Cerimônia de introdução

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Não há diferença de dia e noite no inferno. Passagem do tempo não passa de uma contagem inútil, um desperdício de trabalho e foco no que realmente era importante. A única certeza que se tem no inferno é o fogo. Sempre há e sempre haverá fogo, fogo e fogo. Estranhamente, mesmo com isso em mente, os habitantes do inferno sempre pareciam saber que horas são, seja referindo-se à própria hora ou o momento do dia. Era assim que Damien sabia que acordava todos os dias quando o sol nascia na Terra. Ele não tinha como saber que o sol nasceu lá, pois não estava lá para ver, mas ele sabia.

O que ele realmente não tinha como saber era o que era o peso sobre seu corpo ao despertar.

Movimentou-se na cama antes de abrir os olhos, o fogo refletido na janela falhando em chegar a seus olhos devido às cortinas muito bem fechadas frente ao vidro. Não conseguia se colocar em uma posição perfeitamente confortável por ter os movimentos restritos, pelo menos em metade do corpo. Tentou virar, não conseguiu. Tentou erguer o braço, não conseguiu. Tentou mexer a cabeça para o lado e algo caiu em seu nariz, algo macio, e espirrou. Movimentou a cintura para cima, tentando curvar as costas, e ouviu um gemido baixo perto do ouvido. Estremeceu, chocado com o ar quente em sua pele e o som prazeroso captado por sua audição. Só então seus olhos abriram, e não demorou muito para que ele percebesse Pip jogado em cima dele, ar entrando e saindo de seus lábios separados, o corpo subindo e descendo com as respirações e a cabeça repousada em seu ombro, como se fosse o travesseiro mais confortável em que já tivesse repousado.

Puxando o corpo do loiro pela cintura, Damien pressionou um beijo em sua testa e afagou seu cabelo com a ponta do nariz. Seus cabelos cheiravam como shampoo e sexo, uma fragrância que ele quase esqueceu o quanto amava de sentir. Mas também, ele amava tudo que vinha de Pip, então era um tanto tendencioso que pontuasse certos aspectos acima de outros. Se fosse ele, Damien já ficaria feliz.

Por um segundo, o anticristo teve a quase certeza de ouvir Pip sussurrar seu nome, pouco antes de abrir os delicados olhos azuis e deslizá-los pelo quarto. Pouco a pouco as pupilas pretas subiram pela cama e encontraram-se com os de Damien, que já o encarava há algum tempo. Os lábios do loiro curvaram-se em um pequeno sorriso e, ao suspirar, acomodou a cabeça melhor no ombro do anticristo.

- Bom dia. - murmurou contra a pele debaixo de si, depositando um suave beijo sobre a mesma.

Esticando uma mão para acariciar a bochecha de Pip, Damien soltou um suspiro e aproximou seus rostos. Agora ele roçava o rosto de Pip com o seu, suas respirações se misturando uma com a outra, tão perto e ao mesmo tempo tão longe.

- Você ainda está aqui. - ele sussurrou com um roçar de lábios na bochecha do amante.

Foi a vez de Pip erguer a mão, colocando-a sobre a de Damien e entrelaçando seus dedos. Pendeu a cabeça para o lado e esfregou o rosto na palma da mão. Seus olhos não o deixaram por um único segundo.

- Eu disse que não iria te deixar, não disse?

Pip arquejou baixo ao ser puxado por Damien para esmagar seus lábios nos dele e não tardou em ceder, os braços subindo para se apoiarem nos ombros de Damien e usar deles para o puxarem para mais perto.

Apesar do bafo deixar o beijo um tanto enjoativo, nenhum dos dois estava com cabeça para pensar nisso agora. Tudo que os importava era o contato e o calor que preenchia seus corpos a cada segundo que passavam com as mãos um no outro.

Damien tomou impulso e virou Pip na cama, prendendo-o debaixo dele e segurando seus pulsos em suas mãos. Apertou o passo do beijo e deixou a língua deslizar para dentro da boca dele, sendo encontrada com outra em uma dança viciante e sedutora, da qual nenhum dos dois tinha a chance de escapar ao começar. O anticristo chupava os lábios de Pip com gosto por ouvi-lo gemer com os movimentos e suspirar ao separarem para engolir o ar. Deixava muito difícil manter o autocontrole e resistir à atacar o outro sem dó nem piedade.

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