E Seu Amor Duraria...

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Gritos de horror tomavam a cidade. O lobo lutava contra os homens, feroz e incansável. Para o animal, que apenas queria chegar a sua companheira, os humanos eram a pior espécie e mereciam a morte. Para os homens, que estavam se lançando à morte para proteger suas mulheres e seus filhos de um destino profano e hediondo, o lobo era a pura encarnação do mal demoníaco e era chegada a hora de se livrarem de sua presença.

O terror estampado nos olhos de uma mãe ao ser incapaz de achar sua filha, parada no mesmo lugar onde viu a criança pela última vez, virando um obstáculo no meio da multidão aterrorizada que corria para se salvar da fúria do monstro.

O grito do homem ao achar sua mulher no chão apanhada pelo sono eterno com a expressão de puro medo estampado para sempre em seu rosto ao descobrir que morreria, não pelas garras do monstro, mas pelos pés de seus amigos que fugiam e a deixavam para trás.

Dor daqueles que perderam alguém sendo ouvidas através do lamento alto gritado através do medo. Gritado através da fúria dos que se levantam e pegam suas armas para matar aquilo que lhes foi ensinado que era o mal.

Ela não soube o porquê, mas naquele momento observou as delicadezas da própria mão ao tocar no vidro poeirento da loja de tecidos. Aquela mão trabalhou sua vida toda em ervas e poções de cura. Aquela mão ajudou sua mãe. Aquela mão abraçou sua avó. Acariciou crianças. Mas, acima de tudo, foi aquela mão que tocou e amou Mahkay, o Monstro de Blackrwby.

Scarlet Cirscurium podia odiar, podia falar, mas ela nunca realmente desejou uma chacina. Principalmente não queria que seu companheiro fosse o responsável por tal ato. Ela estava preocupada com ele, com sua família, mas também estava preocupada com as crianças. Haviam muitas delas escondidas ao redor da praça curiosas para verem a "bruxa" que cuidava e brincava com eles dias antes.

Não importava seu ódio para os adultos, Scarlet não podia mais deixar que essa guerra continuasse. Para o bem dela, de seu companheiro, de sua família e de todos que um dia já conheceu. Ela não podia deixar que tudo terminassem em um lago de sangue.

Não podia e não iria.

Feather olhava para sua filha, reparando que ela já não era mais a menina que havia mandado se esconder na floresta. Sua filha olhava para toda a situação com a cabeça erguida e olhos endurecidos e prontos para luta. Scarlet estava agindo como uma vez Feather agira ao descobrir que não podia mais fugir de suas responsabilidades.

Tristeza encheu seu coração, pois, para Feather, que lutara por todo esse tempo para que Scarlet não sofresse o que ela sofreu, a dureza no olhar de sua filha era pior que tudo o que estivesse acontecendo com todos de Blackrwby no momento. Pois ali, ela viu os sonhos de menina de sua filha ruírem para darem espaço a determinação e aos deveres de uma mulher.

Mas não apenas uma mulher, mas de uma Cirscurium.

Kayo segurou a pequena criança em seus braços e a tirou do caminho da carroça que descia, sem nenhum animal ou carroceiro no controle, em chamas pela rua. O menino chorava e se agarrava as bordas de sua capa. Kayo olhou de um lado a outro em busca dos pais do menino, mas estava uma confusão por ali. Ele já não se encontrava mais na praça, porém ainda podia ouvir os gritos dos homens e os rugidos da fera.

Uma mulher chorosa surgiu de repente em sua frente e arrancou o menino de seus braços, correndo logo em seguida para longe. O coração do rapaz se apertou de medo por sua noiva e por sua mãe. Ambas, mulheres muito frágeis. Ele voltou a correr em direção a sua casa, rezando para que as encontrasse vivas e bem.

De repente o corpo de Scarlet tencionou, seus olhos estreitaram quando ela se virou para a porta de entrada. Feather e Millrose reparam nos gestos estranhos de Scarlet. Millrose voltou sua atenção para o caos fora da loja.

Até que o Sol caía do céuOnde histórias criam vida. Descubra agora