Já era meio dia. Os sintomas haviam começado a aflorar nos dois, sincronizados. A vermelhidão na pele se tornava cada vez mais visível, causando também algumas coceiras. Jônatas havia vomitado logo após as oito horas, e Bella também sentia o seu estômago querer expulsar os líquidos que ingerira. Os médicos não saíam de cima deles, monitorando a sua oxigenação, os batimentos cardíacos, a tosse que não lhes dava descanso.
De manhã, Célio havia vindo ver Jônatas. Ele disse que os médicos não deixavam ninguém entrar além dos familiares, mas pediu que seus pais intercedessem à seu favor.
Estava totalmente abalado com isso. Não conseguia sequer pronunciar a ideia de que Jônatas iria morrer. Diversas vezes, na rápida conversa que foi permitida aos dois, Célio teve de parar para se recompor do choro. Jônatas sofria por ver a dor que o seu amigo sentia, mas doía ainda mais por saber que não poderia ajudá-lo. Ele estava sempre orando por Célio, mas nesse caso, era ele quem precisava de oração.
_ Eu não quero que isso seja real. – Pronunciou ele, após um médico lhe dizer que outra pessoa precisava entrar.
_ Não se preocupe, meu amigo. Cristo está comigo. – Disse para ele.
A dor em seu coração era palpável, mas Jônatas sabia que, maiores que os seus sentimentos a respeito de uma situação, eram as verdades estabelecidas por Deus em seu coração.
E uma das verdade de Deus é que a Sua vontade é boa, perfeita e agradável. Mesmo que ainda não compreendesse, confiava nisso.
Célio foi praticamente arrancado à força da cabine à frente da redoma de vidro. Bella sentiu mais uma vez uma inveja profunda de Jônatas, por ter pessoas que o amavam. Mesmo assim, ele nem ao menos se emocionava. Nem parecia humano. Parecia inabalável.
Não sabia se isso era positivo ou não. Só fazia se sentir uma deslocada, desesperada. Só ela parecia sofrer com a situação. Mais uma vez, a solidão era sua fiel companheira.
Fernanda apareceu em seguida, mas ela não a recebeu. Continuou encolhida, com os olhos fechados, fingindo dormir até quando Jônatas lhe cutucou o braço. Ela não queria receber ninguém, mesmo que ouvisse o choro da amiga. Ela queria apenas morrer sozinha.
Quando Fernanda finalmente foi embora, os seus pais voltaram para a cabine. Não conseguiu permanecer fria com a situação. Mesmo que se sentisse sozinha, ela evitava companhia. Não conseguia se entender.
As lágrimas corriam por seu rosto, sem ninguém perceber. Ela havia aprendido a chorar sem ser ouvida.
Paula não parava de tagarelar com o filho, junto de Vando, tentando conversar sobre assuntos que não tivessem a ver com o que estava acontecendo. Por diversas vezes, a conversa foi interrompida por tosses da parte de Jônatas, que eram monitoradas de perto pelo doutor Yago. Lhe entregava água para molhar a garganta e alguns comprimidos para dor pela passagem da parede de vidro à frente, já que seu estômago começara a doer. Mas não parecia adiantar de modo algum. O doutor aumentou a taxa de concentração do soro que ele tomava, e Bella sentiu um medo súbito e apavorante de Jônatas morrer primeiro. Ela não iria suportar ficar sozinha até ali. Não. Isso não.
Passou a tarde toda calada, e ignorou completamente tudo o que Jônatas ou os próprios pais falavam para ela. Não queria pronunciar uma palavra. Se falasse apenas uma, seria como se abrissem uma torneira no seu coração. E ela não sabia se conseguiria fechá-la depois.
Os pais dos dois foram obrigados pelos médicos à saírem da cabine para comerem alguma coisa, caso contrário seriam mais quatros pessoas doentes, o que não ajudaria em nada.
Jônatas sentiu que aquele era o momento.
_ Bella?
A moça não se moveu.
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O Último Suspiro
Short Story† CONTO CRISTÃO † --- Mas todos podem ler! O interior de Bella está um caos. Após ser deixada esperando no centro comercial da cidade, enfrentado dificuldades no trânsito, e ainda ter perdido o evangelismo na Igreja, exala ódio. Jônatas, mesmo sem a...