Capítulo 5

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Só existe uma parte ruim quando meu pai está em casa: não consigo faltar aula.

Quando ele não está, é fácil contornar meus avós e faltar aula, mas sempre que ele está aqui, é impossível. Ele não gosta que eu falta aula, como ele mesmo diz "você já tem certa dificuldade em aprender e entender as matérias, se ficar faltando as aulas, fica mais difícil".

Esse é o mesmo discurso que escuto desde os meus 10 anos, quando fui diagnosticada com TDAH. E quando eu pedi que meu pai e avós não contassem para ninguém, incluindo os meus professores, sobre isso, tivemos uma pequena discussão. Mas eles aceitaram, talvez porque achassem que uma hora eu ia mudar de ideia e contar para todos que mereciam, e deveriam, saber. Mas nunca contei. Nem mesmo para Fabi, pelo menos ela não me julgava pelas notas ou a falta de atenção.

E agora minha dupla é outra. Justamente a que mais me julga pelas notas, por isso não queria ir até a escola hoje, ontem já foi um pesadelo e hoje vamos decidir o que cada um vai fazer na olimpíada de matemática e feira de profissões, então vai ser três vezes pior por ter tanta coisa para conseguir gravar, sem contar que esses trabalhos são sempre difíceis e não vou ter minha melhor amiga do meu lado dessa vez.

Já sabendo que não vou conseguir escapar, desço depois de pronta e encontro a minha família sentada na mesa da sala de jantar tomando café da manhã.

— Bom dia — digo deixando a mochila do lado do sofá e indo ocupar meu lugar de frente para minha avó.

— Bom dia — me respondem os três em uníssono.

— Vou te buscar na escola hoje, filha — meu pai diz pegando uma tigela de salada de frutas para mim — Quer ir em algum lugar depois do colégio?

— Pode ser — respondo começando a comer — Preciso de tinta nova. E lápis de cor. E caneta. E cadernos de desenho. E um sapato novo. E talvez algumas roupas — digo com pausas entre cada frase.

— Calma ai, garotinha — meu avô diz rindo — Pensa com calma se precisa mesmo de cada uma dessas coisas e depois vocês comprar.

Dou de ombros e volto a comer. Depois disso, o assunto seguiu sendo sobre a última viagem do meu pai, ele reclamou um pouco sobre ter tido mais trabalho que o habitual, porque o parceiro de trabalho dele não foi por alguma coisa envolvendo a ex-mulher ou algo do tipo, meu pai não sabia muito bem.

Mas logo chegou a hora de ir para o meu maior pesadelo. Também conhecido como escola.


A escola estava um terror maior do que já era.

Anthony não parava de se movimentar na cadeira ao meu lado e isso me distraia tanto que mal consegui prestar atenção nas primeiras aulas e perdi mais da metade das anotações.

Mas quando a aula de história começou, as coisas ficaram ainda piores. Todos os anos temos uma aula especifica sobre a família real portuguesa e como está a situação dela atualmente. Nunca entendi muito bem o porquê dessas aulas, mas fazem parte da grade obrigatória.

— Esse ano, parece, que as tensões familiares aumentaram. — A professora já havia explicado as tensões anteriores e agora contava a parte importante. — Como já disse, e vocês já fizeram anotações, tudo isso começou depois de d. Maria II ter retomado o trono que seu tio, Miguel I, a roubou, mesmo com os esforços que seu pai, D. Pedro I, teve para que o irmão mais novo não conseguisse o trono após sua morte.

Começo a notar que a agitação do Anthony estava maior e dessa vez ele não ia me atrapalhar.

— Escuta, para de se mexer antes que eu enfie essa caneta na sua garganta.

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