O que está acontecendo?
Eu quase beijei a Talia. A Talia. A pessoa, fora minha família, que eu não suporto olhar.
Sabia que ajudar ela a estudar seria um erro, mas o medo de ter as falhas dela para minha ficha e minha mãe descobrir algo sobre a minha vida falaram mais alto e eu a ajudei.
Agora aqui estou eu, correndo o mais rápido que posso para chegar em casa antes que eu decida pegar outro caminho.
Geralmente penso muito antes de fazer algo, mas aquilo? Eu não pensei, a minha cabeça achava que aquilo era a coisa certa. Eu convivo com ela há uma semana, não posso ter deixado de odiar ela. E sei que não.
Odeio aquele jeito arrogante dela, odeio que ela ache que está sempre certa, odeio que ela se defenda ofendendo a outro. Eu a odeio!
Então, como posso ter quase a beijado?
— Filho? Onde foi? — meu pai pergunta do sofá da sala assim que passei pela porta de casa.
— Caminhar — respondo secamente.
— E aquela sua amiga?
— Foi para casa. Vou estar no meu quarto — digo já subindo rápido para não o dar tempo de pensar em mais perguntas ou suposições.
Entro no quarto depressa e logo me deito na cama, não estava afim de pensar ou fazer mais nada, mas, assim que joguei mais braços para cima, senti algo esbarrando na minha mão e quando fui olhar, me arrependi.
Pego as cartas que o porteiro entregou para Talia me entregar.
Deixei as cartas dos últimos 6 meses lá na portaria, depois de mais uma carta mensal que me dizia para manter mais segredo do que eu já mantinha, me estressei com tudo aquilo mais uma vez, então parei de pegar as cartas. E parando para pensar, foi por isso que ela ligou para o meu pai da última vez, não existe outro motivo para aquela ligação.
Meu pai.
O maior erro dele naquela noite foi ter bebido mais do que deveria para comemorar o novo emprego e agora tem que lidar com uma rainha que sempre teve tudo do jeito que queria e o filho deles que foi a "pequena" consequência de uma noite.
Quando fiz 14 anos conversei com ele e entramos em um acordo que aquilo agora seria minha responsabilidade, claro que ele não levou a sério e continuou cuidando de tudo, só que, conforme os anos passaram, ele foi deixando que a situação fosse para cima de mim em alguns aspectos.
Meu maior desejo não é nem que ela me deixe em paz, sei que não vai, mas o meu pai já fez tudo que precisava, agora era hora dele descansar.
Mais por uma curiosidade achando que algo importante estava escrito nas cartas, talvez ela tenha escrito algo diferente e por isso ligou para o meu pai, porque não dei uma resposta a ela.
Pego a primeira carta e, como sempre, percebo que estou admirando o selo. Nunca fui de prestar atenção nessas coisas pequenas, mas o selo é muito antigo, para que ninguém soubesse que veio da casa real, foi pedido que esses selos fossem refeitos de uma diferente forma, a intenção era para ser segredo, mas não foi possível. Então ela deu como justificativa que aquele era o selo favorito do pai dela, então ninguém desconfia do porque esses selos foram impressos mais uma vez e entregues somente a ela.
Essa história me impressiona desde que me lembro e, por isso, sempre gostei de olhar o selo, ele é lindo e nunca vou cansar disso. Essa é a única coisa que eu gosto nesse situação.
Abro a primeira carta, que como sempre não tinha remetente, e não me surpreendo com o conteúdo:
Oi, filho. Espero que esteja bem até a chegada dessa carta.
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Nossa verdade.
RomanceDizem que um segredo nunca é mantido assim por muito tempo. Sempre alguém conta. Por raiva, amor, preocupação ou até maldade pura. Por isso sempre devemos guardar os segredos somente com uma pessoa, nós mesmos. Talia sabia disso mais do que ningu...