Capítulo 5 - Descobertas

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Depois daquele beijo, passei a ver Ana com outros olhos. Meu coração passou a acelerar todas as vezes que estávamos próximas. E eu me sentia muito confusa sobre o porque disto, pois nada sabia eu sexualmente falando.

Pode parecer até mentira que uma garota de treze anos não soubesse nada sobre sexo, acho que eu devia ser muito burra, ou muito ingênua. De fato eu não entendia as reações de meu corpo quando estava com Ana. Não mesmo. Mas via que não eram de amizade. Com certeza não.

Algumas semanas depois daquele beijo do qual jamais falaríamos, voltei do golfe com meu Pai e encontrei Ana chorando muito em minha cama. Rapidamente deitei ao seu lado.

--Ei, o que foi? – Ela se jogou nos meus braços, mais uma vez se escondeu do mundo com o rosto em meu pescoço.

--Ele a convidou para jantar! Achou que eu não vi, mas eu vi! – Sem saber o que dizer passei a acariciar seus cabelos como sabia que a acalmava. Aos poucos ela parava de chorar. Ainda com voz de choro perguntou.

--Como sabe esse carinho tão gostoso que me acalma? – Ri e respondi.

--É cafuné. Nunca te fizeram cafuné? – Ela moveu levemente a cabeça negando. Continuei. – Minha Vó Júlia faz isso. Fazia, quando eu era pequena. As vezes eu ficava na casa dela e tinha uns ataques de birra, então ela fazia cafuné e carinho nas minhas costas e eu ficava calminha. – Com voz manhosa ela pediu.

--Faz carinho nas minhas costas então. – Meu coração acelerou. Coloquei a mão dentro da camiseta e passava as pontas dos dedos de leve nas costas dela. Subia até perto do pescoço e descia novamente. Podia senti-la arrepiada. Ela se moveu no meu abraço e sua respiração próximo ao meu ouvido foi quase um gemido.

--É bom! – Ela sussurrou. Assim ficamos por horas. Ela relaxada com aquele carinho, e eu tensa com as sensações que meu corpo não compreendia. Até que senti que ela havia adormecido em meus braços.

Não posso medir o nível de paz das outras pessoas, mas saber que meu carinho podia trazer toda aquela paz para a minha Aninha, acalmar suas dores e seus medos, saber que meu toque podia fazer com que ela não chorasse mais, me trazia uma paz tão grande que duvido que seja comum todos sentirem a imensa paz que eu sentia com Ana acolhida em meus braços. Adormeci com ela.

Eu já me sentia muito confusa. Apesar dos pais maravilhosos e abertos que eu tinha eu era adolescente, e nada mais natural que eu não confiasse neles para conversar sobre sentimentos. Sem conversar com ninguém eu continuava confusa, sem nem passar perto de um entendimento do que ocorria comigo. Isso iria mudar.

Era uma quarta e tínhamos educação física. Enquanto as garotas jogavam volei sentei na arquibancada chateada. Ana não havia aparecido para a aula. Nisto Luana sentou do meu lado.

--E aí? Cadê teu par? – Olhei atravessado.

--Par? – Ela respondeu debochando.

--É, par! Aquela garota que fica pra cima e pra baixo com você! Como é mesmo... Ah lembrei, Ana! Fala logo criatura. Parece tonta! – Empurrei-a com o ombro. Sorri.

--No domingo quando te detonei não parecia tonta não é? – Ela respondeu sem ligar para a minha provocação.

--Me ganhou por um birdie. Isso não é detonar! Seu golfe não é tudo que dizem não! Não acredite neles! – Sorri. Meu golfe era sim muito bom, só que o dela também era. Ela continuou. – Mas esquece isso. Vamos falar de coisa mais importante! Como foi o beijo? – Arregalei os olhos.

--Ei! Não pode! Sabe que não podemos! Você fez um juramento! – Ela me olhou rindo.

--Eu posso! Uma: Fui eu que inventei o jogo! Duas: Juramento em carta de baralho? Fala sério! É a bíblia dos cassinos? E três: Quando me viu jurar com vocês? – Só naquele momento pensei e vi que realmente enquanto jurávamos ela guardava o resto das cartas no estojo. Ela mais uma vez garantiu. – Pode falar comigo! Não vou contar pra ninguém! Estão ficando depois daquilo? – Não compreendi.

--Como assim ficando? – Ela fez uma cara de "nossa como é idiota". Revirou os olhos.

--Ficando Paula! Beijando na boca, se amassando! – Corei.

--Claro que não! Você diz como as meninas e os meninos? Não! Porque a gente ia fazer isso?!

--Porque é gostoso! Só por isso! Eu e a Bruna ficamos sempre. Ficávamos, porque ela fica com meninos e eu nunca disse nada. Então fiquei com uma menina e ela tá uma fera! – Eu estava abismada. Era muita informação. Perguntei bobamente.

--Mas as meninas... Como... Porque nem sei como se fica com um menino e... Não entendo nada disso! – Disse baixando a cabeça envergonhada. Luana falou sério e aproveitei o momento. Era raro quando ela fazia aquela cara e eu sabia que ela não estava brincando.

--Se eu te disser que os adultos vão deixar você gostar de menina vou estar mentindo. A maioria deles vai te dizer que é uma fase, mas não é. Eu gosto de menina. Da Bruna na verdade, acho que ela gosta de mim... Mas tá muito atiradinha ficando com meus amigos depois correndo pra mim... Gosto dela... Mas vou dar um gelo nela pra que ela pense bem o que sente... Meus pais aceitam que eu goste de menina. Só não gostam que eu faça muita farra mas... Enfim, saquei faz tempo que você é doida na Ana. Por isso o jogo, por isso o beijo. Achei que iam se entender depois disso! Já vivem agarradas! – Eu apenas ouvia tudo muda. Fiquei mais tímida. Muito vermelha. Falei sem nem olhar pra ela.

--Lu, eu não sei como me sinto! Sei que meu coração acelera e eu... Mas eu não entendo!.. Tá, tipo sei que as pessoas namoram, e ficam juntas, e daí tem filhos, mas ainda não saquei... Não sei o que acontece entende? – Ela me olhou apavorada.

--Não sacou nem a aula de educação sexual? – Baixei a cabeça com mais vergonha ainda.

--Eu... Eu não vi! Porque tinha lá um penis no livro, e os meninos atrás de mim tavam dizendo umas coisas de pegar no... E pensar nas meninas e... Fiquei com muita vergonha! Botei os fones e baixei a cabeça nem ouvi a professora nem li aquele livro porco! Não quero... Fico com vergonha e acho nojento! Não entendo o que fazem com aquilo mas é estranho e nojento... Eles ficam mexendo nestas "coisas" deles e as garotas acabam grávidas! Não quero ter um bebê! – Nunca mais em toda a minha vida eu veria alguém rir tanto! Por quinze minutos seus olhos corriam lágrimas. Ela deitou no chão, se torcia. Cada vez que achava que ia parar ela olhava pra mim e recomeçava. Quando ela conseguiu se controlar. Ainda rindo um pouco disse.

--Você é um tesouro Paula! Juro por tudo que é mais sagrado que não existe mais ninguém assim! Vem! Vamos lá em casa que vou te explicar tudo. Você precisa deixar de ser tão ingênua! – Se ela estivesse me levando para a sua casa para me comer eu não desconfiaria. Mas não, não era isso.

Sentamos em seu quarto, e diante do meu ser envergonhado ela puxou primeiramente o livro de ciências explicando a parte que eu pulei.

Ela riu muito quando me disse que os homens colocavam aquilo dentro das mulheres, e eu muito vermelha e assustada perguntei porque elas deixavam! Então tirou de uma parte escondida da casa algumas revistas do irmão e avisou que era nojento. Realmente aquelas que haviam homens e mulheres em plena atividade sexual em nada me agradaram. Já as revistas onde haviam apenas mulheres se relacionando, ou posando para fotos, estas me deixaram excitada.

Eu lembraria para sempre daquele momento com Luana, ela me explicou com carinho e respeito coisas e sensações que não estavam em uma revista ou livro, sem abusar da minha ingenuidade em nem um momento. Ali eu vi, Lu era maluca, tinha ideias muito idiotas às vezes, mas era uma amiga com quem eu podia contar.

Luana foi minha professora de teoria sexual. E depois daquela tarde eu sabia ao menos uma das coisas que sentia por Ana, desejo.



NOTA: 

Chega né meninas, cinco capítulos num dia, eu to sendo uma mãe pra vocês! Agora vou esperar pedirem mais, que eu sou difícil ... Mentira não sou não, peçam logo que eu posto!

Tortura-meOnde histórias criam vida. Descubra agora