A Second Chance - Meddison

Prólogo

A ruiva respirou fundo e cobriu o rosto com ambas as mãos, completamente exausta depois de ficar horas lendo relatórios da empresa, geralmente não se incomodaria de estar fazendo este trabalho, mas seu dia não estava sendo dos melhores e só tendia a piorar. Sentiu isso ao acordar, a leve sensação de que algo daria errado, só não esperava que tanta coisa desse errado. O café da manhã fora desastroso com direito a sua omelete queimada e uma Charlotte furiosa por ter impregnado a casa com um cheiro insuportável de fumaça, depois enfrentou um trânsito infernal sob o sol de Los Angeles atrasada para um reunião importante e conseguiu uma pele dolorosamente vermelha, depois ainda teve que revisar vários erros das filiais, o que continua fazendo até o horário atual, meio da tarde. Como CEO da empresa familiar tinha que ser responsável por cada detalhe da matriz e filiais, por mais que houvesse gerentes cuidando disso, mas ela nunca confiou totalmente em deixar tudo na mão de terceiros, apenas em seus olhos e mente meticulosos. O som das setas do relógio de parede batendo de segundo em segundo se tornaram um sem excruciante, como uma pequena tortura sonora, então quando sua assistente pessoal, e uma amiga íntima, Amelia adentrou a sala e cortou o ar com sua falação ela se sentiu contente por ouvir dez palavras por segundo, apenas para não ter que ouvir aquele barulhinho infernal.

- Hoje sua agenda está cheia, lembre-se que tem que ficar até mais tarde, os dados da filial de Massachusetts serão enviados em breve, não sei porque atrasam tanto, é tão difícil fazer balanceamento do mês? - reclamou a mulher mais baixa e revirou os olhos entregando uma prancheta com alguns papéis aclopados - Charlotte ligou e perguntou se você quer jantar sushi ou italiano, você comeu sushi anteontem, provavelmente seria melhor dar uma maneirada. Mary, dos recursos humanos, está enviando a jovem pré selecionada para o cargo de secretária temporária assim que a Arizona sair em licença maternidade, você fará a entrevista final, pelo que soube a garota é uma neném ainda, nem chegou aos 20 anos.

- Ligue para ela e diga que não irei jantar hoje, tenho reunião com alguns investidores. E como deixaram essa garota passar nas entrevistas?

- Ela deve ser bem competente ou uma boa mentirosa.

- Estou apostando no segundo. - ambas riram e continuaram a conversa informal, não é como se tivessem muito tempo livre fora das portas do escritório, então sempre que podem se reúnem e num dia tão terrível conversar é a melhor forma de distrair Addison, deixar a pilha de papéis sobre a mesa nem que seja por alguns minutos.

E o resto dia foi tão terrível quanto esperado, os balenceamentos foram adiados e o gerente não atendia nenhuma ligação da diretoria, era como se estivesse fugindo das cobranças ou tentando escobrir o fracasso. Sua namorada de anos pareceu não compreender que era uma reunião importante e lhe mandou mensagens furiosas a chamando de vários palavrões e como ela estava sendo egoísta por deixa-la de lado, o que a ruiva não pode contestar sendo uma workaholic, mas achou que a outra mulher a entendia e a apoiava. Agora faltava apenas a entrevista da pré selecionada e não sabe o que esperar, talvez se deparasse com uma vadia completa ou alguém tão auto confiante que beira ao ridículo, muitas mulheres a tentaram seduzir em entrevistas de emprego por saberem de sua posição, poucas vezes foram as que cedeu, a última sendo Charlotte que se candidatou a assistente administrativa mas acabou largando o cargo assim que o relacionamento delas passou dos três meses e agora age e vive como uma socialite, o que não importa para Addison desde que não a incomode.

- A garota chegou. - sussurrou Amelia pelo interfone e a ruiva levantou o olhar para a recepção, que poderia ser vista da sua sala, apesar do outro lado não poder vê-la, como vidros de supervisão ou, em melhor exemplo, os famosos vidros de interrogatórios.

A garota, que ainda não sabe o nome pois não chegou a ler a ficha entregue horas atrás, não parece nada do que esperava, não passando dos 1,65 ela é magra e veste suéter e jeans, algo incomum e tão... Informal para uma entrevista de emprego numa empresa como a dela. Ela possui cabelos ruivos até os ombros sardas espalhadas pelo nariz, olhos suaves e um sorriso tímido, um sorriso que Addison conhece mas não reconhece de quem, por um momento há a leve sensação de deja vu de sua juventude, quando tentou seu primeiro emprego e conseguiu uma entrevista num lugar grande, difícil esquecer dos ombros tensos, o sorriso segurando as feições de preocupação, os pés batendo impaciente no chão enquanto tenta ficar confortável na cadeira, o nervosismo e turbilhão de pensamentos em sua cabeça. Ela teve a sensação de que a candidata estava passando pelo mesmo agora mesmo.