Capítulo 2

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Ficamos na casa da árvore até cinco e vinte e oito da manhã, Eleanor decidiu dormir no único colchão de casal que havia, peguei minha mochila e coloquei minha bota preta.

Eu e Gregório saímos discretamente da mata nos deparando com uma avenida vazia, atravessamos a rua para chegar no estacionamento onde Gregório tinha estacionado seu carro estilo anos 70.

Esperei ele entrar no carro para partir.

- Amanhã eu aviso a data da festa - Ele se inclina para frente arrumando o banco do carro.

Eu confirmo com a cabeça e aceno com as mãos após ele ligar o carro e segui em direção à rua vazia.

Coloquei meu fone de ouvido, selecionei ordem aleatória e começou a tocar " Do I wanna Know" o hino de Arctic Monkeys.

Caminhava ao ritmo da batida da música naquela cidade fantasma.

Sou uma amante de Indie / Rock, que por coincidência Alex Turner dedicou sua música para mim " Arabella ".

Havia um trecho da música "Arabella tem uma cabeça dos anos 70 mas ela é uma amante moderna". Esse trecho eu me identificava. Eu sempre gostei dos anos 70, sempre comento que nasci na década errada. Minha paixao pelas músicas, moda e cinema desta década inesquecível são minhas paixões.

Continuava a caminhar, meu pé esquerdo pisava no quadrado preto da calçada e o direito no quadrado branco.

Em frente à nossa casa não havia mais o tumulto de reportes, o jardim estava vazio. Acabei pulando o muro do quinta e caindo no gramado.

Pulei a janela de meu quarto, fechei as venezianas e então cobri o vidro com a cortina escura.

Troquei de roupa e então me joguei na cama adormecendo rapidamente.

8h30 min.

O som alto fez eu acordar contra minha vontade, mesmo ainda meio sonolenta, consegui identificar a música do Guns N' Roses "Sweet Child O' Mine".

Levantei da cama, destravei a porta e fui até o quarto de Charlie, meu irmão mais novo. Bati na porta três vezes mas por culpa da música alta ele não ouviu.

Desci as escadas e ouvi os gritos de minha mãe no telefone, ela dizia " É claro que vamos" e soltava uma risada forçada " Não iremos desperdiçar um convite desses".

Logo em seguida entre mais sorrisos forçado ela desliga.

- Bom dia Arabella - Ela me cumprimenta entre risos - Tenho planos para nosso fim de semana.

Ela vai até a cozinha pega uma maçã dá uma mordida e então dá continuidade à sua notícia.

- Temos uma janta na casa do Prefeito da cidade vizinha.

- Não vou - Falei interrompendo seus planos.

Sabia que minha mãe ia continuar insistindo para eu ir, ela queria passar a imagem da "família feliz" para os Forchammer. O único problema é essa não era a verdade. Eu estava cansada de viver entre mentiras.

- Já está na hora de colocar um ponto nessa situação - Disse após sentar-me na poltrona que havia no canto da cozinha.

- Não entendi o que você quis dizer Arabella - Ela volta a mim.

- Você não aceita a realidade, eu e Charlie não somos o que você tenta nos forçar a ser, temos nossas personalidades diferentes mas você não aceita, meu pai está com a Roberta e todos já sabem, não existe mais a palavra família - Eu pauso por um instante - Acabou, entenda.

Ela fica em silêncio, apoiada no balcão da cozinha mastigando a maçã lentamente com o pensamento distante.

Percebo que não havia mais o porquê continuarmos o assunto, resolvo me retirar.

A aula de álgebra tinha costume de me entediar, Eleanor cutucou meu ombro e me alcança um papel escrito "Quero sair daqui "

Eu pego minha caneta preta e a respondo " Eu também " e a entrego.

Logo em seguida a aula tinha acabado, faltava mais três períodos de aula mas eu e Eleanor resolvemos gazear, acabamos indo para a casa da árvore.

- Eu não vejo a hora de meus olhos sentirem a beleza de Petter Connor o guitarrista mais gato de todos os guitarristas do mundo - Ela diz ao se deitar no colchão.

- Prefiro o vocalista - Digo ao ligar um cigarro - Ele é mais atraente - admito.

Ela sorri e então tira uma chave de seu bolso.

- Olha essa beleza de chave - Ela fica  brincando com a chave entre os dedos - Elas são as chaves mais incríveis que eu já vi.

- Por que? - Eu pergunto.

Ela sorri e me entrega a chave.

- Pegue, é o nosso presente.

Observo a chave comum igual a todas as outras e continuo sem entender.

- Arabella essa chave é do quarto que Os Vespas iram ficar na festa do Gabriel - Ela diz indo até a pequena janela que havia na casa - Após o show eles iram ir para o quarto de hóspedes do Gabriel, ouvir ele dizer isso na aula de Biologia, então peguei seu chaveiro que estava em sua mochila e roubei emprestado a chave - ela diz sorrindo.

Eu largo uma fumaça e então a digo.

- Essa chave é completamente valiosa Eleanor, ninguém pode saber da existência dela em nossas mãos.

- Muito menos Gregório - Ela completa - Ninguém irá saber.

Colocamos " Crazy after midnight " uma das nossas músicas favoritas deles e então aumentamos o som e começamos a cantar de dançar loucamente em cima do colchão que ocupava a maior parte do chão.

Logo quando a música acabou, deitamos no colchão com a respiração ofegante.

- Quero tocar essa música com a guitarra do Petter - Eleanor diz olhando fixamente para o teto.

- Quero colocar sua jaqueta de couro e sentir seu perfume se adaptando com o meu cheiro - digo.

Escutamos alguém na porta, provavelmente Gregório e então trocamos de assunto enquanto Eleanor guardava a chave em seu bolso.

- Preciso beber - ele diz ao largar sua mochila no canto da casa.

- O que houve? - Eleanor pergunta.

Ele pega uma garrafa de vinho e começa a beber.

- Levei mais um fora da Olívia - ele diz olhando para o chão - Nem ela nem ninguém se interessa por mim.

Gregório era uma garoto apaixonado por Nirvana, tinha seus olhos verdes e seus cabelos bagunçados, com um sorriso fofo. Sempre achei ele bonito, apesar da auto estima dele não colaborar muito.

Ele tinha uma pequena paixãozinha pela Olívia, ela faz curso de inglês comigo, sempre achei ela o oposto de Gregório mas, segundo ele, são almas gêmeas.

- Eu sei como posso resolver seu problema - Eleanor se levanta e se direciona a ele.

Ela se ajoelha e se aproxima de Gregório e então o beija.

O beijo durou por um bom tempo mas Eleanor recuou e então disse.

- Espero que tenha adiantado.

Ele sorri contente, e bebe mais vinho.

Faço-me de despercebida como se aquilo não houvesse acontecido e dou continuidade ao assunto.

- Quando vai ser o show? - Pergunto.

- Sábado - Gregório responde.

- Eleanor, vou dormir na sua casa sábado - avisei e ela concordou com a cabeça.

Provavelmente sábado era o jantar "em família" que meus pais foram convidados, eu não iria ir, por isso precisava dormir em algum lugar.

ArabellaOnde histórias criam vida. Descubra agora