Capítulo 18 - Se Aproxima o Casamento

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Ainda estávamos no pior ano da minha vida, e ele parecia não passar. Depois do noivado de Ana, de ela abandonar a festa de noivado no começo para dormir nos meus braços, depois de Tio Couto passar aquele sermão nela no outro dia, então ninguém mais falou naquele assunto. Ana fez todo aquele papelão, e recebeu em troca meu colinho para dormir e algumas poucas palavrinhas rudes do pai. Ela era mesmo infantil e mimada e isto começava a me aborrecer.

Eu precisava fazer com que Ana mudasse, mas como ver a pessoa que você mais ama fazer carinha manhosa pedindo seu carinho e não se doar inteira na mesma hora? Este é meu problema! Até hoje é meu problema! O problema real é que eu simplesmente amo imensamente quando Ana faz essas criancices! Quando faz cara de criança levada, quando faz birra, fica emburrada, fala manhoso, faz beiço contrariada... Ana era mesmo infantil, manhosa e mimada, esta era sua personalidade, e eu amava isto, então como mudar algo em sua personalidade que eu amava tanto? Difícil.

Luana me enchia, fazia discurso, fazia sermão, fazia ladainha, dava monólogos intermináveis, tudo afirmando que Ana precisava ser segura como mulher, para se conhecer e saber o que queria. Eu ouvia tudo, mas me desligar de Ana era praticamente impossível! Mesmo que eu quisesse, suponhamos que eu quisesse muito me afastar de Ana, o que não era o caso, a nossa vida tornava isto praticamente impossível!

Como não estar com Ana, se nossas aulas de faculdade haviam acabado de recomeçar, quase todas juntas, e íamos juntas todo o dia? Como cortar esta ligação, se íamos começar a estagiar na empresa de nossas famílias em dois meses e estávamos malucas a estudar documentos, relatórios, números balancetes, gráficos de rendimento e outras chatices? Pra quem eu faria as odiosas perguntas de Estatística III que eu mal conseguia compreender? Sim pois Papai explicava de uma forma tão didática que parecia nem falar a minha língua e o professor da faculdade nem respondia minhas perguntas, dizia que eu já devia saber! E com quem Ana tiraria suas dúvidas de Relação Psicológica Homem-Trabalho se não comigo? Afinal tudo que perguntávamos ao Tio Couto ele dizia "perguntem ao Barreto, eu cuido do planejamento e do Marketing!". Como poderíamos nos desligar se até nossos trabalhos e carreiras estavam unidos mesmo antes de nascermos?

E o mais complicado. Como desvencilhar-se daquele abraço, se no meio das noites que eu dormia sozinha, acordava sentindo aquele corpo maravilhoso se enfiar em minha cama e procurar meus braços? Sim, ultimamente quando Ana pedia para dormir comigo eu negava, inventava uma desculpa, dizia que ela tinha de acostumar longe de mim, afinal ia casar, dormiria com seu marido, não era? Então ela não pedia mais, apenas invadia meu quarto no meio da noite e se aconchegava junto a mim. E eu jamais lhe tomaria as chaves de casa, mesmo porque foi mamãe quem lhe deu logo que sua mãe se foi. Eu nunca expulsaria Ana daquela casa, somente em horas de uma briga muito magoada. Mas ela sabia que podia voltar, ou nem ir se não quisesse. Ali também era sua casa.

Então todas estas coisas tornavam impossível desvencilhar minha vida da de Ana. Não havia como minha vida toda não girar em torno dela, e nem a dela deixava de ser assim com relação a mim. Sendo assim o plano Laranja era um verdadeiro fracasso! Eu simplesmente não conseguia ser grossa com Ana. Eu a amava e nem era da minha natureza. Ana era especial demais para mim para que eu a magoasse um segundo sequer.

O casamento de Ana estava chegando, e eu cada vez mais desesperada. Se de um lado fui dispensada de organizar um casamento, pois a mãe do Noivo queria muito poder fazer isso pelo único filho, por outro lado Luana torturava-me todo o tempo. Eu assistia vídeos de casamento em que os noivos beijavam e se declaravam apaixonados, eu ouvia músicas de casamento, toda a tortura era para que eu resistisse quando chegasse o momento. Ana ia mesmo casar!

Pela primeira vez contrariei a todos e não comemorei meu aniversário. Fugi com Rodrigo e Luana para a serra. Ana ficou muito magoada comigo, chorou muito abraçada a mim quando voltei. Aquilo me doía profundamente. Tudo que eu queria era estar com ela, e dizer o quanto a amava, em vez disto dizia que fui passar este momento especial com meu namorado, enquanto ela sofria por não estar ao meu lado. O que podia fazer? Uma festa? Minha alma estava destroçada, ainda tinha as provas finais da faculdade que se aproximavam, e depois da Formatura aquele maldito casamento!

Tortura-meOnde histórias criam vida. Descubra agora