III - Quem é Olga?

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Senti a alma voltar aos poucos para o meu corpo e tentei abrir os olhos, mas as minhas pálpebras estavam pesadas e não me obedeceram. Parecia que havia um grande peso sobre o meu corpo e eu não conseguia me mexer. Respirei fundo, tentando me conectar com qualquer coisa que me fizesse acreditar que eu não havia morrido. Concentrei a minha atenção nos barulhos ao meu redor e percebi que uma chuva forte caía, então a minha única certeza era de que eu estava protegida em algum lugar. 

Com muito esforço, consegui abrir os olhos e percebi que estava em alguma casa ou cabana de madeira. Aquela sensação de peso foi passando e consegui erguer a cabeça para olhar em volta. Realmente era uma casa de madeira e havia uma lareira, uma mesa com tigelas e livros, duas cadeiras e uma outra cama. Como eu não estava amarrada, vi aquilo como um bom sinal. Toquei no meu abdômen e percebi que havia uma faixa ali. Conclui que quem tinha me encontrado salvou a minha vida. Eu só queria saber se isso era bom ou ruim.

Fiquei um tempo deitada, esperando as minhas forças voltarem. Tinha esperanças de que a pessoa que me salvou entrasse naquele quarto, sala, sei lá, mas não aconteceu tão cedo. Queria levantar e vasculhar o ambiente para descobrir quem morava ali, mas algo me dizia que, quem quer que fosse, não era uma pessoa ruim. Desde que perdi a memória, a minha intuição pareceu ficar mais aguçada, então aprendi a confiar.

Quando menos esperava, ouvi um barulho de uma porta se abrindo e logo apareceu uma mulher no quarto. Ela parecia ter uns 45 anos, era alta e veio na minha direção com um sorriso alegre, além de estar toda molhada por causa da chuva.

— Você tá viva, graças a Olga — ela disse e levantou as mãos para o céu.

"Quem é Olga?", pensei, mas não consegui dizer porque a minha garganta estava seca demais e só de pensar em falar já queimava de dor.

— Bom, garotinha, do que se lembra? — ela perguntou e se agachou ao lado da cama.

— Eu... — Minha voz saiu muito baixa e quase chorei de dor na garganta.

— Hum. — Ela coçou o queixo. — Acho que você precisa de água.

Assenti quase desesperadamente e a mulher saiu do quarto. Ouvi barulhos que pareciam panelas se mexendo e logo ela voltou com um copo e me entregou. Eu estava com muita sede, então virei o copo sem nem pensar nos perigos e quase cuspi tudo quando percebi o gosto diferente, mas a senhora me explicou:

— É um chá pra te ajudar a recuperar as forças mais rápido. Tenho certeza de que vai conseguir falar agora. — Ela sorriu de orelha a orelha e eu resolvi beber todo o conteúdo do copo. — Está melhor?

Por incrível que pareça, senti uma espécie de arrepio da cura passar pelo meu corpo e as minhas energias pareceram se restabelecer. Foi estranho, mas deu certo.

— Sim — respondi e até consegui sentar na cama.

— Que ótimo! — Ela bateu palmas e seus olhos brilharam. — Pode responder a minha pergunta agora?

Algo no olhar daquela mulher me deixava curiosa. Era uma sensação parecida de quando conheci os trigêmeos de Hekser. Como eu sabia que estava correndo perigo por onde eu passasse, resolvi tentar descobrir um pouco mais sobre ela.

— Primeiro, quero saber quem é você — falei. — Por que eu te contaria o que aconteceu quando nem sei seu nome? — Cruzei os braços e arqueei uma sobrancelha.

— Ah claro, que falha da minha parte. Fiquei tão empolgada que esqueci de me apresentar. — Ela deu uma risada alta, buscou uma cadeira e se sentou ao meu lado. — Sou Olga. — "Então essa é a Olga", pensei. — Já fui uma bruxa de Hekser, mas fui expulsa porque me acusaram de usar magia de forma errada. Só estava me defendendo, mas isso não vem ao caso.

Meu Lugar - A Coroa & A Espada IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora