     - O que? - Ash vira para olhar Louis, que dá a volta no banco, para sentar ao lado do amigo.
     - Eu conheço você desde quando? Desde sempre? Sei que não seria rancoroso como a sua mãe, ao contrário dela, você tem um coração enorme. E se você tivesse um filho que chegasse a fazer o que você fez, sei que não iria deserdar ele ou tratá-lo como estranho. Você apoiaria, porquê é isso que você faz.
     - Louis... - Ash sente seus olhos esquentarem, sente que as lágrimas estão vindo e não consegue contê-las. Ele desaba e Louis abraça calorosamente o pianista - obrigado por ser meu amigo.
     - Sem problemas, Ash.
     Eles ficam ali, durante poucos minutos, até que Louis bagunça o cabelo de seu amigo, o que faz ele rir. E quando Ash sorri, com o rosto ainda pouco marcado pelo choro, Louis fica com uma expressão de surpresa.

     - O que está olhando, Louis?     - Ah, nada, é só que -     - Senhor Daves? - Marli chega ao jardim com o telefone de Louis da mão, tocando - Estão ligando para o senhor

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     - O que está olhando, Louis?
     - Ah, nada, é só que -
     - Senhor Daves? - Marli chega ao jardim com o telefone de Louis da mão, tocando - Estão ligando para o senhor.
     - Obrigado, Marli.
     - Quem é? - Ash chega mais perto de Louis para olhar o número, não está salvo na lista de contatos - Você não vai atender?
     - Ah, claro. Com licença.
     O ator sai com o rosto quente, com o celular na orelha. "Meus Deus, meu Deus... O que foi que...".
     - Louis Daves?
     - Sim, sou eu. Quem é?
     - Aqui é o fotógrafo Gregory Lavigne, e estou ligando para saber se o senhor foi informado sobre a sessão de hoje, às 14h.
     - Ah, sim. Sim, sim, para o lançamento do próximo filme. Fui informado. Mas ainda é meio-dia.
     - Só gostaria de saber se o senhor foi informado. Não recebi uma ligação de retorno em momento algum, achei que tivesse desistido e esquecido de avisar. Ou está pensando em remarcar?
     - Não, eu vou hoje mesmo.
     - Vai aonde, Louis? - Ash chega perto do ator, com um olhar curioso - Ah, não me diga que eu vou passar o dia sozinho de novo!
     - Não chora, minha Chica velha, não chora! - Louis cantarolou, zombando. - Sim, senhor Lavigne. Certo, obrigado por ligar... Vou salvar seu contato, obrigado outra vez, até a tarde.
     - O que era?
     - Só um rapaz que o estúdio contratou para fazer as fotos do filme que eu estou gravando.
     - Vai passar a tarde inteira trabalhando de novo, então.
     - Não precisa ficar chateado, pode ir comigo, se quiser.
     - É sério?
     - Claro, mas terá que se comportar bem, hein, Myles?
     - Não me trate como uma criança, Louis. Vou me arrumar.
     - Calma, vou entrar com você.

Devoções Enganosas - Side StoryOnde histórias criam vida. Descubra agora