XVII - Só seja sincera

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No dia seguinte, não tive como escapar dos meus filhos. Então, sentei com eles no jardim e comecei a contar o que tinha acontecido. Fiz um breve resumo e disse que ele estava em um lugar melhor do que aquele mundo cheio de guerras.

— O papai não vai voltar? — Tony perguntou com os olhos cheios de lágrimas.

Respirei fundo e senti o meu coração se despedaçar ao ver o olhar triste do meu filho.

— Não, meu amor — consegui responder. — O papai não está mais entre nós.

Madelyn e Anthony eram muito apegados ao Thomas. Eles começaram a chorar e eu os abracei. Alice não parecia entender muito bem o que estava acontecendo, mas ela se juntou ao abraço. Fiquei o dia inteiro com eles, tentando amenizar a dor que estavam sentindo. Eu também estava triste, mas precisava ser forte pelos meus filhos.

— Cadê a Maya? — Madi perguntou em algum momento.

— Eu não sei exatamente, mas por quê essa pergunta? — Fiquei curiosa.

— Ela é legal. O Jordan também — minha filha respondeu e eu dei um leve sorriso. — Ela vai ficar?

— Acredito que sim.

Madelyn sorriu e o meu coração ficou quentinho. Era bom saber que ela gostava da Maya. Anthony e Alice também pareciam gostar muito da minha antiga guarda.

Um ano se passou. Pelas leis, eu poderia escolher um novo pretendente para casar, pois o tempo de luto pela morte do companheiro era um ano. Eu ainda não tinha planos para um novo casamento e também não via ninguém digno da coroa. Então, fui levando a minha vida daquele jeito: solteira, focada nos meus filhos e no reino. Meus pais providenciaram um lugar para Maya no exército, Jared começou a estudar para ser professor, o que achei incrível, e Archie descobriu um novo talento: ele era um ótimo cozinheiro e virou um dos nossos aprendizes. Tudo estava caminhando muito bem, inclusive para Solder, que em um trabalho conjunto com os voluntários de Sthorm conseguiu construir lugares para tratar os doentes. Nossos médicos ensinaram várias técnicas e Solder se desenvolvia aos poucos, mas eu tinha certeza de que seria um grande reino no futuro.

Mais alguns meses se passaram. A cobrança para escolher um novo companheiro crescia por parte do Conselho e os meus pais tentavam atrasá-los. Quando ouvia as indiretas daqueles senhores (para não chamar de outra coisa), só conseguia lembrar da conversa que tive com a minha mãe sobre os meus sentimentos pela Maya e eu tinha uma vontade enorme de conversar com a minha guerreira sobre nós. Nos primeiros meses sem Thomas, Maya foi o meu verdadeiro porto seguro, que enxugou as minhas lágrimas, que me fez rir, que me ajudou com as crianças e que com certeza foi uma pessoa fundamental para que eu voltasse a me sentir confiante para retomar as minhas posições no reino. Com o tempo, a nossa rotina foi ficando mais corrida e passei a vê-la menos, mas sempre que nos esbarrávamos pelos corredores, as trocas de olhares eram intensas e eu sentia em cada veia do meu corpo o amor que eu sentia por ela. Maya era o amor da minha vida e eu não tinha dúvidas disso. 

Em uma das minhas reflexões sobre amor, resolvi que lutaria por tudo o que sentia pela Maya. Não queria mais ser covarde e não fugiria dos meus sentimentos. Esperava que o sentimento fosse recíproco e fui atrás dela.

Comecei a andar pelo castelo em busca da minha amada e acabei a encontrando em uma das salas de equipamentos de luta, perto do centro de treinamento. A porta estava entreaberta e ela parecia concentrada em afiar uma espada. Ela ficava tão linda quando focava em algo. Ainda lembrava das vezes em que a vi lutando e as sensações que aquilo provocava em mim nem podem ser descritas. Resolvi entrar e fechei a porta.

— Difícil te achar nesse castelo, hein? — brinquei e ela riu, deixando a espada de lado.

— Sempre tô por aqui. — Ela deu de ombros.

Meu Lugar - A Coroa & A Espada IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora