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— Você está pronto para partir? — Taehyung encarou seu amigo e tentou sorrir. Levantou-se e o acompanhou, sua grande bolsa presa em seu corpo.

Quase não pôde acreditar quando as notícias chegaram. O Japão tinha oficialmente se rendido após o bombardeamento de duas cidades e ele e seu batalhão estavam livres para voltar para casa. Era o fim de um período de combate e desespero pela vida. Naquele dia, permitiu-se chorar, finalmente sabendo que conseguiria chegar vivo em sua casa, para seu noivo. Queria poder enviar uma mensagem, mas achou melhor fazer uma surpresa. Se Yoongi estivesse acompanhando as notícias, estaria o esperando a qualquer momento.

Sua felicidade, contudo, não durou tanto. Na manhã seguinte, soube do bombardeamento em Seul e se desesperou por notícias mais detalhadas, mas não era como se alguém além dele conhecesse Yoongi. Tentou pensar positivo, mas não conseguiu. Sabia que seu noivo estava trabalhando para os japoneses. Se ele estivesse seguro do bombardeamento, talvez não tivesse conseguido se proteger dos japoneses.

Seu anseio para voltar para casa aumentou, mas precisou esperar o dia seguinte. Em seus pensamentos, Yoongi era o único presente. Não sabia a gravidade da retaliação japonesa, não conseguia imaginar como seu noivo estava e não pensava em outra coisa além da culpa que sentia por não estar perto dele em um momento tão caótico.

Seguiu as ordens de seus superiores para desfazer o acampamento, mas agiu de forma automática. Não conseguiu acompanhar a felicidade de seus colegas, por mais satisfeito que estivesse em não estar mais em campo e saber que em algumas horas estaria em casa. Sem mais anos, meses ou semanas. Em algumas horas estaria no único lugar que desejava e com a única pessoa que lhe interessava.

Realizar tais tarefas tomou grande parte de seu dia. Quando estava desmontando a sua própria barraca, ouviu o barulho de carros se aproximando e ouviu gritos ao longe sobre serem os pelotões americanos que estavam chegando. Apressou-se para terminar com sua barraca e se ver livre daquilo tudo. Só levaria todas aquelas coisas consigo porque ainda seria um soldado depois que a situação se acalmasse. Era um soldado antes da guerra, continuaria sendo depois dela.

Colocou a barraca em sua bolsa e levantou-se. O cansaço finalmente se mostrando presente. Pelo menos agora poderiam tomar um banho decente antes de embarcarem nos carros para serem levados dali.

Aproximou-se dos homens que chegaram, mas ainda se manteve afastado. Não sabia falar a língua deles, então não faria diferença tentar um diálogo. Além disso, se pudesse perguntar algo seria sobre Seul e o que tinha realmente acontecido. Como duvidava que teria a resposta desejada, apenas desistiu e se virou para ir até a longa fileira de barris cheios de água dispostos ao ar livre.

Conseguiram água e sabonetes com os moradores da região. Foi a maneira que eles encontraram de agradecer todo o esforço em conter o avanço japonês em suas terras. Pela quantidade de água disponível nos barris, imaginou que todos poderiam tomar um banho demorado e ainda restaria água. A perspectiva de um banho de verdade o animou. Há muito tempo não sabia mais o que era cuidar de si e de sua higiene.

Retirou suas roupas ali mesmo, a vergonha de estar desnudo na frente de tantos outros homens há muito tempo estava perdida. Aproximou-se de um dos barris e pegou a vasilha, o frio atingindo-o como pequenas agulhas perfurando-o. Apressou-se. Molhou seu corpo e cabelo, vendo a poça sob seus pés suja, ainda que estivesse escuro. Esfregou-se, ensaboou-se, lavou-se. Deixou as lágrimas ansiosas misturar-se à água. Não economizou na água, vez ou outra sorrindo por sentir que estava ficando limpo. Depois de três anos sentia novamente aquela sensação refrescante. Cuidou de cada pequena parte de seu corpo, especialmente seus pés, lembrando-se de quase tê-los perdido. Não era uma memória agradável e a sensibilidade dos machucados permaneceu consigo.

À tua espera [TaeGi]Onde histórias criam vida. Descubra agora