Os dias se passavam e eu percebia que a opção "voltar para casa" não fazia mais parte de mim. Eu gostava de estar com ele, eu gostava do casebre, me acostumei acordar com o sol refletindo na janela, levantando cedo e podendo sair pelas ruas sendo apenas uma pessoa. Sendo eu. Arabella.
Em meio a bagunça daquela casa, encontrei alguns discos antigos e também vários livros que chamaram minha atenção. Passava horas ouvindo canções de Belchior, lendo O retrato de Dorian Gray, um romance filosófico no qual a trama se passa na alta sociedade da Inglaterra do século XIX. O pintor Basil Hallward faz um retrato do jovem Dorian Gray e este tem uma reação estranha quando se vê no quadro. No livro é relatado sobre o fato de por ser extremamente vaidoso, o mesmo se incomoda com o fato de as pessoas envelhecerem e os quadros permanecerem jovens. Com isso, Gray é quem envelhece o retrato e ele permanece o mesmo, jovem e com o mesmo aspecto físico por um longo período. Ele vive uma busca incessante pelo prazer e não se importa que suas ações possam prejudicar os outros.
O fato de eu ter tempo para mim, sem julgamento, sem holofote era uma libertação. Eu sentia falta da minha família e dos meus amigos. Eu sabia que não era certo ter saído sem avisar, todos os dias eu pensava nisso e não encontrava respostas para esse dilema.
Levantei e fui até a cozinha pegar um café para mim. Encontrei ele na cozinha, que por sinal estava fazendo o café.- Pedro - ele diz - Meu nome é Pedro, me chame de Pedro.
Eu fiquei por alguns segundos olhando para o seus olhos que brilhavam com o reflexo do sol. Seu olhar era encantador, seus lábios eram perfeitos. Não conseguia evitar, eu ficava olhando fixamente para ele.
Os nossos olhos se encontraram, e as borboletas no estômago voltaram e pareciam que estavam prestes a ficar ali. Pedro. Ele se chama Pedro, esse sorriso raro e encantador se chama Pedro. Comecei a sorrir sozinha. E me aproximando do balcão da cozinha.- Um belo nome - Comentei enquanto procurava uma xícara.
Ele se direciona a mim, coloca sua mão próximas a minha.
- Eu não quero que você vá - Ele suspira - Quero que você fique aqui comigo.
Eu ruborizo e engulo seco. Não estava preparada para isso, não sabia que ele estava preocupado com isso. Eu não tinha resposta, não sabia o que lhe dizer no momento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Arabella
RomanceSou uma mentirosa compulsiva, não tenho culpa se sou boa nisso, existe uma certa diferença entra a mentira e a personagem que crio para a população de Virgília. Por culpa de meu pai ser prefeito dessa cidade, tenho que ser algo que não sou. Me torno...