Pip despertou com as asas esparramadas na cama de Damien e a cabeça caindo para fora da cama. Estava vazia, mas permanecia quente como se o próprio Damien estivesse ali.
Com um suspiro, Pip se levantou da cama e foi fazer a rotina matinal para então descer. O castelo estava quieto, exceto pelo som do fogo, e Pip deduziu que Damien ainda não havia voltado.
Desceu ao primeiro andar e foi para a cozinha, onde encontrou seu café da manhã quentinho esperando por ele. Calor permanente, como Damien colocava em toda comida que servia antes da hora, quando Pip ainda dormia enquanto ele acordava.
O anjo sorriu e se sentou à mesa, consumindo as panquecas frescas que seu amado deixara especialmente para ele. Ele não sentia um gosto bom assim descer por sua garganta faz tempo, por não precisar comer para sobreviver. Sequer estava vivo!
A porta da cozinha abriu de repente, quase dando um susto do loiro, e Damien entrou coberto de sangue, e Pip tinha certeza de que era um pedaço de tripas caindo por cima de seu ombro.
- O último demônio caiu. A guerra está encerrada. - declarou ao entrar. Em dois passos, sua roupa estava limpa de novo e ele se colocava diante de Pip para beijar-lhe os lábios.
- Então todos estão mortos?
- Sim.
Pip assentiu e fechou os olhos para receber mais um beijo de Damien. Em seu interior, o coração pulava de nervoso, pois agora que tudo estava feito, significava que eles colocariam o plano em prática.
Damien e Pip estiveram discutindo sobre isso há algum tempo, mas finalmente entraram em um consenso. Eles começariam um universo novo. Com tudo o que aconteceu, decidiram que uma mudança de ares seria melhor, começar do zero. Além do que, para Damien, era uma questão de princípios. Ele não gostaria de criar um mundo novo em cima de tanta história criada por outras pessoas, parecia sujo. Mesmo que fosse usar dos mesmos elementos que aquele mundo para criar o seu, simplesmente não parecia certo. Eles queriam fazer suas próprias histórias, sem trilhar um caminho pré-determinado para eles como foi naquele mundo. Queriam um lugar para chamar de seu. Um lugar que não estivesse atrelado a memórias tão dolorosas. Um paraíso, construído apenas para Damien e Pip.
Damien desgrudou dos lábios de Pip e o encarou apreensivo. Dentre os dois, ele é quem mais demorou para concordar com o plano, pois havia muito que aconteceu naquele mundo que os mudou completamente.
- Sabe que teremos que deixar tudo para trás. Para onde vamos, não existirá nada, e não podemos levar nada daqui. Seremos apenas eu e você.
Pip assentiu e entrelaçou os dedos com os dele.
- Eu sei disso, meu amor; mas está na hora de deixar esta realidade para trás. Pararmos de viver histórias planejadas para nós e criarmos nossas próprias.
Damien arqueou a sobrancelha.
- Pensei que fosse se doer mais por ter de deixar tudo para trás.
- O tempo que passamos aqui foi muito precioso, e eu para sempre carregarei essas memórias no meu coração, quer eu as lembre conscientemente ou não. Sentirei saudade, com certeza, mas entendo a necessidade de partirmos.
- Nesse caso, acho que apenas resta nos despedir.
Pip engoliu em seco e assentiu.
Saíram do castelo e caminharam até a caverna onde os Hellhounds moravam, que agora era bem menos habitada que antes.
Com a ausência de almas pelo inferno, eles não tinham de ter preocupação com nada, pois ninguém os faria mal. Boris, Trevor e Brutus decidiram deixar os filhotes explorar um pouco, e Damien garantiu que nenhum deles se afogaria nos mares de lava. Eles passaram os últimos dias se divertindo brincando uns com os outros, sem nenhuma preocupação com nada, e Pip sempre assistia do topo do castelo, as asas ansiando para juntar-se a eles.
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Dez Mil Anos
FanfictionPara impedir que o apocalipse acabasse com tudo e o Inferno vencesse o céu, os anjos firmam um acordo com o anticristo e o oferecem o que ele quiser em troca do fim da guerra. E Damien sabia exatamente o que, ou melhor, quem, ele queria.