Os seus olhos abriram vagarosamente. Os borrões à sua frente demoraram a ganhar forma. Algo estava preso ao seu braço, e ele levou a mão ao local inconscientemente, sentindo uma espécie de tubo... talvez algum curativo. Olhou para o braço, e lá estava o acesso. Reconheceu o objeto médico, e franziu as sobrancelhas. Olhou em volta e a luz estava meio metálica, uma luz branca... Algo branco...
Ele se ergueu e viu um reflexo à sua frente. Seu reflexo, meio borrado. Não era um espelho de fato, mas refletia sua imagem. Ele estava vestindo um roupa azulada, e... haviam outras pessoas depois daquele vidro que estava à sua frente, longe.
Alguém dizia:
_ JÔNATAS, JÔNATAS, MEU FILHO! – Reconheceu a voz de Paula, sua mãe. Ela estava chorando. Focalizou mais a sua visão naquelas pessoas, e percebeu três. Seus pais estavam entre elas, e mais um irmão da Igreja, que de repente lhe havia fugido o nome.
_ O que estou fazendo aqui?! – Ouviu a voz de Bella, e se voltou à ela. A moça estava eufórica, erguendo o tronco do leito. Olhando mais uma vez, percebeu que literalmente estavam dentro de uma caixa de vidro. Dentro dela haviam dois leitos, um em que estava e o de Bella, e uma porta também de vidro na frente, com um compartimento onde provavelmente era passado algo de fora para dentro.
A questão era: o que estavam fazendo ali?
Não demoraram muito a descobrir. Onofre, pai de Bella, começou a gritar por médicos e alguém por nome Cassandra. Os três chegaram logo depois. Os médicos, porém, estavam vestidos de modo inusitado. Vestiam roupas especiais, daquelas que cobrem todo o corpo, para protegê-los de... doenças contagiosas.
Jônatas engoliu em seco ao perceber. Eles estavam dentro de uma caixa de vidro, isolados, os médicos se aproximando com roupas especiais... os sintomas anteriores.
Bella estava totalmente apavorada. Odiava hospitais – não por alguma questão do passado, mas por simplesmente não ser um lugar agradável. Da mesma forma que Jônatas, ela conseguia associar o que estava acontecendo, porém não estava calma. Não conseguia entender como ele não estava gritando, como ela estava prestes a fazer.
_ Boa noite, Jônatas e Bella. – Disse um dos dois médicos com as roupas especiais, com uma voz séria. Já era noite?
Não conseguia ver o rosto de nenhum dos dois, e isso a apavorada ainda mais.
_ Eu sou o doutor Yago. – Continuou. – Essa é a doutora Kátia. – Ele apontou para a outra pessoa ao seu lado, que agora sabiam que era mulher.
_ O que... o que estamos fazendo aqui? – Jônatas conseguiu perguntar, percebendo a voz rouca. Ouviu o choro de sua mãe, sensível como sempre.
_ Então, Jônatas, não temos boas notícias.
O coração dele bateu mais forte ao ouvir isso.
_ Vocês contraíram uma doença chamada Amberzia Cossus.
_ Amberzia Cossus? – Repetiu Cassandra, a mãe de Bella. Mesmo sabendo como sua mãe era, Bella ainda... esperava que sua mãe demonstrasse mais os sentimentos que uma mãe deveria ter pelos filhos. Ela parecia fria como gelo.
_ Sim, senhora. – O médico virou-se rapidamente para os familiares. Onofre mantinha-se ao lado da esposa, mas não a tocava, como Vando fazia, segurando os ombros de Paula. – Essa doença é raríssima. Uma em cada 100 mil pessoas a contraem. – E se virou totalmente para os jovens na redoma de vidro. – A senhora que estava junto com vocês lhes passou a mesma.
O doutor explicou que essa doença é contraída pelos próprios velhinhos, quando os mesmos tem uma anomalia em seus alvéolos pulmonares, causada pelo excesso de consumo de uma vitamina chamada Galiza, presente em alimentos vermelhos. Para a grande maioria dos organismos, essa vitamina é muito benéfica. Porém, para os velhinhos que possuem a anomalia, o excesso dela causa desregulação em suas trocas gasosas, fazendo com que a reação química nos alvéolos pulmonares passe a levar mais gás carbono que oxigênio ao corpo.
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O Último Suspiro
Short Story† CONTO CRISTÃO † --- Mas todos podem ler! O interior de Bella está um caos. Após ser deixada esperando no centro comercial da cidade, enfrentado dificuldades no trânsito, e ainda ter perdido o evangelismo na Igreja, exala ódio. Jônatas, mesmo sem a...