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— Você ouviu as notícias, garoto? — O carteiro o encarou sobre os ombros enquanto procurava por uma carta que já sabia não existir. Yoongi recebeu uma há quinze dias e já estava ali desejando outra, sendo que ele mesmo sabia que o tempo mínimo entre uma carta de outra era de pelo menos um mês.

— Nada? — O brilho em seus olhos foi desaparecendo à medida que via o senhor se aproximar sem nada em mãos. Era frustrante, mas sabia que era o mais provável de se acontecer. Ele nem deveria estar ali, só que ao acordar naquela manhã sentiu uma necessidade incontrolável de ir até ali para ao menos tentar.

— Você já esperava por isso. — O senhor o repreendeu, temeroso por ver o garoto se arriscar desnecessariamente. Voltou-se para ele, o balcão os separando. — Deveria voltar ao trabalho.

— Eles têm ficado mais agressivos. — Yoongi sussurrou, o cenho franzido em indignação. No dia anterior tinha deixado uma caixa com pólvora cair no chão e sofreu as consequências de seu descuido.

— O que eles te fizeram, garoto?

— Como sabe que foi comigo? — Yoongi recuou, entrando na defensiva. Confiava no homem a sua frente, por isso sempre acabava contando uma ou outra coisa do que acontecia na fábrica. Já viu coisas horríveis acontecerem e os japoneses gostavam de cometer seus atos contra eles na frente de todos para que servisse de lição. De violência psicológica a sexual, os trabalhadores tinham que sobreviver para não acabar cedendo e sucumbindo ao desespero de serem oprimidos quase que todo o tempo.

— Você está mancando, por mais que tente disfarçar. — Yoongi desviou o olhar diante da resposta precisa, a vergonha intimidando-o sob aquele olhar. — E eu o vejo encolhido, como se quisesse proteger seu corpo de algo.

— Não aconteceu nada demais. Eu cometi um erro e fui punido por isso.

Diante da resposta evasiva, o senhor suavizou o olhar. Para ele, Yoongi ainda era uma criança, por isso seu lado paternal se sobressaiu. Projetava nele o carinho e proteção que não poderia mais oferecer ao seu falecido filho. O homem levantou a bancada e foi até a porta de entrada para trancá-la, retornando para sua posição de antes, mantendo a bancada suspensa.

— Venha aqui, vamos ver esses machucados.

Yoongi atravessou a bancada e seguiu o idoso para o interior do prédio, descobrindo que ele morava nos fundos. Uma casinha escondida entre prédios se destacava pelas cores vivas e alegres, um total contraste contra as elevações que a cercavam.

Em silêncio, seguiu-o, envergonhado demais para verbalizar seus pensamentos. Nunca pensou em saber o nome do homem que há três anos lhe entregava as cartas de Taehyung e agora estava indo para sua casa. Sentia-se como um invasor, não se achando no direito de ultrapassar o limite da formalidade e conhecer a intimidade da vida dele.

— Eu não posso demorar. — Tentou soar apreensivo, ainda que não estivesse. Tinha algum tempo até que realmente precisasse voltar, teve a sorte de encontrar o carteiro disponível apenas para ele.

— Você acha que vai conseguir passar horas trabalhando com esses machucados? — O homem resmungou ao se virar para encará-lo e negou com a cabeça, Yoongi desviando o olhar para o chão no mesmo instante. Calando-se, aceitou seu destino e entrou em sua casa, o cheiro de comida logo invadindo suas narinas e fazendo-o perceber o quão faminto estava.

Uma senhora apareceu na sala de estar assim que a porta foi fechada atrás de si e Yoongi tentou se inclinar em respeito, o movimento lhe causando tanto desconforto que mordeu os lábios para não deixar escapar o mínimo gemido. Quando se ergueu, abraçou-se em defesa. Os olhos dos dois estavam fixos nele.

À tua espera [TaeGi]Onde histórias criam vida. Descubra agora