Caça às Bruxas

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Millrose tinha que avisar sua filha que Scarlet havia sido sequestrada pela besta.

Era tudo o que podia pensar naquele momento.

Ela não se importava com o que aconteceria a ela caso o povo de Blackrwby a visse. Era a sua netinha afinal de contas. Se não fosse por Scarlet, Millrose não saberia como teria sobrevivido todos esses anos isolada na floresta. Não apenas lhe trazendo suprimentos e guloseimas, mas lhe dando um propósito para continuar viva.

Com seus quase setenta anos, ela já estava muito velha para querer continuar viva, todo seu corpo doía e sua vista, audição e dentes já não eram mais os mesmos. Assim como sua aparência. Não havia espelhos na floresta, mas ela sabia o que os anos haviam lhe feito. E ela estava mais do que consciente que parecia a bruxa que a vila a acusara de ser.

Mas não ligava mais.

Ela já havia vivido o que tinha para viver.

Agora só restava garantir que sua neta conseguisse isso também. Garantir que ela vivesse tanto até que não ter mais nada para não morrer.

O xerife Ruff tinha uma dor de cabeça. E, em seu normal sabia que não era uma pessoa agradável, mas quando estava com dores, seu temperamento piorava.

Ainda mais quando tinha que lidar com o conselho dos anciões numa reunião de emergência. O Tribunal estava lotado, parecia a ele que toda a cidade estava ali e todos eles falavam ao mesmo tempo, gritando para serem ouvidos por cima uns dos outros. Era uma cacofonia que estava pondo seus nervos a prova, principalmente pelas coisas ridículas que lançavam.

Olhando por cima do ombro ele conferiu Feather novamente, ela estava sentada estoicamente no banco dos réus, com as mãos cruzadas no colo e a cabeça erguida para a multidão. Ruff jurara não deixar nada mais machucá-la e queria que ela ficasse dentro de sua casa, mas isso, ele não poderia evitar. Ainda mais quando dúzia de seus próprios homens vieram a sua casa e, se não ele fosse o próprio xerife, ele não teria conseguido conter os homens de arrastarem Feather pelas ruas de Blackrwby pelos cabelos e, que Deus o livrasse, fazerem algo pior.

- Você está bem? – Ruff perguntou a Feather. Ela estava tão pálida mesmo estando tão firme.

- Não, xerife. Eu não estou.

Seus lábios estavam pressionados tão firmes que haviam perdido quase toda a cor. Então o xerife Ruff percebeu. Aquilo que estava mantendo Feather firme diante de uma multidão que gritava a plenos pulmões contra a sua família, que a julgavam e desejavam vê-la queimar. Aquilo que brilhava em seus olhos verdes como um brilho do fogo de uma promessa. E aquele era o brilho da raiva, da revolta, da injustiça. O tipo de fogo que traz vingança, mas também dor e destruição. O exato tipo que Ruff Ghastlybear queria protege-la de ter.

Isso aumentou sua própria raiva contra aqueles que queriam fazer mal a Feather e sua família.

Ele postou-se firmemente entre Feather e a multidão no exato momento em que o juiz Gerald Heraldier entrou no recinto e estabeleceu-se no palanque. Mesmo com sua chegada, as pessoas não se calaram, ao contrário, aumentaram o barulho querendo que sua voz, sua vontade, fossem ouvidas por cima das outras. O juiz Heraldier, já estressado pelo barulho do povo sacodiu seu martelo fortemente contra a mesa. Pouco a pouco o barulho foi diminuindo para um pequeno escrutínio.

- Agora, devo lembrar aos senhores e as senhoras que este é um local de respeito. Sendo assim, calem-se até segunda ordem! – ao latir sua ordem saliva espirrou de sua boca, mas ninguém, a não ser Jimmy Flouri, a criança intrometida de sete anos que se encontrava embaixo do palanque, fora atingindo.

Até que o Sol caía do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora