II - Morrerá aqui sozinha

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Pelas minhas experiências anteriores, seriam aproximadamente três dias de viagem de Hallsburg até Hekser. Nesse tempo, descansei algumas vezes em cima de árvores, mas eram cochilos rápidos, pois a minha mente estava em alerta o tempo todo. Acho que nunca usei tanto o meu treinamento de camuflagem como daquela vez. Passei por vários grupos de ladrões e era meio difícil esconder um cavalo tão grande como Kratos, mas ele era tão inteligente que até me ajudava. Quase fui pega por um dos grupos, mas o cavalo deu um coice generoso em um deles, o que deixou os outros assustados.

— Vou ter que arrumar umas cenouras pra você, amigo — falei depois que enfrentamos aqueles caçadores. — Você é incrível. — Ele relinchou e continuamos o caminho.

Quando comecei a reconhecer o ambiente da floresta de Hekser, tudo ficou estranho. Fiz Kratos andar mais devagar e tentei ouvir os barulhos da floresta. Infelizmente, fui um pouco lenta e uns sete homens me encurralaram. Eles atiraram uma espécie de bomba no chão, o que assustou o Kratos, que se inclinou mais do que o costume e eu acabei caindo do cavalo, que saiu correndo sem rumo. "Foi só elogiar e isso me acontece", pensei. Levantei com dificuldade e encarei aqueles homens.

— Olha só quem encontramos: Maya, a Invencível — um deles disse.

— E deixa eu adivinhar: querem me levar com vocês — falei.

— Exatamente. Vai ser de muita utilidade para o exército de Fount.

Fount. Aquele nome fez estremecer todas as barreiras que eu construí por anos. Meu estômago embrulhou com as memórias daquele lugar.

— Eu nunca vou servir a Fount — falei com a força do ódio.

— Por quê não? Você pertencia a nós. Não acha que deveria voltar, pestinha?

— Nunca pertenci àquele lugar. — Cerrei os punhos. — Não vão me levar.

— Já vi que não vai por bem, então vai vir por mal.

Aqueles homens fizeram uma roda e todos vinham lentamente em minha direção. Eu sabia que não ia conseguir ganhar se todos me atacassem de uma vez, então precisava de uma estratégia melhor. Eu estava deixando a raiva me dominar e aquilo ia me matar, então resolvi me render. Seria mais fácil derrotá-los em algum momento de fraqueza. Eu só precisava atrasá-los um pouco.

— Vai ser assim na covardia? — falei e apontei para todos.

— Queremos você a qualquer custo.

Respirei fundo. Eles estavam cada vez mais próximos e eu já tinha um plano desenhado na mente.

— Ok, eu me rendo — falei. — Não vou lutar com vocês.

Os caçadores riram.

— Pensei que seria mais difícil. Não é que a pestinha vai voltar pra suas origens? — o que parecia ser o chefe disse.

"Pestinha é você", pensei. Naquele reino horrível, os fountianos chamavam os escravos de pestinhas. Ou seja, fui chamada constantemente daquilo quando era pequena e odiava. Apesar da raiva ferver dentro de mim, larguei a minha espada e levantei as mãos em rendição para começar a minha encenação.

— Estenda as suas mãos — um cara, o mais fraco fisicamente, disse.

Fiz o que ele pediu. O universo parecia estar ao meu favor, pois ao invés de amarrar as minhas mãos pelas costas, ele me prendeu pela frente. Ou seja, eu teria uma boa base para enfrentar aqueles caras na hora certa, mesmo com as mãos amarradas. Depois de recolherem todas as minhas armas, começamos o caminho para Fount. A entrada para Hekser já estava próxima e eu não queria me distanciar tanto. O universo pareceu me ouvir mais uma vez e tive uma boa oportunidade para botar o meu plano em ação. Ainda perto de Hekser, o chefe parou e disse:

Meu Lugar - A Coroa & A Espada IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora