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— Como você se sente? — O médico perguntou, após examinar Taehyung. Já estava na enfermaria há alguns dias e se sentia bem mais descansado por não precisar estar alerta a todo momento.

— Estou melhor, meus pés não doem mais. — Sua resposta foi curta, mas satisfez o médico, que concordou enquanto analisava o estado de seus machucados.

O enfermeiro se aproximou deles e Taehyung soube que era o momento de limpar as feridas e colocar mais pomadas para cicatrização. Recostado contra o ferro da maca em que estava, seu torso desnudo exibia cicatrizes que não existiam antes de ser convocado para a guerra. Sua pele tornou-se áspera e o que antes era macio, hoje possuía calos.

Sempre quis fazer parte da equipe militar da Coreia, mas nunca teve desejos de estar em uma batalha como seus colegas de trabalho. Para eles, acostumados à romantização da morte e da guerra, parecia incrível defender seu país de tropas inimigas. Mas, para ele, que morava com um professor de história, entendia que batalhas eram bem mais desesperadoras do que se mostrava nos livros e filmes.

— Jin, você falou com ele? — Taehyung perguntou para o enfermeiro. Quando descobriu que ele também tinha ligação direta com seu superior, pediu que ele intercedesse por si, o ajudasse de alguma forma. Como enfermeiro, talvez seu superior aceitasse.

— Ainda não, ele não está no acampamento. — Jin o encarou por breves segundos antes de voltar sua atenção para os machucados no pé de Taehyung. — Eu não entendi muito bem, mas pelo sorriso do tenente, pareceu ser uma coisa boa.

Taehyung se pôs em silêncio, a desesperança sendo recorrente a cada dia que fazia a mesma pergunta a Jin e recebia a mesma resposta. Sempre um problema, uma complicação, uma saída. Acreditava que o enfermeiro não estava mentindo, ainda assim, era frustrante não ter uma resposta. Ansiava pela liberação, não queria mais ter de estar em campo, em meio a constante possibilidade de morte. Viu companheiros morrerem bem na sua frente, outros serem explodidos e ter o sangue deles em suas roupas quando tentou ajudá-los. Não era bonito. Não era limpo. Todas as vezes que avançava uma trincheira, o medo que sentia aumentava, por saber que estavam mais perto das tropas inimigas.

Olhou ao redor e observou os demais soldados em suas macas, alguns despertos, outros em estado de inconsciência. Muitos deles possuíam membros faltando ou ferimentos graves que os impossibilitava de voltar para guerra. Quantas vezes quis ser um deles só para ser liberado? Era algo terrível de se pensar, mas era a verdade. Se fechasse os olhos, podia ouvir o som dos tiros, dos explosivos e balas de canhão sendo disparadas. Conseguia sentir o cheiro de sangue, ouvir os gritos em desespero e os xingamentos trocados. Não adiantava estar deitado em uma maca, seguro do caos se quando fechava os olhos para dormir, os sonhos traziam o anseio desesperador de tudo que já aconteceu nas batalhas.

— Eu não quero voltar. — Jin parou seu trabalho ao ouví-lo. O entendia, afinal. Por vezes, naqueles últimos três anos, precisou ir direto para o campo para tratar de feridos enquanto via homens serem mortos. Salvava uns vendo outros perecerem. Sabia o que Taehyung sentia e compartilhava disso.

— Você não vai. — Jin o encarou, seu olhar hesitante. Confiava em Taehyung, mas desde que ouviu a conversa do seu superior, teve medo de verbalizar aquilo para alguém e a história se espalhar como o próprio vento. Mas vê-lo com uma expressão distante, sem a esperança habitual que lia em seus olhos o desestabilizou. — Eu ouvi uma coisa.

Jin se aproximou. Taehyung o encarou por alguns segundos antes de perceber que o que ouviria era sigiloso. A expressão com que Jin o olhava de volta era pura hesitação e receio. Observou-o em silêncio, sentando-se na cama para que Jin pudesse fazer o mesmo. Ninguém poderia ouvi-los.

À tua espera [TaeGi]Onde histórias criam vida. Descubra agora