IV - Acho que você é uma de nós

248 30 5
                                    

Comecei a andar pela floresta. Pelo que Olga havia me contado, Hekser não estava muito longe. No caminho, tive uma surpresa: Kratos estava em uma árvore comendo maçãs.

— Ei, garoto. Valeu por me abandonar — debochei e ele relinchou.

Apesar de tudo, fiquei feliz por ver que ele estava bem. Fiz carinho em seu pescoço e montei nele. Isso fez a minha viagem ficar bem mais rápida e logo comecei a ouvir a melodia da floresta. Olhei em volta e vi a árvore com a vela que precisava acender para ir ao encontro dos trigêmeos. Não sabia se aquela fumaça verde ia aparecer de novo, mas pelo menos sabia de seus efeitos. Só tinha medo do que veria.

Peguei os palitinhos, esfreguei na folha e acendi a vela. Prendi a respiração por impulso, mas não havia sinal da fumaça alucinógena. Conclui que só fizeram aquilo da primeira vez porque queriam nos fazer ver coisas.

— Olha só quem voltou — Asther disse e dei um pulo, pois ela me assustou.

— Você não me deu outra escolha. — Virei-me para olhá-la. — Quero respostas.

Asther sorriu e começou a andar na minha direção. Quando chegou perto, percebi que os seus olhos tinham a cor cinza, diferentes do marrom escuro da última vez.

— Fico feliz que veio buscar respostas — ela disse. — A princesa não pareceu muito animada com a ideia. O que aconteceu entre vocês?

Engoli em seco. Asther falou como se soubesse sobre os sentimentos da princesa.

— Nada de mais. Ela entendeu que eu precisava vir em busca do meu passado.

— Entendi. — Ela passou a mão no cabelo. — Bom, agora que tá aqui exclusivamente pra essa nova missão, pode contar com a minha ajuda. — Asther estendeu uma mão para mim. — Vamos pra casa e eu te explico tudo.

— Nem me conhece direito e quer andar de mãos dadas? — perguntei na brincadeira e fiz Asther rir.

— Não seria um problema pra mim. — Ela piscou.

Asther tinha um charme único e sabia bem como usá-lo. Além disso, aqueles olhos tempestuosos pareciam me hipnotizar. Não aguentei e segurei a sua mão. Na verdade, uma parte de mim queria saber se teria aquele efeito do arrepio de novo, mas isso não aconteceu. Eu precisava perguntar sobre aquilo, mas primeiro queria ouvir o que ela tinha a me dizer. Então, andamos de mãos dadas por um tempo até que chegamos na cabana.

— Meus irmãos saíram pra caçar, então temos um bom tempo sozinhas — Asther disse assim que atravessou a porta.

— Ótimo porque eu quero saber muita coisa.

Ela riu e pegou dois copos. Depois, apareceu com uma garrafa.

— É um vinho artesanal feito por mim — ela explicou. — Guardei para alguma ocasião especial e acho que chegou a hora. Afinal, Maya, a Invencível está aqui. Quer um pouco?

Aquele apelido da caçada estava me irritando e me deixando desconfiada com todos que cruzavam o meu caminho.

— Como sei que não quer… me envenenar ou sei lá? — perguntei e arqueei uma sobrancelha.

Asther deu uma risada alta.

— Maya, eu não quero te fazer mal. Pode ficar tranquila. — Ela tocou o meu ombro e senti aquele arrepio da verdade. — Sabe que podíamos ter matado a princesa e todos vocês daquela vez, mas nós ajudamos, certo? Ela achou os pais?

Assenti e tentei respirar. Aquela sensação do toque dela era estranha, mas era como uma indicação de que ela estava sendo verdadeira. Era para eu acreditar na minha intuição, sentido, ou sei lá o que?

Meu Lugar - A Coroa & A Espada IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora