Cartas

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Ao olhar pela janela, visualizo um rio próximo de nós.
- Pedro - o chamei.
Ele olha para mim rapidamente.
- Podemos parar próximo ao rio? - perguntei.
Ele afirmou com a cabeça.
- Podemos sim, posso te perguntar o motivo?
Eu olhei para ele, olhei para a janela novamente e fui em direção ao caderno que tínhamos ali com nós.
- Eu quero escrever uma carta - expliquei.
Eu queria colocar todos os meus sentimentos para fora. Escrevendo era a forma de poder me conectar comigo mesma e desabafar ao mesmo tempo. Eu precisava escrever, só que, quando eu escrevo algo como por exemplo uma carta, eu não consigo guardar a mesma comigo. Normalmente, eu pego e jogo no mar, no rio ou coloco fogo.
- Nós podemos parar próximo ao rio se você quer Arabella - Pedro disse enquanto olhava direto para a estrada sem virar para mim.
Durante a viagem até o rio peguei uma caneta e comecei a escrever a carta.

09 de agosto.
Talvez aqui não seja o melhor lugar para eu estar agora. Eu só queria que tudo ficasse bem dentro de mim, meus sentimentos estão confusos, eu estou com um bloqueio que eu não sei lidar. Eu estou viajando com uma pessoa que me atrai, que confiou em mim desde o começo mesmo sem me conhecer. Eu sei que vai ficar tudo bem e que um dia eu vou encontrar essa carta por aí e vou entender que tudo que aconteceu teve um propósito.
Talvez, quando eu encontrar essa carta, eu esteja compreendido o que é o amor, o que são esses sentimentos presos e perdidos dentro de mim, quem sabe eu já esteja em casa, ou não...
Como Alex Turner disse em sua canção Fluorescent Adolescent "Caiu em uma crise bem comum
Tudo está em ordem em um buraco negro
Mas nada parece tão bonito como o passado".
Com carinho,
Arabella.

Pego a garrafa de vidro que estava próximo a mim, enrolo a carta que escrevi e coloco dentro da garrafa vazia.
- Estamos chegando? - Perguntei.
Pedro afirma com a cabeça que sim.
- Vou só parar um pouco mais à frente e já poderá descer.
Após alguns minutos, estacionamos e conseguimos descer.
Tinha muito vento, estava muito frio mas o céu estava sem nuvens e o sol dava o seu ar da graça.
- Eu vou jogar essa carta no rio - Expliquei enquanto me aproximava do rio.
Ele olhou para mim sem entender e disse:
- Eu posso ler antes de você jogar?
Eu neguei. Eu não queria que ele soubesse que eu estava perdida em mim mesma, essa carta era muito pessoal. Eu preferi só assentir que não e continuar caminhando.
Ao chegar perto do rio me agachei e joguei a garrafa com o papel dentro.
- É algo muito pessoal escrever - comentei enquanto a garrafa se distanciava conforme o sentido do vento - Quando eu quero desabafar eu escrevo cartas.
- Você pode conversar comigo - Pedro disse enquanto colocava suas mãos no meu cabelo que estava um pouco bagunçado por culpa da ventania.
Eu sorri. Sabia que ele queria ajudar mas eu não era boa com palavras, eu preferia colocar tudo no papel.
- Eu sei que você está comigo, eu sinto isso, só que eu prefiro organizar alguns pensamento comigo mesma - Expliquei enquanto levantava - Podemos ir.
Ele se aproxima de mim, colocando sua outra mão em meu rosto e olhando dentro dos meus olhos. Seus lábios eram carnudos e seu cheiro era o meu favorito.
Não conseguia prestar atenção em mais nada, meus olhos estavam em sincronia com os olhos dele e então nos beijamos.

ArabellaOnde histórias criam vida. Descubra agora