Louis foi ao estúdio para seguir com as gravações finais, houveram muitas tomadas repetidas por distração dos outros atores. Entretanto, o que ferrou mesmo foi o fato da última cena ser de Louis em uma cama, deitado ao lado de Denise, com ela em seu peito. O loiro não reclamou, roteiro é roteiro, iria seguir, mas, ao tirar a parte de cima de seu figurino, revelou as marcas que Ash havia deixado em sua pele. Alguns arranhões e um chupão.
O set de filmagens inteiro soltaram um "hummm..." para Louis, e alguns comentários como "alguém teve uma noite ótima", ou "parece que tudo está voltando ao normal, hein, Daves!". Uma mistura de vergonha e orgulho envolveu o ator. "Não vou esconder com maquiagem, é quase como um bônus para uma cena de pós sexo. E também... Foi ele que fez. Então, deixe ai", pensou ele.
Antes do fim das filmagens, Ash apareceu no estúdio de surpresa, para buscar Louis. Porém, por sua antecedência, teve que esperar. Enquanto aguardava, o pessoal da produção cumprimentava-o. Diferente de seu parceiro, Ash havia visto as marcas e escondido com uma camisa de gola alta, combinando com ela, um blazer e uma calça social. Não precisava justificar sua elegância casual, já que estava sempre bem vestido.
Durante a espera de Ash, Louis arrumava suas coisas para ir embora, quando Denise chegou ao seu camarim:
- Ótimo trabalho hoje, Daves. A maquiagem que fizeram em você ficou ótima.
- Apenas o mesmo realce de sempre, Denise. Eu sozinho já sou incrivelmente atraente.
- Não foi dessa maquiagem que eu falei, foi dessa de marcas de sexo selvagem. Talvez minha personagem ganhe uma fama de "female fataly" com elas.
- Ah... - Louis riu do comentário de sua colega - Não é maquiagem, são de verdade.
- Hum... Não sabia que gostava desse tipo de coisa. Sempre imaginei você como um amante mais carinhoso.
- Não é algo de se esperar, tendo em vista minha reputação. Eu sou um homem mau.
Louis olhou-se no espelho de sua penteadeira, enquanto trocava de camisa. A atriz estava perto da saída e desejava chegar mais perto. Por que aquele homem tinha que ser tão atraente e além disso, atrativo. "Ele tem uma pele que parece ser feita de baunilha e um cheiro doce...", pensava ela.
- Sabe que - Denise foi até a porta do camarim para terminar de fechá-la e se aproximou devagarinho do loiro - Eu poderia deixar marcas mais convincentes, essas foram bem rasas...
- O que está dizendo?
A mulher envolveu o pescoço de Louis com seus braços e beijou-o. Ele agarrou sua cintura para empurrá-la mas ela mantinha-se agarrada à ele. Com um empurrão bruto, Louis afastou Denise, e a rejeição dele a fez chorar, juntando suas mãos em seu peito. Ash, cansado de esperar, resolveu procurar Louis pelos corredores, até seu camarim e ao abrir a porta, viu o que acontecia:
- Louis?
- Ash!
- O que está fazendo?
- Desde quando está aqui?
Denise continuava chorando, pegou sua bolsa e foi embora, sentindo-se imunda. O ruivo continuava confuso, e começou a pensar bobagens.
- Você... Você estava...? Ela?
- O que? - disse Louis. - Não! Absolutamente.
- Eu quis vir buscar você, peguei o carro com o Wagner. Quis fazer surpresa mas... - Ash olhou para baixo, com seus punhos cerrados - quem ficou surpreso fui eu.
- Me deixa falar, Ash. Não foi nada disso que você pensa.
- Ah, então, eu ver você manchado com batom e uma mulher sair daqui de dentro é só fruto da minha imaginação?
- Mas ela saiu chorando!
- Claro, você rejeitou depois que eu entrei.
- Não, não. Escute-me, por favor.
- Louis.
- Sim?
- Eu recebi uma ligação da minha mãe, fiquei relutante mas vou voltar para minha casa no fim do dia.
- O-o que...?
- É isto, eu vou voltar.
- Não pode estar falando sério. Você sequer deixou eu explicar isso! Agora, está dizendo que vai embora?
- Sim, é isso mesmo - Ash colocou as mãos em seus bolsos e olhou com desprezo para Louis - E quando você chegar em casa, eu já vou ter ido.
- Bem - Louis cruzou os braços e deu as costas - faça o que você quiser. Só posso falar para quem quer ouvir o que tenho a dizer.
- Tudo bem.
- Tudo bem.
Ash vai embora, batendo a porta do camarim. Louis sente o canto de seus olhos ferverem, anunciando um mar de lágrimas de raiva e tristeza, jogando todos os vidros de perfume e maquiagem. Agarrando o espelho, pondo toda a penteadeira a baixo, quebrando-a. O estrondo assusta alguns funcionários, que correm para saber o que aconteceu:
- Senhor Daves! Está tudo bem?
- ME DEIXEM SOZINHO!
- Ouvimos um barulho - disse outro funcionário - o senhor caiu? Está machucado?
- Não por fora... Não é nada visível...
- O que disse?
- FALEI PARA ME DEIXAREM SOZINHO!
Os meninos da produção saem de perto da porta e vão embora. No carro, Ash liga o som bem alto e começa a bater no volante, gritando muito. Raiva, revolta. Sente um amargo em sua boca. Traição:
- Aquele... Imundo, desgraçado. Não acredito... DAVES, SEU VAGABUNDO DE MERDA!
Seus gritos e empurrões no volante ajudaram a extravasar um pouquinho de sua ira, e ao ajustar o espelho, viu seus olhos brilhando de fúria, e lágrimas escorrendo quentes pelas bochechas.
Ao chegar em casa, não falou com ninguém, apenas ligou para o pessoal da companhia de mudanças e mandaram vir buscar o piano, e pediu para as empregadas preparassem as caixas com seus pertences. Ia embora ainda hoje.
Louis levantou-se, havia ficado sentado no chão, abraçando seus joelhos, pensando no que fazer. Decidiu voltar para casa, mas sem Wagner esperando, ou Ash para buscá-lo, decidiu pegar um táxi. Para sua surpresa, o motorista estava lá fora, aguardando como sempre fazia.
- Eu achei que você não viesse hoje, Wagner.
- Senhor Myles pegou o carro para buscá-lo, mas voltou sem o senhor. Disse que ainda estava ocupado e voltou sozinho por isso. Então, vim eu mesmo.
- ... Obrigado.
- Não precisa agradecer, senhor Daves, eu não tenho pressa, posso esperá-lo o tempo que for necessário. Vamos?
- Sim, vamos.
Entrando no carro, Louis manteve-se calado. Mas o motorista notou sua inquietude. Resolveu questionar:
- O senhor teve um bom dia no estúdio?
- Ahn? Ah, tive. Tive sim.
- Está abatido, senhor Daves. Sente-se bem?
- Wagner, posso perguntar uma coisa?
- Claro que sim, senhor, se eu souber respondê-lo.
- Já ocorreu de você acabar se desentendendo com alguém que você gosta muito?
- Ih, acontece bastante, senhor. Minha esposa é uma pessoa maravilhosa mas muito nervosinha.
- E ela é ciumenta?
- Um pouco, mas isso eu lido fácil.
- E se, hipoteticamente, sua esposa visse uma cena constrangedora entre você e uma colega de trabalho. O que aconteceria?
- Conhecendo minha mulher, ela ficaria com tanta raiva que não deixaria-me falar.
- Sim! Meu deus, por quê elas fazem isso?
- Mas sabe o que deveria fazer?
- O quê?
- Pessoas nervosinhas gostam de pensar que estão certas, mas quando a poeira baixa e elas percebem que exageraram, ficam com vergonha. Então, deixe ela ficar calma e depois conversem.
- Mesmo que eu também esteja magoado, não posso dizer nada?
- O senhor não tem a personalidade explosiva, pode acabar tomando fôlego junto com a raiva da outra pessoa. Tem que manter a calma, se disser algo quando estiver assim, pode acabar afastando a outra pessoa para sempre.
- Entendo... E se isso já tiver acontecido?
- Bem, senhor, o melhor é correr para esclarecer as coisas.
Um silêncio habitou o veículo, nervoso, Louis perguntou:
- O que você pensa sobre um casal de homens?
- Eu não me importo, só tenho medo.
- Medo de que?
- Minha filha mais velha é gay, ela sofre pois não sente segurança para segurar a mão da namorada em público. Tenho medo dela sofrer uma violência maior por isso...
- Heh... Já pensou, Wagner, se eu gostasse de mulher e homem...
- Eu não me importo com suas intimidades, senhor, apenas espero que fique bem.
- ... obrigado por dizer isso.
Quando chegaram na mansão, Louis procurou por Ash, chamando seu nome. Nada de resposta. Correu para o quarto dele, batendo forte em sua porta:
- Ash? - bateu novamente - Ash, abra a porta!
- Senhor Myles já foi, senhor Daves. - disse Marli.
- O que? - Louis colocou as mãos na cabeça, com cabelos entre os dedos. Correu escadas a baixo, até a sala do piano. Aonde estava o piano? Aquela sala estava a coisa mais limpa do mundo.
Louis começou a hiperventilar, respirava pesado e rápido demais, olhando a sua volta. Parou, sentando no chão. "Quando foi que aqui ficou tão grande?", pensou.
Edith entrou na sala e foi até o rapaz cabisbaixo, tocou sua cabeça, alisando seu cabelo loiro e macio. Não disse nada, apenas ficou ali. Ele suspirou e chorou novamente. A cozinheira estranhou, e questionou as lágrimas:
- Aaah, Edith...
- Precisa de um abraço, filho?
A doce senhora esforçou-se para sentar ao lado dele, mas não conseguiu. A idade não lhe permitia abaixar tanto, mas ele não se importou e ajoelhou ao lado dela, abraçando seu quadril. Edith continuou fazendo carinho nos cabelos de Louis, e ele desmanchava em lágrimas.
- Eu gosto dele, eu gosto tanto dele. E ele foi embora...
- Você gosta do menino Ash?
- Goooosto... - soluçou e puxou fôlego - Por que ele foi embora? Nem pude dizer nada... Ou pude e não o fiz.
- Bem, você poderia ir até a casa dele, tentar explicar, seja o que for.
- E se ele não quiser me ver?
- Quem não gostaria de vê-lo? Um rapaz tão bonito! - Edith inclinou-se e segurou o rosto de Louis com as duas mãos, passando os polegares nas bochechas dele, secando suas lágrimas - Eu não acho que o menino Ash vá rejeitar suas explicações. Talvez seja apenas orgulho. Sabe como são esses homens poderosos e populares.
- Por um lado, você está certa. Ele é um tanto mimado... Mas, e se não for orgulho?
- E o que mais poderia ser?
- Bem... Eu não sei.
- Se você, que é você, não sabe, ninguém mais sabe. Nem o próprio Ash. Agora, lave esse rostinho bonito, coma alguma coisa e vá a casa dele amanhã.
- Só amanhã? Não é melhor hoje?
- Não, ele pode estar de orgulho fresquinho ainda, muito recente, muito em cima da hora. Talvez, amanhã, ele esteja aceitando visitas ou esperando você ligar.
- Tem razão - Louis soluçou, passando a manga de sua camisa no rosto, enxugando - Eu vou tomar banho e comer, respirar. Acho que uma volta me ajudaria também.
- Sim, está certo. Dê uma caminhada noturna, mas não muito tarde. Você vai ficar bem, filho.
- Obrigado, Edith. O que eu faria sem você?
- Estaria chorando aqui dentro ainda. Agora, suba e tome banho.
- Está bem.
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Devoções Enganosas - Side Story
RomanceAsh e seu irmãozinho Sean foram deserdados pela mãe, entretanto, o caçula conseguiu se reerguer após casar-se com Débora, e Ash foi morar com seu grande amigo, o astro das telas de cinema, Louis Daves.