Só existe uma parte ruim quando meu pai está em casa: não consigo faltar aula.
Quando ele não está, é fácil contornar meus avós e faltar aula, mas sempre que ele está aqui, é impossível. Ele não gosta que eu falta aula, como ele mesmo diz "você já tem certa dificuldade em aprender e entender as matérias, se ficar faltando as aulas, fica mais difícil".
Esse é o mesmo discurso que escuto desde os meus 10 anos, quando fui diagnosticada com TDAH. E quando eu pedi que meu pai e avós não contassem para ninguém, incluindo os meus professores, sobre isso, tivemos uma pequena discussão. Mas eles aceitaram, talvez porque achassem que uma hora eu ia mudar de ideia e contar para todos que mereciam, e deveriam, saber. Mas nunca contei. Nem mesmo para Fabi, pelo menos ela não me julgava pelas notas ou a falta de atenção.
E agora minha dupla é outra. Justamente a que mais me julga pelas notas, por isso não queria ir até a escola hoje, ontem já foi um pesadelo e hoje vamos decidir o que cada um vai fazer na olimpíada de matemática e feira de profissões, então vai ser três vezes pior por ter tanta coisa para conseguir gravar, sem contar que esses trabalhos são sempre difíceis e não vou ter minha melhor amiga do meu lado dessa vez.
Já sabendo que não vou conseguir escapar, desço depois de pronta e encontro a minha família sentada na mesa da sala de jantar tomando café da manhã.
— Bom dia — digo deixando a mochila do lado do sofá e indo ocupar meu lugar de frente para minha avó.
— Bom dia — me respondem os três em uníssono.
— Vou te buscar na escola hoje, filha — meu pai diz pegando uma tigela de salada de frutas para mim — Quer ir em algum lugar depois do colégio?
— Pode ser — respondo começando a comer — Preciso de tinta nova. E lápis de cor. E caneta. E cadernos de desenho. E um sapato novo. E talvez algumas roupas — digo com pausas entre cada frase.
— Calma ai, garotinha — meu avô diz rindo — Pensa com calma se precisa mesmo de cada uma dessas coisas e depois vocês comprar.
Dou de ombros e volto a comer. Depois disso, o assunto seguiu sendo sobre a última viagem do meu pai, ele reclamou um pouco sobre ter tido mais trabalho que o habitual, porque o parceiro de trabalho dele não foi por alguma coisa envolvendo a ex-mulher ou algo do tipo, meu pai não sabia muito bem.
Mas logo chegou a hora de ir para o meu maior pesadelo. Também conhecido como escola.
A escola estava um terror maior do que já era.
Anthony não parava de se movimentar na cadeira ao meu lado e isso me distraia tanto que mal consegui prestar atenção nas primeiras aulas e perdi mais da metade das anotações.
Mas quando a aula de história começou, as coisas ficaram ainda piores. Todos os anos temos uma aula especifica sobre a família real portuguesa e como está a situação dela atualmente. Nunca entendi muito bem o porquê dessas aulas, mas fazem parte da grade obrigatória.
— Esse ano, parece, que as tensões familiares aumentaram. — A professora já havia explicado as tensões anteriores e agora contava a parte importante. — Como já disse, e vocês já fizeram anotações, tudo isso começou depois de d. Maria II ter retomado o trono que seu tio, Miguel I, a roubou, mesmo com os esforços que seu pai, D. Pedro I, teve para que o irmão mais novo não conseguisse o trono após sua morte.
Começo a notar que a agitação do Anthony estava maior e dessa vez ele não ia me atrapalhar.
— Escuta, para de se mexer antes que eu enfie essa caneta na sua garganta.
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Nossa verdade.
RomanceDizem que um segredo nunca é mantido assim por muito tempo. Sempre alguém conta. Por raiva, amor, preocupação ou até maldade pura. Por isso sempre devemos guardar os segredos somente com uma pessoa, nós mesmos. Talia sabia disso mais do que ningu...