† CAPÍTULO QUATRO

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Eram quatro da manhã do primeiro dia.

Tanto Jônatas quanto Bella não conseguiram pregar o olho durante a noite, sem saber o que pensar. Seus pais estavam dormindo na cabine à frente, onde foram improvisadas algumas poltronas devido ao esforço de Paula em deixar claro que não ia sair de perto do filho. Bella não conseguiu não sentir inveja de Jônatas por ter uma mãe tão preocupada, tão carinhosa, tão... real. Sua mãe parecia um robô, sem qualquer vestígio de sentimentos em seu rosto. Ela sabia que seu pai estava sofrendo, mas não conseguia se sentir melhor com isso.

_ Isso não tem como ser real. – Ela se sentou na cama, curvando o corpo para frente, com cuidado para não puxar o acesso em seu braço.

Jônatas abriu os olhos. Encarou o teto acima, tentando resgatar alguma palavra que ele conhecia para dizer à Bella.

Agora, em menos de três dias estariam mortos.

_ Infelizmente, é real. – Ele disse. Seu coração queria muito dizer algo bom, confortar Bella, mas ele duvidava que ela fosse receber.

_ Qual o seu problema? – Perguntou, surpreendendo Jônatas e fazendo com que olhasse para ela.

_ Problema?

_ Sim. Qual é o seu problema? – Ela aumentou o tom da voz, fazendo com que a médica ao lado da redoma, que estava cochilando, abrisse os olhos.

_ Fale baixo, irá acordar os outros. – Falou ele.

_ Uma hora você está todo “vai ficar tudo bem", outra você diz que é isso, vamos morrer e ponto. – Ela o ignorou.

_ Me diga o que você quer ouvir, que eu digo. – Rebateu ele, e ela se surpreendeu. Jônatas se arrependeu imediatamente, e soltou o ar, voltando a encarar o teto. – Me desculpe, Bella. Mas, sinceramente, eu não sei o que te dizer.

_ Só... não diga nada. – Ela disse, olhando para seus pais à frente, querendo recomeçar a chorar.

Alguns minutos se passaram. Ele pensou em permanecer calado, mas a verdade em que acreditava enchia seu peito de esperança.

_ Sinceramente, eu não estou com medo.

Bella o encarou novamente, a primeira lágrima caindo enquanto o observava se levantar no leito e se sentar de frente para ela.

_ Nós temos a Cristo. Viver é bom, mas... morrer é lucro. – Disse, o início de um sorriso no canto dos lábios.

Bella desacreditava do que estava ouvindo.

_ Jura? Nós?

_ Sim. Nós. – Ele arqueou a sobrancelha, sem conseguir entender a reação de Bella às suas palavras, que tanto o confortavam.

Ela balançou a cabeça, e segurou a língua para não lhe responder o que pensou. Já fazia anos que pedia à Jesus por ajuda.

E ela nunca veio.

Jônatas percebeu algo estranho em seu olhar. Um misto de raiva e angústia, ou algo até mais forte. Seu coração se apertou de maneira incomum, e ficou observando o rosto de Bella fixamente.

_ O que foi agora? – Perguntou ela, com raiva.

_ O que você tem, Bella?

_ O que eu tenho?! Eu vou morrer. Se for ver, também não acho tão ruim assim.

_ Por quê?

_ Você não tem direito de perguntar sobre mim.

_ Então tá, desculpe. – Ele levantou as palmas das mãos. – Não quero me intrometer, só estou preocupado com você.

O Último SuspiroOnde histórias criam vida. Descubra agora